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A palavra “moral” tem a ver, etimologicamente, com os costumes, pois é
precisamente “costumes” o que significa a palavra latina mores, e também com as ordens, pois a melhor parte dos preceitos
morais dizem qualquer coisa como “deves fazer isto” ou “não te lembre sequer de
fazer aquilo”. Todavia há costumes e ordens (…) que podem ser maus, ou seja,
“imorais”, por muito ordenados e costumeiros que se nos apresentem. Se
quisermos aprofundar deveras a moral, se quisermos aprender a sério como
empregar bem a liberdade que temos (e nessa aprendizagem consiste justamente a
“moral” ou “ética” de que estamos aqui a falar), o melhor será deixarmo-nos de
ordens, costumes e caprichos. O primeiro aspecto que devemos deixar claro é que
a ética de um homem livre nada tem a ver com os castigos ou os prémios
distribuídos por qualquer autoridade que seja – autoridade humana ou divina,
para o caso tanto faz. Aquele que se limita a fugir ao castigo e a procurar a
recompensa que outros dispensam, segundo normas por eles estabelecidas, não
goza de condição melhor do que a de um pobre escravo. Talvez a uma criança
pequena bastem o pau e a cenoura como guias de conduta, mas para alguém já mais
crescidote torna-se muito triste continuar com essa mentalidade. A pessoa
deve-se orientar de modo diferente. Mas é aqui necessário um certo
esclarecimento dos termos. Embora eu use as palavras “moral” e “ética” como
equivalentes, de um ponto de vista técnico (e desculpa-me este tom doutoral do
que o costume) elas não significam o mesmo. “Moral” é conjunto de condutas e
normas que tu, eu e alguns dos que nos rodeiam costumamos aceitar como válidas;
“Ética” é a reflexão sobre o porquê de as considerarmos válidas, bem como a sua
comparação com as outras “morais”, assumidas por pessoas diferentes.”
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