quinta-feira, 23 de abril de 2009

Problemas do Método Indutivo - 1 - a indução - 1.1. Um problema de fundamentação

“O princípio da indução não se pode justificar apelando simplesmente à lógica. Assim sendo, pareceria que o indutivista, de acordo com o seu próprio ponto de vista, deveria indicar como se pode derivar da experiência o princípio de indução. Como seria uma tal derivação? Provavelmente seria assim: observou-se que a indução funciona num grande número de ocasiões. Por exemplo, as leis da óptica, derivadas por indução dos resultados experimentados em laboratório, foram utilizadas em numerosas ocasiões para desenhar instrumentos ópticos e estes instrumentos funcionaram de modo satisfatório. (…)
Uma tal justificação da indução é completamente inaceitável, como a demonstrou David Hume em meados do século XVIII. A argumentação que pretende justificar a indução é circular, uma vez que emprega o mesmo tipo de argumentação indutiva, cuja validade se supõe que necessita de justificação.
A forma de argumentação justificatória é a seguinte:

O princípio de indução funcionou com êxito na ocasião x1
O princípio de indução funcionou com êxito na ocasião x2
etc.
_______________________________________________
O princípio de indução funciona sempre.

Aqui infere-se um enunciado universal que afirma a validade do princípio de indução a partir de certa quantidade de enunciados singulares que registam aplicações com êxito do princípio no passado. Portanto, a argumentação é indutiva, e não se pode, pois, utilizar para justificar o princípio de indução. Não podemos utilizar a indução para justificar a indução. Esta dificuldade foi denominada tradicionalmente como o “problema da indução”.”
A. F. Chalmers, Quê es esa cosa llamada ciência?, Madrid, Siglo XXI, 1990,pp.29-30

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