quinta-feira, 25 de março de 2010

O que é o Senso Comum? - 1

«O senso comum, diferentemente das ciências, é uma especialização da inteligência no particular e no concreto. É comum sem ser geral, porque consiste num conjunto de conhecimentos que permanece incompleto, até que se acrescente pelo menos outro conhecimento sobre a situação em causa; e, uma vez passada a situação, o conhecimento adicional deixa de ser relevante, de modo que o senso comum volta imediatamente ao seu estado normal de imperfeição. Assim, o senso comum parece argumentar a partir da analogia, mas as suas analogias desafiam a formulação lógica. (...) Depois, o senso comum talvez pareça generalização; mas uma generalização proposta pelo senso comum não tem o significado de uma generalização proposta pela ciência. A generalização científica visa oferecer uma premissa a partir da qual se podem tirar deduções correctas. Mas, as generalizações produzidas pelo senso comum não tencionam ser premissas para deduções. Comunicam antes indicadores que ordinariamente convém ter presentes ao espírito. Os provérbios estão muito longe de ser princípios e, como as regras da gramática, não perdem a sua validade por causa das suas numerosas excepções. Visam expressar, não o conjunto impecável de conhe¬cimentos que o cientista mantém em todas as instâncias ou em nenhuma, mas o conjunto incompleto de actos de conhecimentos que se requer em cada instância concreta, mas que se toma relevante só após um olhar à volta conseguir os actos de conhecimentos adicionais de que se precisa. Veja bem antes de saltar!

Bernard Lonergan, Insight, A study of human understanding, NY, philosophical Livrary, 1970 (rep.), pp. 175

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