“A Filosofia e o Sentido – Existe sentido para a vida? Que
sentido tem a vida?”
Com este ensaio, pretendo discutir a tese de
Jean-Paul Sartre (1905-1980), filósofo existencialista. O
existencialismo, é atribuído a Søren
Kierkegaard, filósofo e teólogo dinamarquês do século XIX.
Para Kierkegaard, o homem, como indivíduo, é o único responsável
em dar significado à sua própria vida, assim como a vivê-la de
forma apaixonada e sincera. Esta corrente filosófica
desenvolveu-se entre as duas grandes guerras mundiais, que dominaram
e marcaram a primeira metade do século XX, principalmente no
contexto europeu. A colocação de questões existenciais, dá-se nos
períodos mais “negros” e devastadores da Humanidade. Percebe-se,
assim, o desenvolvimento desta corrente filosófica num dos períodos
mais destruidores da História da Humanidade. Atualmente, também
vivemos um período mais “negro”, sendo este um dos motivos da
escolha do tema. O existencialismo é uma
corrente filosófica que busca o conhecimento da realidade através
da experiência imediata da própria existência, destacando a
liberdade individual, a responsabilidade e a subjetividade. O sentido
da filosofia existencialista pode ser esclarecido em três pontos:
1.A irredutibilidade do indivíduo (afirma a originalidade da
existência individual. O verdadeiro e primário é o indivíduo e
não o todo); 2. A existência como liberdade (a estrutura da
existência não é o pensamento, mas a liberdade absoluta, que não
está submetida ou ligada a algo. Deste modo, o homem não tem uma
essência ou natureza, sendo, no seu melhor, a “invenção” da
sua própria liberdade); 3. A fenomenologia como método (a
fenomenologia – reflexão de um fenómeno – é o método de
análise da existência e, sendo como liberdade o principio
fundamental, estabelece o sentido do real e de si mesma).
De uma maneira geral, os filósofos da existência, pensam o
indivíduo como uma realidade irredutível e único. O homem é um
ser condicionado, situado no mundo, que não se reduz ao pensamento,
englobando todas as dimensões do indivíduo: a razão, a emoção, a
vontade, as circunstâncias com que se depara, etc. O homem constitui
uma existência singular e subjetiva, estando em constante
construção. Cada homem, mediante a sua liberdade, escolhe os seus
valores, construindo-se como indivíduo e procurando dar sentido à
sua existência e à realidade. O existencialismo consiste nos
princípios acima referidos.
Desenvolvimento – Tese da teoria existencialista de Jean-Paul
Sartre
Em 1946, Jean-Paul Sartre publicou o ensaio “O Existencialismo é
um Humanismo”, oferecendo uma resposta sobre a pergunta: “o que é
o existencialismo?”, visto que, na opinião de Jean-Paul Sartre, a
expressão “existencialismo” estava a ser vulgarizada e mal
empregue. Sartre procurava, também, responder às críticas dos
católicos e dos marxistas (apesar de Sartre também ser marxista),
que incriminavam o existencialismo de deixar o homem num estado de
gratuidade, onde tudo é permitido, pois se não existe Deus não há
como nos condenarmos uns aos outros, e de “obscurecer o lado
luminoso da vida”, criando um descompromisso com a solidariedade e
estagnando a ação social.
Sartre começa por explicar que usa o vocábulo “humanismo” no
sentido de que toda a ação passa pela subjetividade, como o homem é
subjetivo, toda a ação é humana. Segundo a teoria existencialista,
o homem, ao deparar-se com algo injusto, pensa “isto é humano”.
Apesar desta ideia parecer uma visão pessimista, esta é na verdade
uma conceção otimista, segundo Sartre, isto é: se é humano,
pode-se ou não realizar o dito ato, visto que não há nada além do
homem, que o coage a optar por certo ato.
Neste ponto, Sartre explica a ideia de que a existência antecede a
essência, pressuposto defendido tanto pela vertente católica, como
pela vertente ateia do existencialismo. No início da sua explicação,
Sartre expõe a ideia oposta, comparando o homem a um objeto
fabricado. No fabrico de qualquer objeto, é necessário ter um
modelo ou um protótipo, que definirá o produto. Deste modo, a
essência antecede a existência (o modelo/protótipo antecede o
produto fabricado). A partir deste ponto, as duas escolas
existencialistas diferenciam-se, tendo diferentes maneiras de
continuar a explicar a ideia da existência anteceder a essência. A
escola católica defende que existe um Deus criador, que “produz”
o homem, no seu projeto divino, por conseguinte, a essência de todos
os homens é diferente e única, pois foi concebida por Deus. Sartre,
apologista do existencialismo ateu (que não admite a existência de
Deus), defende que, por conseguinte, a existência humana antecede a
essência. O homem existe no mundo, surge no mundo, para depois se
definir como pessoa, no seu processo de crescimento. Aliás, o homem
só pode dizer o que é a humanidade, depois do próprio homem
existir, por isso, apenas se pode julgar a partir daquilo que já
está feito. Em suma: o homem é aquilo que existe, isto é, o homem
é aquilo que faz. Contudo, o homem não pode responsabilizar a
natureza, pela sua existência, porque não há nada que determine o
comportamento do homem. Ou seja, o homem faz-se a si próprio, tendo
total liberdade para escolher aquilo em que se torna (a sua
essência). Assim, nada justifica os atos humanos, sejam eles “bons”
ou “maus”. O homem está condenado à sua própria escolha.
