quinta-feira, 28 de maio de 2009

A obra de arte e o absoluto

A arte pode ser a forma, de numa dimensão concreta, numa pintura, numa música, num poema, podermos aceder ou captar o universal: a obra de arte tem na sua singularidade uma capacidade de transcender essa singularidade, representando o universal. O beijo de Rodin, não é só uma escultura que representa dois amantes beijando-se, representa também um beijo terno e abandonado, na sua universalidade. É como se estivesse ali o beijo perfeito, o desprendimento amoroso ideal, tornando-se intemporal e simultaneamente entendível por todos como tal.
Será que quanto mais a obra de arte consegue ultrapassa essa dimensão concreta e representar ideais, universais, sentimentos, mais reconhecida é e mais consensual é?

quarta-feira, 13 de maio de 2009

A mais antiga Vénus - 40 000 anos

o Critério da Falsificação

«A investigação toma como ponto de partida os problemas. Para resolvê-los, há que inventar hipóteses que sirvam como tentativas de solução. Uma vez formuladas, há que comprovar as ditas hipóteses. E estas provam-se extraindo consequências delas e vendo se se ajustam ou não. Se se ajustam, dizemos que a hipótese, de momento, se confirma; pelo contrário, se pelo menos uma das consequências não se ajusta, diremos que a hipótese se vê falsificada. Por outras palavras, dado um problema P e uma teoria T que se propõe como solução para ele, dizemos: se T é verdadeira, então terão de se dar as consequências p1, p2, p3, ..., pn, que, se se ajustam, confirmam a teoria, e que, se não se ajustam, desmentem-na ou falseiam-na, isto é, demonstram que é falsa. Conclui-se assim que, para comprovar de facto uma teoria, ela tem de ser por princípio controlável, ou, por outras palavras, tem que ser falsificável, têm que poder-se extrair delas conse¬quências que podem refutar-se, isto é, que podem ser falsificáveis por factos. Se de uma teoria não se podem extrair consequências susceptíveis de um controlo fáctico, ela não é uma teoria científica. Isto não deve contudo esquecer que uma hipótese metafísica de hoje se pode converter numa hipótese científica amanhã (como sucedeu com a teoria atomista, que era metafísica nos tempos de Demócrito e se transformou em científica na época de Fermi).
O método dedutivo dos controlos consiste nesta extracção de consequências da teoria a controlar, e na sua comparação com as asserções de base (ou proto¬colos) que, de acordo com os nossos conhecimentos, descrevem os factos. Estes controlos, do ponto de vista lógico, nunca atingem um final definitivo, dado que por muitas confirmações que uma teoria tenha tido, ela nunca é algo certo de todo, na medida em que o próximo controlo a pode desmentir. Este facto lógico explica a história da ciência, na qual vemos teorias que resistiram durante muito tempo a ruírem perante o peso dos factos que se lhes opõem.
Na realidade, existe uma assimetria lógica entre verificação e falsificação: biliões e biliões de confir¬mações não convertem em certa uma teoria (por exemplo: “todos os pedaços de madeira flutuam na água”), ao passo que um único facto negativo (“este pedaço de ébano não flutua”) falsifica, do ponto de vista lógico, a teoria. Popper insere nesta assimetria o mandamento metodológico da falsificação: uma vez que toda a teoria, ainda que esteja verificada, pode ser desmenti da, há que tratar de falsificá-la, pois quanto mais cedo se encontrar um erro, mais cedo ele poderá ser eliminado com a invenção e a prova de uma teoria melhor do que a anterior. Deste modo, a epistemologia de Popper reconhece a força que caracteriza o erro. Como dizia Oscar Wilde, “a experiência é o nome que cada um de nós dá aos seus próprios erros”.
Isto permite-nos compreender o lugar central da noção de falsificação na epistemologia de Popper: “A um sistema científico, não lhe exigirei que seja capaz de ser escolhido, em sentido positivo, de uma vez por todas; mas exigir-lhe-ei que a sua forma lógica o permita pôr em evidência, mediante controlos empíricos, em sentido negativo: um sistema empírico deve poder ser refutado pela experiência.”»

G. Reale e D. Antiseri, Historia dei Pensamiento Filosófico e Científico, Tomo Tercero, Barcelona, Editorial Herder, 1992, pp. 894.895.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

o Problema da semana - 2/05

10.º Ano
nível 1
- é a justiça distributiva uma dimensão ética da política?

