segunda-feira, 4 de maio de 2009

Ciência - O Problema da sua Natureza - 2 - um texto de Bento Jesus Caraças



Foto de Bento Jesus Caraças, Matemático e escritor alentejano

«(...) O homem, na sua necessidade de lutar contra a natureza e no seu desejo de a dominar, foi levado, naturalmente, à observação e ao estudo dos fenómenos, procurando descobrir as suas causas e o seu desenca¬deamento.
Os resultados desse estudo, lentamente adquiridos e acumulados, vão constituindo o que, no decurso dos séculos da vida consciente da humanidade, se pôde designar pelo nome de ciência. O conhecimento científi¬co distingue-se, portanto, do conhecimento vulgar ou primário, no facto essencial seguinte: este satisfaz-se com o resultado imediato do fenómeno - uma pedra abandonada no ar, cai; uma leve pena de ave, abando¬nada no ar, paira ou sobe; aquele faz a pergunta porquê e procura uma resposta que dê uma explicação aceitável pelo nosso entendimento.
O objectivo final da ciência é, portanto, a formação de um quadro ordenado e explicativo dos fenómenos naturais, fenómenos do mundo físico e do mundo huma¬no, individual e social.


Duas são as exigências fundamentais a que esse quadro explicativo deve satisfazer:
l.ª - Exigência de compatibilidade. (...) Obediên¬cia ao princípio de acordo da razão consigo própria.
2.ª - Exigência de acordo com a realidade. Os homens pedem à ciência que lhes forneça um meio, não só de conhecer, mas de prever fenómenos - quanto maior for a possibilidade de previsão, maior será o domínio deles sobre a natureza; quem sabe prever sabe defender-se melhor e, além disso, pode provocar a repe¬tição para o seu uso, dos fenómenos naturais. A ciência deve ser considerada, acima de tudo, como um instru¬mento forjado pelos homens, instrumento activo de pene¬tração no desconhecido.
É evidente que, se as previsões fornecidas pelo qua¬dro explicativo não forem confirmadas pela realidade, esse quadro pode satisfazer altamente a primeira exi¬gência, mas nunca poderá ser o instrumento de que os homens necessitam.
Bento de Jesus Caraça, Conceitos Fundamentais de Matemática, Lisboa, 1975, pp. 107-109

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