Kuhn põe em causa a objectividade científica e a continuidade histórica
do desenvolvimento científico.
Kuhn concebe o cientista, enquanto sujeito de conhecimento, integrado
numa comunidade científica. Esta comunidade científica partilha um paradigma,
paradigma este que condiciona a forma de pensar e de trababalhar do cientista
como.
Popper focalizando a sua atenção para a delimitação entre o que é do que
não é ciência e no método científico, atribui grande importância ao génio e à
individualidade do cientista na colocação de problemas e na criação de
conjecturas explicativas dos fenómenos e solucionadoras dos problemas. O papel
da comunidade científica surge a posteriori
como corroboração das conjecturas. Pelo contrário em Kuhn atribui à
comunidade científica uma importância a montante, pois é ela que partilha um
paradigma e que desenvolve uma determinada cultura científica que enforma e
condiciona o pensamento individual. Assim, a noção de paradigma é central na
investigação científica e no seu desenvolvimento histórico (descontínuo).
O que é um
paradigma?
É o
conjunto de descobertas científicas, teorias, leis, dispositivos experimentais,
metodologias, reconhecidas pela comunidade científica e que se instituem como
tradições de investigação e guias da investigação científica fornecendo os
problemas-tipo e as soluções a uma comunidade científica.
O paradigma existe como um conjunto de teorias e práticas que convencem
uma comunidade científica e estabelece-se como uma forma de pensar, de abordar
os assuntos, de colocar os problemas e de os resolver. O paradigma condiciona
os procedimentos de investigação no período de ciência normal, orientando o
cientista na forma de “olhar” o mundo e de colocar os problemas, limitando-o
por isso.
Quando um paradigma científico se institui criam-se as condições para
que se estabeleça o período de ciência normal. O período de ciência normal é
condicionado pelo paradigma vigente.
O que é o período de Ciência Normal?
É o período em que o paradigma é unanimemente aceite. E é neste período que
o paradigma se desenvolve e consolida, se completa. É no período de ciência
normal que se desenvolve o paradigma, tornando-o mais pormenorizado e completo,
fazendo alargar o âmbito dos factos explicáveis pelo paradigma. Contudo o
período de ciência normal não tem como objectivo o de descobri novos factos, ou
inventar novas teorias. Pelo contrário a prática científica é sobretudo uma
“actividade de resolução de enigmas”.
Por enigma entende Kuhn um problema que tem solução no interior do
paradigma e de acordo com regras desses mesmo paradigma.
Neste
período o trabalho do cientista dirige-se para a resolução de problemas e
eliminação de incongruências segundo os esquemas conceptuais e metodológicos
aceites como paradigma.
O paradigma
dirige a investigação científica, mas antes disso dirige a própria colocação de
problemas e a estrutura da sua resolução. “Em condições normais, o cientista
investigador não é um inovador mas um solucionador de puzzles, e os puzzles em
que ele se concentra são precisamente aqueles que acredita poderem ser
formulados e resolvidos pela tradição científica”.
Todos os
problemas possíveis são aqueles que o próprio paradigma promove e enquadra –
segundo as suas regras – e a sua solução encontra-se no interior do paradigma.
Os
problemas científicos são puzzles (enigmas) que o cientista vai procurar
solucionar (quebra-cabeças).
Os
problemas são na sua grande parte resolvidos no interior do paradigma, o que dá
força ao próprio paradigma, e por isso o s cientistas resistem à mudança.
“A Ciência
Normal tem como função inventar novas teorias nem descobrir novos factos: a sua
tarefa central é a resolução de enigmas.”
Mas,
novos e inesperados fenómenos surgem e novas teorias são propostas.
Estes
novos e inesperados fenómenos surgem (descobertas) e não se coadunam com as
teorias vigentes: são as anomalias.
Face
às anomalias das duas uma: ou há reajustamento nas teorias do paradigma vigente
e este continua a dominar ou não são explicados e entra-se num período de crise.
A Crise
dá-se pela incapacidade da ciência responder/solucionar, no interior do
paradigma, os novos problemas. Isto conduz ao enfraquecimento do paradigma e
consequente “relaxamento das regras”.
A
Crise que se instala no interior da comunidade científica promove (induz) o
Período de Ciência Extraordinária. O Período de Ciência Extraordinária (ou
Revolucionária) consiste na busca de novas soluções para novos problemas. A
busca de novas soluções, assim, como a possibilidade de novos problemas
implicam a mudança de perspectiva – “de olhar”, novas formas de abordar os
fenómenos, novas metodologias novas visões do real, que promovem o nascimento
de um novo Paradigma – um novo modo de olhar, pensar e interpretar o mundo.
O progresso científico
A
crise é um factor de progresso científico, pois é a crise que produz o
relaxamento do cumprimento das regras do paradigma e o enfraquecimento do
paradigma. A crise é essencial para a evolução descontínua do conhecimento
científico e para que novas interpretações dos fenómenos surjam – mais amplas e
simples.
A
crise está para a teoria epistemológica de Kuhn como o erro está para a teoria
de Popper.
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