11.º Ano
nível 3
- a verdade reduz-se à certeza paradigmática, tal como o afirma Kuhn? ou isso não tem sentido, pelo menos nas ciências da natureza e quantitativas?
nível 4
- a verdade é confirmável, a verdade não é confirmável mas só a falsidade, a verdade é paradigmática e como tal não existe, a verdade é redutível ao estado psicológico,- já em desespero? - a verdade reduz-se a eficácia instrumental ou à coerência interna?

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Problema da semana - 1/05


Kant
Filosofia 10.º
A) Porque é necessário, segundo Kant, a Lei moral, criada pela razão, surgir ao homem como imperativo?
B) Considerando a moral kantiana, em que medida/circunstância é um homem livre se não comer um bolo quando o pode fazer?
C) Comparando a ética kantiana e a ética utilitarista de Mill, como responderiam às seguintes situações:
1. como considerar a mentira?
2. como considerar a injustiça?
3. como decidir entre a verdade e a justiça?


S. Mill

Filosofia 11.º
A) Numa situação real de Física, de Química ou de Biologia, exemplificar a dedução de consequências no método hipotético-dedutivo.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Ciência - O Problema da sua Natureza - 2 - um texto de Bento Jesus Caraças



Foto de Bento Jesus Caraças, Matemático e escritor alentejano

«(...) O homem, na sua necessidade de lutar contra a natureza e no seu desejo de a dominar, foi levado, naturalmente, à observação e ao estudo dos fenómenos, procurando descobrir as suas causas e o seu desenca¬deamento.
Os resultados desse estudo, lentamente adquiridos e acumulados, vão constituindo o que, no decurso dos séculos da vida consciente da humanidade, se pôde designar pelo nome de ciência. O conhecimento científi¬co distingue-se, portanto, do conhecimento vulgar ou primário, no facto essencial seguinte: este satisfaz-se com o resultado imediato do fenómeno - uma pedra abandonada no ar, cai; uma leve pena de ave, abando¬nada no ar, paira ou sobe; aquele faz a pergunta porquê e procura uma resposta que dê uma explicação aceitável pelo nosso entendimento.
O objectivo final da ciência é, portanto, a formação de um quadro ordenado e explicativo dos fenómenos naturais, fenómenos do mundo físico e do mundo huma¬no, individual e social.


Duas são as exigências fundamentais a que esse quadro explicativo deve satisfazer:
l.ª - Exigência de compatibilidade. (...) Obediên¬cia ao princípio de acordo da razão consigo própria.
2.ª - Exigência de acordo com a realidade. Os homens pedem à ciência que lhes forneça um meio, não só de conhecer, mas de prever fenómenos - quanto maior for a possibilidade de previsão, maior será o domínio deles sobre a natureza; quem sabe prever sabe defender-se melhor e, além disso, pode provocar a repe¬tição para o seu uso, dos fenómenos naturais. A ciência deve ser considerada, acima de tudo, como um instru¬mento forjado pelos homens, instrumento activo de pene¬tração no desconhecido.
É evidente que, se as previsões fornecidas pelo qua¬dro explicativo não forem confirmadas pela realidade, esse quadro pode satisfazer altamente a primeira exi¬gência, mas nunca poderá ser o instrumento de que os homens necessitam.
Bento de Jesus Caraça, Conceitos Fundamentais de Matemática, Lisboa, 1975, pp. 107-109

Ciência - o problema da sua natureza - 1


Fotografia de Niels Bohr

A ciência não é um conhecimento natural. Não basta abrir os olhos ou ouvir alguém contar uma história para conhecermos cientificamente.

O conhecimento científico implica antes de mais uma vontade de conhecer, e em segundo lugar implica procurar a melhor forma de conhecer. Assim, propósito e método são dois aspectos centrais a que podemos acrescentar a dimensão conceptual do trabalho científico. A ciência é em primeiro lugar uma construção campo conceptual, que o artifício técnico ou experimental operacionaliza e valida.
As ciências procuram assim estar para lá da dimensão meramente empírica das qualidades subjectivas e psicológicas da realidade, procuram ultrapassar a carga subjectiva do próprio sujeito-cientista.
Esta concepção de ciência funciona relativamente bem nas ciências explicativas, orientadas para as leis físicas da natureza. Mas chegará para definir as ciências humanas como a Psicologia, a Antropologia ou a História? Estas ciências não se reduzem à dinâmica explicativa. Trabalham no interior de concepções e de paradigmas compreensivos, mutáveis e enquadráveis culturalmente. Daí que haja várias abordagens psicológicas, sociológicas ou históricas. Mas as ciências da natureza são puras? Não são afectadas pelo sujeito?

