quinta-feira, 21 de maio de 2015

Kuhn e a noção de paradigma


Kuhn põe em causa a objectividade científica e a continuidade histórica do desenvolvimento científico.

Kuhn concebe o cientista, enquanto sujeito de conhecimento, integrado numa comunidade científica. Esta comunidade científica partilha um paradigma, paradigma este que condiciona a forma de pensar e de trababalhar do cientista como.
Popper focalizando a sua atenção para a delimitação entre o que é do que não é ciência e no método científico, atribui grande importância ao génio e à individualidade do cientista na colocação de problemas e na criação de conjecturas explicativas dos fenómenos e solucionadoras dos problemas. O papel da comunidade científica surge a posteriori como corroboração das conjecturas. Pelo contrário em Kuhn atribui à comunidade científica uma importância a montante, pois é ela que partilha um paradigma e que desenvolve uma determinada cultura científica que enforma e condiciona o pensamento individual. Assim, a noção de paradigma é central na investigação científica e no seu desenvolvimento histórico (descontínuo).
O que é um paradigma?
É o conjunto de descobertas científicas, teorias, leis, dispositivos experimentais, metodologias, reconhecidas pela comunidade científica e que se instituem como tradições de investigação e guias da investigação científica fornecendo os problemas-tipo e as soluções a uma comunidade científica.
O paradigma existe como um conjunto de teorias e práticas que convencem uma comunidade científica e estabelece-se como uma forma de pensar, de abordar os assuntos, de colocar os problemas e de os resolver. O paradigma condiciona os procedimentos de investigação no período de ciência normal, orientando o cientista na forma de “olhar” o mundo e de colocar os problemas, limitando-o por isso.
Quando um paradigma científico se institui criam-se as condições para que se estabeleça o período de ciência normal. O período de ciência normal é condicionado pelo paradigma vigente.
O que é o período de Ciência Normal?
É o período em que o paradigma é unanimemente aceite. E é neste período que o paradigma se desenvolve e consolida, se completa. É no período de ciência normal que se desenvolve o paradigma, tornando-o mais pormenorizado e completo, fazendo alargar o âmbito dos factos explicáveis pelo paradigma. Contudo o período de ciência normal não tem como objectivo o de descobri novos factos, ou inventar novas teorias. Pelo contrário a prática científica é sobretudo uma “actividade de resolução de enigmas”.
Por enigma entende Kuhn um problema que tem solução no interior do paradigma e de acordo com regras desses mesmo paradigma.
Neste período o trabalho do cientista dirige-se para a resolução de problemas e eliminação de incongruências segundo os esquemas conceptuais e metodológicos aceites como paradigma.
O paradigma dirige a investigação científica, mas antes disso dirige a própria colocação de problemas e a estrutura da sua resolução. “Em condições normais, o cientista investigador não é um inovador mas um solucionador de puzzles, e os puzzles em que ele se concentra são precisamente aqueles que acredita poderem ser formulados e resolvidos pela tradição científica”.
Todos os problemas possíveis são aqueles que o próprio paradigma promove e enquadra – segundo as suas regras – e a sua solução encontra-se no interior do paradigma.
Os problemas científicos são puzzles (enigmas) que o cientista vai procurar solucionar (quebra-cabeças).
Os problemas são na sua grande parte resolvidos no interior do paradigma, o que dá força ao próprio paradigma, e por isso o s cientistas resistem à mudança.
“A Ciência Normal tem como função inventar novas teorias nem descobrir novos factos: a sua tarefa central é a resolução de enigmas.”
Mas, novos e inesperados fenómenos surgem e novas teorias são propostas.
Estes novos e inesperados fenómenos surgem (descobertas) e não se coadunam com as teorias vigentes: são as anomalias.
Face às anomalias das duas uma: ou há reajustamento nas teorias do paradigma vigente e este continua a dominar ou não são explicados e entra-se num período de crise.
A Crise dá-se pela incapacidade da ciência responder/solucionar, no interior do paradigma, os novos problemas. Isto conduz ao enfraquecimento do paradigma e consequente “relaxamento das regras”.
A Crise que se instala no interior da comunidade científica promove (induz) o Período de Ciência Extraordinária. O Período de Ciência Extraordinária (ou Revolucionária) consiste na busca de novas soluções para novos problemas. A busca de novas soluções, assim, como a possibilidade de novos problemas implicam a mudança de perspectiva – “de olhar”, novas formas de abordar os fenómenos, novas metodologias novas visões do real, que promovem o nascimento de um novo Paradigma – um novo modo de olhar, pensar e interpretar o mundo.
O progresso científico
A crise é um factor de progresso científico, pois é a crise que produz o relaxamento do cumprimento das regras do paradigma e o enfraquecimento do paradigma. A crise é essencial para a evolução descontínua do conhecimento científico e para que novas interpretações dos fenómenos surjam – mais amplas e simples.
A crise está para a teoria epistemológica de Kuhn como o erro está para a teoria de Popper.
 

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