domingo, 15 de março de 2009

Problematização da definição tradicional de conhecimento

Segundo a definição tradicional, o conhecimento (de proposições) só é digno deste nome quando sobre essa proposição (P) há uma crença verdadeira justificada (CVJ). Deste modo, o conhecimento parte de uma convicção do sujeito relativamente ao objecto (S acredita em P), sendo que esta tem de ser verdadeira (P é verdadeira) e essa verdade tem de ser justificada através de provas ou razões empíricas e/ou racionais (S dispõe de justificação ou provas para acreditar que P). Assim, a CVJ pode ser representada como uma completa sobreposição dos conceitos de conhecimento e de verdade. Contudo, esta sobreposição suscita várias objecções. Para as explicar, dou um exemplo:
A física actual baseia-se em duas grandes teorias: a teoria da Relatividade e a Teoria Quântica. Até aqui, nada de mal mas, se analisarmos estas teorias verificamos que, apesar de uma ser boa para compreender o universo dos grandes objectos e outra ser eficiente na explicação do universo dos átomos, são entre si contraditórias. Isto acontece pois, enquanto que a mecânica da Teoria da Relatividade é determinista (consegue-se prever a evolução dos objectos desde que se saiba a respectiva velocidade e posição), a da Teoria Quântica é probabilística (recorre ao cálculo de probabilidades), já que não consegue prever a evolução de uma partícula pois não podemos saber, ao mesmo tempo, a velocidade e a posição de uma partícula (Princípio da Incerteza). Assim, podemos concluir uma de três coisas:

a) Uma teoria está certa e a outra errada;
b) Ambas as teorias estão erradas;
c) Ambas as teorias estão certas, admitindo que o universo é gerido por leis diferentes.

Esta última, vamos excluí-la, uma vez que vai contra a lógica por serem entre si contraditórias e contra a forma de pensar e de ver o mundo próprio da racionalidade humana que tem a tendência para a universalidade (tendência para unificar como verificamos na procura de uma Teoria de Tudo, que tenta unificar a teoria da Relatividade com a teoria Quântica).
Concentrando-nos nas duas primeiras e tendo por base que para haver conhecimento este teria de ser uma CVJ, então poderíamos concluir que ou apenas uma ou nenhuma das teorias seria considerada conhecimento. Ora, como podem estas teorias não serem consideradas conhecimento se estão na base da física actual? Pois bem, é exactamente aqui que residem duas grandes objecções à definição tradicional de conhecimento como CVJ:

1) Se todo o conhecimento digno desse nome tem de ser sempre uma crença verdadeira, então todos os nossos conhecimentos têm de ser sempre infalíveis. Considerando que, no futuro, descobríamos que ambas as teorias (que hoje são consideradas verdadeiras) são falsas, poderemos concluir que estas crenças não são conhecimento?
2) Se todo o conhecimento digno desse nome tem de ser necessariamente verdadeiro, então não pode haver progresso no conhecimento. Ora, considerando que (como se tem verificado do passado até à actualidade) estas teorias evoluirão para uma só e, portanto, haverá progresso ao nível destas teorias e, até mesmo, ao nível da forma de ver o mundo, poderemos concluir que estas teorias não são conhecimento?

Considerando que estas teorias são conhecimento (como poderiam não ser?), podemos então concluir que a definição de conhecimento como CVJ está incorrecta, ou pelo menos, incompleta.

Ana Gonçalves, 11.º B, ESJaimeMagalhãesLima

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