Éticas teleológicas e Éticas deontologicas

“Existem duas concepções distintas de [ética]: a teleológica e a deontológica. As [éticas] teleológicas (por exemplo, a aristotélica ou a utilitarista) consideram as consequências das nossas acções e julgam estas pelas suas consequências. Recomendam-nos que façamos uma coisa em vez de outra, porque ela contribui mais para a nossa felicidade (ou a de outros) do que outra. As [éticas] deontológicas, (como a kantiana) julgam as nossas acções independentemente das suas consequências e da sua contribuição para a felicidade, em função de presumidos deveres ou valores objectivos (...). Típico desta concepção é o conceito de dever – em grego déon, daí o adjectivo deontológico. A [ética] deontológica [postula a existência de] deveres e valores [aos quais estamos obrigados] a ajustar a nossa conduta [independentemente dos efeitos e custos que isso tenha em nós].”

J. Mosterin, Racionalidad y Acción Humana, Alianza, Madrid,1987, p. 34

sexta-feira, 1 de maio de 2009

A retórica da imagem - 4



Com base num trabalho do 11.º B do Ricardo e do Ricardo

Como todo o discurso que visa persuadir tem um auditório a quem é dirigida a mensagem e ao qual há que a adaptar, tem também um objectivo, neste caso evidente: conduzir à compra do produto: lingerie Triumph.

O auditório – público-alvo - nesta publicidade são as mulheres (principalmente jovens).

Dimensões do anúncio:

Este anúncio possui, como a maioria, uma dimensão denotativa, neste caso o aspecto do produto que se deseja vender (a lingerie) e que deve agradar ao potencial cliente; e uma conotativa, o aspecto da modelo, com a qual as mulheres se quererão parecer, levando-as a comprar a lingerie.

O anúncio publicitário usa os meios de persusão já enunciados por Aristóteles:

O Ethos está presente de uma forma muito óbvia e propositada, usando a beleza, sensualidade e de uma modelo conhecida e reconhecida socialmente pela sua simpatia – em determinadas camadas sociais e etárias – propulsionando credibilidade ao anúncio. A própria marca merece confiança pela tradição.

O Pathos, enquanto a modelo e a montagem fotográfica transmitem a sensação de frescura, de leveza, de juventude. Desperta assim emoções agradáveis, com quem o auditório gosta de se identificar.

O cartaz publicitário apresenta ou associa a marca Triumph a valores implícitos como a beleza, frescura, leveza, alegria, juventude, etc. (o que não deixa de ser essencial numa marca de lingerie com muitos anos e que as jovens tendem a associar à roupa das suas mães e avós).

No domínio do Logos há uma proposição visível em letras pequenas mas destacadas com a cor vermelha que afirma da marca que ela é uma arte corporal. Esta proposição remete para um argumento implícito:

A lingerie da Triumph cria arte corporal (que significa que modela o corpo de acordo com padrões de beleza, pois o termo arte está associado, em termos sociológicos, ao de beleza); assim, se quiser ter um corpo modelado pela arte corporal, use lingerie da collection Best Of da Triumph..

Claro que pode-se considerar haver aqui uma falácia informal. Mas mesmo que assim seja considerado, promovendo a manipulação de quem faz associações descuidadas, o certo é que oferece um raciocínio do ponto de vista lógica formal válido.

A Publicidade é um bom exemplo de como apesar de haver argumentos formalmente válidos, ou o auditório aí ler argumentos válidos, poderem ser falaciosos do ponto de vista informal

É claro que todos os valores mais ou menos implícitos visam associar a marca a esses valores e permitem ao auditório criar essas identidades e, claro, raciocínios dedutivos ou indutivos a partir daí.

Neste caso temos a possibilidade de ter um raciocínio dedutivo, embora precedido de uma indução:

Se Cláudia Vieira usa lingerie Triumph e é sensual,
então a cliente usando lingerie Triumph tornar-se-à sensual.

P Q R ( P ∧ Q ) → ( R → Q )
V V V V V V
V V F V V V
V F V F V F
V F F F V V
F V V F V V
F V F F V V
F F V F V F
F F F F V V

Mas este argumento usa um outro - induz previamente ou pressupõe como ideia geral:

Quem usa lingerie Triumph é sensual,
a → b

(mas pergunta-se: é o sensual uma SEGUNDA CARACTERÍSTICA, permitindo compreender o argumento como analogia?)

Modus Ponens: a → b; a; ∴ b


Se o raciocínio antes exposto for traduzido num Modus Ponus e lhe aplicarmos o martelo semântico, temos o seguinte argumento válido – pois não existe nenhuma circunstância com premissas falsas e conclusão verdadeira:
a b a → b a b
V V V V V
V F F V F
F V V F V
F F V F V