terça-feira, 16 de março de 2010

Indução e conhecimento: o problema epistemológico da indução - 3

Isaque Tomé

Se todas as ideias derivam de impressões qual a impressão originária da ideia de causa?

Esta questão assume importância por duas razões:
1) a causalidade é um dos 3 modos de articular ideias;
2) a causalidade compreende a conexão necessária entre fenómenos e que supostamente está presente na natureza e no conhecimento que o homem pode ter desta.


Posto isto, vamos ao pensamento de Hume.
Hume vai submeter o princípio da causalidade a uma análise crítica rigorosa, baseando-se na teoria do conhecimento já nossa conhecida.

O princípio de causalidade defende uma conexão necessária entre dois fenómenos ou acontecimentos.
Afirmar que A é a causa de B significa que verificando A podemos prever B.Isto permite-nos antecipar com toda a garantia lógica: acontecendo A o fenómeno B não pode deixar de acontecer. Mas, assim estamos a falar de um facto futuro que ainda não aconteceu. É aqui que Hume diz que ultrapassamos o que a experiência nos permite conhecer.


A constatação que Hume nos apresenta é a de que aquilo que afirmamos ser causa e ser efeito são dois factos inteiramente distintos. Não existe um impressão correspondente e originária da ideia de causalidade. O que temos são impressões. Uma impressão do fenómeno A, uma impressão do fenómeno B e uma impressão da sucessão temporal de B face a A. Mas nada disto é a impressão de causalidade. Aliás no post anterior é patente que o quem não tem experiência da associação entre fenómenos não consegue prever esse mesmo fenómeno

O conhecimento de A não exige o conhecimento de B, a não ser que no passado o tivessemos constatado.
Ou seja, cada um deles nada tem de si que exija necessariamente o outro.
Nós apenas conhecemos o que percepcionamos no momento e o que percepcionámos no passado, não podemos ter conhecimento de factos futuros, porque não podemos ter qualquer impressão sensível do que ainda não aconteceu.

☼ A ideia de relação causal, de uma conexão necessária entre dois fenómenos é uma ideia da qual não temos qualquer impressão sensível. Como o critério de verdade de um conhecimento factual é que a uma ideia corresponda uma impressão sensível não temos legitimidade para falar de uma relação causal entre os dados da nossa experiência. Logo, a ideia de causalidade é uma mera associação de ideias, aquilo que nós percepcionamos é uma sucessão de acontecimentos.

☼ Segundo Hume, a previsão surge de dois fenómenos psíquicos:
a) a partir do costume e do hábito de ver os fenómenos associados repetidamente no passado e
b) pela crença na regularidade da natureza, que permite crer que o futuro ocorra tal como o passado.
☼ O princípio da causalidade considerado um princípio racional e objectivo nada mais é do que uma crença subjectiva, o produto de um hábito, o desejo de transformação de uma expectativa em realidade. Assim, não há garantia de que se possa fazer ciência, não há conhecimento verdadeiro, objectivo mas, meramente circunstancial, relativo.
Assim, podemos concluir o seguinte: a ciência não tem um suporte lógico (necessidade lógica dos fenómenos) mas um suporte psicológico (hábito), pelo que a ciência não produz conhecimento seguro.

Sem comentários:

Enviar um comentário