domingo, 14 de março de 2010

Indução e conhecimento: o problema epistemológico da indução

Qual será o princípio que nos permite INDUZIR, segundo Hume?

«Suponham que um homem, não obstante dotado das mais poderosas faculdades da razão e da reflexão, é subita¬mente transportado para este mundo; certamente, notaria de imediato uma contínua sucessão de objectos, um aconteci¬mento seguindo-se a outro; mas, seria incapaz de se aperceber de algo diferente. Em primeiro lugar, seria incapaz de chegar à ideia de causa e de efeito através de qualquer raciocínio, porque as capacidades específicas que realizam todas as ope¬rações naturais nunca são evidentes para os sentidos; e não é legítimo concluir, somente porque um acontecimento pre¬cede um outro numa única ocasião, que é causa e o outro, efeito. A sua ligação pode ser arbitrária e acidental. Não há razão para inferir a existência de um a partir do aparecimento do outro. Em resumo: um homem como esse, sem outra experiência, nunca faria conjecturas ou raciocínios acerca de qualquer questão de facto; não estaria seguro de nada excepto do que está imediatamente presente à sua memória e aos seus sentidos.
Suponham ainda que este homem adquiriu mais expe¬riência e viveu tempo suficiente no mundo para ter obser¬vado a ligação constante entre objectos ou acontecimentos habituais; que resulta desta experiência? Ele infere imediata¬mente a existência de um dos objectos e o aparecimento do outro. Todavia, não adquiriu, através de toda a sua experiên¬cia, qualquer ideia, qualquer conhecimento do poder secreto pelo qual um dos objectos produz o outro; e não é através de qualquer exercício da razão que ele é levado a tirar esta conclusão. Mas é sempre levado a tirá-la; e, mesmo se se convencesse de que o seu entendimento não tem qualquer papel na operação, prosseguiria, no entanto, no mesmo fluxo de pensamento. Há um outro princípio que o leva a extrair uma tal conclusão.
David Hume, Investigações sobre o entendimento humano, secção V

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