Sartre afirma “o homem antes de mais nada é um projeto que se
vive subjetivamente”. O homem é, assim, responsável pelas
suas decisões e pelos seus atos. Como consequência, o homem não é
aquilo que idealizou ser, mas sim o projeto resultante das escolhas e
dos atos que são da responsabilidade do próprio homem. Contudo,
expressando a ideia de que o homem é responsável por si mesmo, o
existencialismo ultrapassa a ideia da subjetividade do indivíduo,
que os críticos do existencialismo querem atribuir-lhe. Isto
acontece porque, quando o homem escolhe que tipo de homem ser, este
julga como todos os homens devem ser (baseando-se no princípio de
que o homem quer o seu próprio melhor). Deste modo, o homem está
“condenado” à subjetividade humana, sendo o homem responsável
por toda a humanidade.
Neste momento, Sartre explicita a ideia existencialista de
“angústia”. Segundo Sartre, o homem, ao entender que as suas
escolhas atingem não só a si, mas a toda humanidade, fica
assombrado com a responsabilidade dos seus atos, sentindo-se
angustiado. Consequencialmente, apenas o “homem de má fé”
consegue disfarçar a angústia, disfarçando a sua responsabilidade
e atribuindo-lha a outrem. Nesta atribuição de responsabilidade, o
homem está a escolher a mentira, não só para si próprio (a sua
existência) como para a existência de todos os outros homens. Deste
modo, o homem que nega a angústia, tem na dita angústia, a sua
própria forma de existir. Sartre refere ainda que o homem sente e
sentirá, sempre, angustia em qualquer momento de decisão e
responsabilidade, porque esta decisão implica o abandono de todas as
outras vias e opções. Com isto, Sartre volta a afirmar que o homem
tem total liberdade para escolher aquilo em que se torna (a sua
essência). Considerando a liberdade como único fim moral, Sartre
afirma que, se alguém nega a dita liberdade, esse alguém pode ser
julgado como “covarde”.
Sendo o homem totalmente livre nas suas escolhas, qual o papel da
moral na corrente existencialista? Sartre defende que existem dois
tipos de moral. A moral cristã defende que o homem deve seguir o
caminho “mais duro” (Sartre não entende qual é o caminho “mais
duro”). Já a ética moral, defendida por Kant, afirma que o homem
deve tratar as pessoas como fim, e nunca como um meio. Contudo, para
Sartre esta visão também levanta problemas, pois o homem,
escolhendo algo como fim, tratará as outras opções como meios.
Segundo Sartre, não é o sentimento que determina a nossa escolha
pela moral a ser seguida. Justificar uma ação pelo sentimento terá
seu valor apenas depois de o ato ser realizado pelo homem. Portanto
não nos podemos guiar pelos nossos sentimentos, na escolha das
ações. Desta forma, também não existe uma moral que guie o homem,
pois o homem é livre nas suas escolhas. Cada escolha, implica um
compromisso com toda a humanidade. Ao escolher um projeto, o homem
opta por determinada moral.
Nesta altura, Sartre explica como vê a proposição fundamental
cartesiana: cogito, ergo sum (penso, logo existo). Para
Sartre, significa que o outro é a condição para a existência do
homem, e que sem o reconhecimento do outro, o homem não é nada.
Segundo a interpretação de Sartre, para o homem se conhecer, é
necessário que o outro o reconheça, antecipadamente. Sartre afirma
que mesmo não havendo essência, para toda a existência humana há
uma condição: “a priori, há um conjunto de limites que
esboçam a situação do homem no universo”.
Conclusão
Por fim, Sartre justifica a razão do seu existencialismo ser um
humanismo (.O “seu” existencialismo é humanista, por ser o homem
o único obreiro das suas ações. Sartre também justifica a sua
teoria como existencialista, porque o homem, ao se projetar para fora
de si próprio, acaba por se projetar no mundo. Deste modo, o homem
tem sempre a possibilidade de se superar a si mesmo, tendo a
constante liberdade de se reinventar.
Um dos maiores focos da tese de Jean-Paul Sartre é que apesar de
todas as diferenças humanas, o que o homem fará de si próprio é
uma questão em aberto. Deste modo, se características
diferenciadoras vão ser convertidas em obstáculos ou vantagens,
desafios a superar ou desculpas para nada fazer, cabe ao homem,
optar, na liberdade (único fim moral) das suas decisões e da sua
existência, que antecede a sua essência.
Bibliografia
Livro:
Paiva, Marta; Tavares, Orlanda; Ferreira Borges; José (2012)
“Contextos 11”. Porto Editora
Internet:http://criticanarede.com/existencialismo.html;
http://www.philosophy.pro.br/existencialismo.htm;
http://www.cdcc.usp.br/ciencia/artigos/art_26/sartre.html;
http://pt.wikipedia.org/wiki/Existencialismo.
Eduardo
11.º C