Críticas formuladas ao método indutivo
A indução tem alguns problemas, mas enquanto método
científico tem mais pelo rigor intelectual e objectividade que o trabalho
científico requer.
1. O
primeiro grande problema que se coloca ao método indutivo diz respeito à observação: o facto de partir da observação.
Popper
é um grande crítico desta ideia, afirma que a observação é sempre efectuada a
partir de teorias ou de um conjunto de conhecimentos prévios, que guiam e
orientam a observação. São essas teorias prévias que permitem ao cientista fazer
a focagem em determinado assunto e de determinada maneira. Pois se não houvesse
teorias prévias como se saberia o que observar? Não só o cientista não saberia
o que observar como não saberia como observar. Ou seja, cairia numa observação
ingénua, de senso comum, que olharia descontraída e naturalmente para as
coisas, como o fazemos no dia a dia. Ora a ciência não é uma actividade
‘natural’ do homem, é uma actividade artificial e como tal implica um acto de
vontade, uma vontade e uma actividade crítica que procura não se deixar iludir
pelo olhar natural e muito menos por meras associações mentais espontâneas que
fazemos ao olhar para as coisas.
Assim percebemos que o olhar do cientista é um
olhar dirigido, um olhar focado, um olhar intencional, a partir do Popper chama
“horizonte de expectativas”. É neste sentido que se transcreve a seguinte
afirmação de Popper: “uma observação (científica) é uma percepção planificada e
preparada. Não temos uma observação (ainda que possamos ter uma experiência
sensível), mas ‘fazemos’ uma observação. As observações vão sempre precedidas
por um interesse particular, uma pergunta ou um problema – numa palavra por
algo teórico. (...) Por isso as observações são sempre selectivas e pressupõem
algo como um princípio de selecção.”[1]
2. O
segundo problema colocado ao método indutivo recai sobre a própria indução. É o facto de não haver
legitimidade lógica para realizar a generalização.
2.1. Não há necessidade lógica na conclusão do raciocínio indutivo. Ou
seja da verdade das premissas não se garante a verdade da conclusão. Em termos
práticos este problema lógico traduz-se no problema seguinte: que legitimidade
existe em concluir sobre o desconhecido a partir do conhecido? Do ponto de
vista lógico não há legitimidade.
2.2. O que legitima passar de alguns casos conhecidos para todos os casos,
conhecidos e desconhecidos? É o costume e a crença na regularidade da natureza
como dizia Hume?
Popper formula esta
crítica, mas afasta-se da crítica que Hume fez ao carácter psicologista da
indução. Recordemos. Hume dizia que a indução é baseada no costume e no hábito.
É pelo hábito de ver determinado fenómeno repetido que todos nós somos levados
a induzir para o que ainda não vimos. Aliado ao hábito existe a crença que
existe uma regularidade na natureza. Isto fez Hume cair no cepticismo uma vez
que a partir do seu empirismo chegou à conclusão de que a mente humana não
trabalhava assente na racionalidade, mas por mera associação empírica, hábito e
crença.
Popper não concorda nem
com o empirismo, nem com o cepticismo e como tal não concorda que a mente
humana trabalhe por mera associação e hábito. Assim, afirma que “actuamos
baseando-nos não em repetição ou hábito, mas nas nossas teorias melhor
contrastadas que (...) são as que se vêem apoiadas por boas razões racionais;
naturalmente, possuímos boas razões para acreditar, não que são verdadeiras,
mas que são as mais válidas (...)”[2].
Conhecendo a teoria do conhecimento de Popper, facilmente concluímos que onde
Hume via costume, vê Popper a submissão da hipótese (mesmo que inconsciente) ao
real.
2.3. A
indução tem como fundamento ou justificação a própria indução. Então faz um
raciocínio circular. Ou seja a indução justifica-se porque no passado o
princípio indutivo resultou, teve êxito.
A indução resulta em x;
a indução resulta em y; (…); a indução resulta em z,
Logo, a indução resulta
sempre.
3. A verificação – processo de testagem e
validação de hipóteses e de demarcação do campo científico do campo não
científico
O
verificacionismo é
1)
um critério de cientificidade - demarca o campo científico co campo não
científico;
2)
um critério de validação das hipóteses científicas.
O
Problema do verificacionismo relaciona-se com os pressupostos positivistas que
o animam: só é conhecimento científico o que for empiricamente verificado.
Assim,
confirmando uma hipótese, por novas observações, supõe-se a sua verdade.
Ora
é nesta ideia de que é possível confirmar (verificar) a verdade de uma hipótese
ou teoria que o verificacionismo apresenta problemas...
Porquê?
O problema está na própria verificação ou
confirmação. A verificação da hipótese ao nível da testagem
visa validar a hipótese, pelo que o cientista prepara a testagem com a
finalidade de confirmar a sua hipótese.
Mas sobre a verificação podemos levantar duas objecções:
- A verificação pressupõe que se possa atingir a verdade da hipótese e como tal, após esta ser confirmada, aceita-se como verdade, de acordo com o espírito positivista que enquadra a observação/experimentação. Como consequência não há a preocupação de procurar eventuais erros e falhas que ela encerre ou procurar uma nova hipótese mais abrangente e simples – o que contraria o carácter revisível da ciência
- o processo de testagem pode ser afectado pela própria teoria. A teoria do cientista ao orientar o processo de testagem – as técnicas e os instrumentos utilizados –, permite ver aquilo que o cientista ‘quer’ ver. Ou seja dirige olhar.Este terceiro problema como já referido não diz respeito só ao método indutivo, mas também ao método hipotético-dedutivo. O método hipotético-dedutivo é o que Popper defende, mas pode ser entendido de duas formas tendo em conta o papel que a testagem das teorias nele tem. Se o papel da testagem for o de verificar (confirmar) a teoria, Popper não concorda. Assim, como a respeito do método indutivo não concorda que novas observações permitam confirmar e induzir, também no método hipotético-dedutivo não concorda que se deduza algo por confirmação.
3.3. O problema lógico da VERIFICAÇÃO
Ao generalizar é
impossível verificar todos os casos possíveis para validar a ideia geral ou
teoria, quer sejam casos do passado quer do futuro.
A verificacionismo apresenta-se
sob a forma de uma inferência inválida: falácia
da afirmação do consequente:
“se
H, então C
C
Então
H”;
Ou seja, da afirmação do
antecendente podemos concluir a afirmação do consequente (Modus Ponens):
“se
H, então C
H
Então
C”;
mas a partir da afirmação do
consequente não podemos concluir a
afirmação do antecedente.
Ou seja, pelo facto de se
afirmar “todos os cisnes são pretos” como Hipótese, não se conclui a sua
verdade pelo facto de se verificar uma vez e outra vez cisnes pretos.
O que é possível é o seguinte:
ao descobrir um cisne não preto (~C) podemos negar a Hipótese, que é o
antecedente (~H).
Porquê?
Porque a afirmação do consequente não é
condição do antecedente, mas antes o inverso: o antecedente é que é condição do
consequente. As regras do silogismo hipotético dizem-nos isso e afirmam que só
podemos concluir sobre o antecedente a partir da negação do consequente:
Se H, então C
~C
então ~H.
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