quinta-feira, 21 de maio de 2015

Críticas formuladas ao método indutivo


Críticas formuladas ao método indutivo


A indução tem alguns problemas, mas enquanto método científico tem mais pelo rigor intelectual e objectividade que o trabalho científico requer.


1. O primeiro grande problema que se coloca ao método indutivo diz respeito à observação: o facto de partir da observação.

Popper é um grande crítico desta ideia, afirma que a observação é sempre efectuada a partir de teorias ou de um conjunto de conhecimentos prévios, que guiam e orientam a observação. São essas teorias prévias que permitem ao cientista fazer a focagem em determinado assunto e de determinada maneira. Pois se não houvesse teorias prévias como se saberia o que observar? Não só o cientista não saberia o que observar como não saberia como observar. Ou seja, cairia numa observação ingénua, de senso comum, que olharia descontraída e naturalmente para as coisas, como o fazemos no dia a dia. Ora a ciência não é uma actividade ‘natural’ do homem, é uma actividade artificial e como tal implica um acto de vontade, uma vontade e uma actividade crítica que procura não se deixar iludir pelo olhar natural e muito menos por meras associações mentais espontâneas que fazemos ao olhar para as coisas.

Assim percebemos que o olhar do cientista é um olhar dirigido, um olhar focado, um olhar intencional, a partir do Popper chama “horizonte de expectativas”. É neste sentido que se transcreve a seguinte afirmação de Popper: “uma observação (científica) é uma percepção planificada e preparada. Não temos uma observação (ainda que possamos ter uma experiência sensível), mas ‘fazemos’ uma observação. As observações vão sempre precedidas por um interesse particular, uma pergunta ou um problema – numa palavra por algo teórico. (...) Por isso as observações são sempre selectivas e pressupõem algo como um princípio de selecção.”[1]


2. O segundo problema colocado ao método indutivo recai sobre a própria indução. É o facto de não haver legitimidade lógica para realizar a generalização.

            2.1. Não há necessidade lógica na conclusão do raciocínio indutivo. Ou seja da verdade das premissas não se garante a verdade da conclusão. Em termos práticos este problema lógico traduz-se no problema seguinte: que legitimidade existe em concluir sobre o desconhecido a partir do conhecido? Do ponto de vista lógico não há legitimidade.

                2.2. O que legitima passar de alguns casos conhecidos para todos os casos, conhecidos e desconhecidos? É o costume e a crença na regularidade da natureza como dizia Hume?

Popper formula esta crítica, mas afasta-se da crítica que Hume fez ao carácter psicologista da indução. Recordemos. Hume dizia que a indução é baseada no costume e no hábito. É pelo hábito de ver determinado fenómeno repetido que todos nós somos levados a induzir para o que ainda não vimos. Aliado ao hábito existe a crença que existe uma regularidade na natureza. Isto fez Hume cair no cepticismo uma vez que a partir do seu empirismo chegou à conclusão de que a mente humana não trabalhava assente na racionalidade, mas por mera associação empírica, hábito e crença.

Popper não concorda nem com o empirismo, nem com o cepticismo e como tal não concorda que a mente humana trabalhe por mera associação e hábito. Assim, afirma que “actuamos baseando-nos não em repetição ou hábito, mas nas nossas teorias melhor contrastadas que (...) são as que se vêem apoiadas por boas razões racionais; naturalmente, possuímos boas razões para acreditar, não que são verdadeiras, mas que são as mais válidas (...)”[2]. Conhecendo a teoria do conhecimento de Popper, facilmente concluímos que onde Hume via costume, vê Popper a submissão da hipótese (mesmo que inconsciente) ao real.

2.3. A indução tem como fundamento ou justificação a própria indução. Então faz um raciocínio circular. Ou seja a indução justifica-se porque no passado o princípio indutivo resultou, teve êxito.

A indução resulta em x; a indução resulta em y; (…); a indução resulta em z,
Logo, a indução resulta sempre.


3. A verificação – processo de testagem e validação de hipóteses e de demarcação do campo científico do campo não científico

O verificacionismo é

1) um critério de cientificidade - demarca o campo científico co campo não científico;

2) um critério de validação das hipóteses científicas.

O Problema do verificacionismo relaciona-se com os pressupostos positivistas que o animam: só é conhecimento científico o que for empiricamente verificado.

Assim, confirmando uma hipótese, por novas observações, supõe-se a sua verdade.

Ora é nesta ideia de que é possível confirmar (verificar) a verdade de uma hipótese ou teoria que o verificacionismo apresenta problemas...

Porquê?

O problema está na própria verificação ou confirmação. A verificação da hipótese ao nível da testagem visa validar a hipótese, pelo que o cientista prepara a testagem com a finalidade de confirmar a sua hipótese.

Mas sobre a verificação podemos levantar duas objecções:

    1. A verificação pressupõe que se possa atingir a verdade da hipótese e como tal, após esta ser confirmada, aceita-se como verdade, de acordo com o espírito positivista que enquadra a observação/experimentação. Como consequência não há a preocupação de procurar eventuais erros e falhas que ela encerre ou procurar uma nova hipótese mais abrangente e simples – o que contraria o carácter revisível da ciência
    2. o processo de testagem pode ser afectado pela própria teoria. A teoria do cientista ao orientar o processo de testagem – as técnicas e os instrumentos utilizados –, permite ver aquilo que o cientista ‘quer’ ver. Ou seja dirige olhar.
      Este terceiro problema como já referido não diz respeito só ao método indutivo, mas também ao método hipotético-dedutivo. O método hipotético-dedutivo é o que Popper defende, mas pode ser entendido de duas formas tendo em conta o papel que a testagem das teorias nele tem. Se o papel da testagem for o de verificar (confirmar) a teoria, Popper não concorda. Assim, como a respeito do método indutivo não concorda que novas observações permitam confirmar e induzir, também no método hipotético-dedutivo não concorda que se deduza algo por confirmação.

 

3.3.  O problema lógico da VERIFICAÇÃO

Ao generalizar é impossível verificar todos os casos possíveis para validar a ideia geral ou teoria, quer sejam casos do passado quer do futuro.


A verificacionismo apresenta-se sob a forma de uma inferência inválida: falácia da afirmação do consequente:

“se H, então C
C
Então H”;


Ou seja, da afirmação do antecendente podemos concluir a afirmação do consequente (Modus Ponens):

“se H, então C
H
Então C”;


mas a partir da afirmação do consequente não podemos concluir a afirmação do antecedente.


Ou seja, pelo facto de se afirmar “todos os cisnes são pretos” como Hipótese, não se conclui a sua verdade pelo facto de se verificar uma vez e outra vez cisnes pretos.


O que é possível é o seguinte: ao descobrir um cisne não preto (~C) podemos negar a Hipótese, que é o antecedente (~H).


Porquê?

 Porque a afirmação do consequente não é condição do antecedente, mas antes o inverso: o antecedente é que é condição do consequente. As regras do silogismo hipotético dizem-nos isso e afirmam que só podemos concluir sobre o antecedente a partir da negação do consequente:

Se H, então C

~C

então ~H.



[1] Conhecimento Objectivo, pp.308,309
[2] Conhecimento Objectivo, pp.95, 96

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