terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Moral e Ética


“ A palavra “moral” tem a ver, etimologicamente, com os costumes, pois é precisamente “costumes” o que significa a palavra latina mores, e também com as ordens, pois a melhor parte dos preceitos morais dizem qualquer coisa como “deves fazer isto” ou “não te lembre sequer de fazer aquilo”. Todavia há costumes e ordens (…) que podem ser maus, ou seja, “imorais”, por muito ordenados e costumeiros que se nos apresentem. Se quisermos aprofundar deveras a moral, se quisermos aprender a sério como empregar bem a liberdade que temos (e nessa aprendizagem consiste justamente a “moral” ou “ética” de que estamos aqui a falar), o melhor será deixarmo-nos de ordens, costumes e caprichos. O primeiro aspecto que devemos deixar claro é que a ética de um homem livre nada tem a ver com os castigos ou os prémios distribuídos por qualquer autoridade que seja – autoridade humana ou divina, para o caso tanto faz. Aquele que se limita a fugir ao castigo e a procurar a recompensa que outros dispensam, segundo normas por eles estabelecidas, não goza de condição melhor do que a de um pobre escravo. Talvez a uma criança pequena bastem o pau e a cenoura como guias de conduta, mas para alguém já mais crescidote torna-se muito triste continuar com essa mentalidade. A pessoa deve-se orientar de modo diferente. Mas é aqui necessário um certo esclarecimento dos termos. Embora eu use as palavras “moral” e “ética” como equivalentes, de um ponto de vista técnico (e desculpa-me este tom doutoral do que o costume) elas não significam o mesmo. “Moral” é conjunto de condutas e normas que tu, eu e alguns dos que nos rodeiam costumamos aceitar como válidas; “Ética” é a reflexão sobre o porquê de as considerarmos válidas, bem como a sua comparação com as outras “morais”, assumidas por pessoas diferentes.”
                                 Fernando Savater, Ética para um Jovem, Editorial Presença, Lisboa, 1994, pp. 41-42

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