terça-feira, 10 de julho de 2012


Revista Science publica na sua próxima edição dois artigos científicos que invalidam alegada descoberta

A bactéria que parecia alimentar-se de arsénio... afinal não se alimentava de arsénio

10.07.2012 - 15:35 Por Ana Gerschenfeld

A bactéria que se pensou ser uma forma de vida inédita vive nos lodos do lago Mono, na CalifórniaA bactéria que se pensou ser uma forma de vida inédita vive nos lodos do lago Mono, na Califórnia (Henry Bortman)
 A descoberta, divulgada em finais de 2010, de que tinha sido encontrada uma bactéria que se alimentava de arsénio, parece agora definitivamente descartada por dois novos estudos que já se encontram online e que vão ser publicados na próxima sexta-feira, dia 13 de Julho, na edição em papel da revista Science.
Num comunicado, os editores da prestigiada revista declaram que “os novos resultados mostram claramente que a bactéria, GFAJ-1, não é capaz de trocar arsénio por fósforo para sobreviver”.

Em princípio, todas as formas de vida na Terra precisam de seis elementos de base: oxigénio, carbono, hidrogénio, azoto, fósforo e enxofre. Mas há ano e meio, num autêntico golpe mediático incentivado pela agência espacial norte-americana NASA, a equipa da astrobióloga Felisa Wolfe-Simon (da NASA), publicara, também na Science, resultados de experiências que, segundo esses cientistas, mostravam que a dita bactéria, natural do lago Mono, na Califórnia, era uma forma de vida totalmente diferente de tudo o que se conhecia até lá. Isto porque ela era capaz, num meio muito pobre em fósforo e rico em arsénio, de continuar a proliferar integrando no seu ADN e noutras moléculas o arsénio, elemento muito tóxico mas cujas propriedades são semelhantes às dos fósforo.

Logo após o anúncio, os resultados experimentais começaram a suscitar críticas entre os especialistas, que argumentavam nomeadamente que o meio de cultura das bactérias tinha na realidade fósforo suficiente para elas sobreviverem. A equipa de Wolfe-Simon, que tinha reconhecido a presença de níveis muito baixos de fosfatos nas suas amostras, concluía pelo seu lado que esses níveis eram insuficientes para sustentar a vida da bactéria.

Agora, as equipas de Tobias Erb, da Universidade Tecnológica (ETH) de Zurique, na Suíça, e de Marshall Louis Reaves, da Universidade de Princeton, nos EUA, “revelam respectivamente que, de facto, o meio [utilizado pela investigadora] apresentava uma contaminação com fosfatos suficiente para suportar o crescimento de GFAJ-1”, diz ainda o comunicado. E acrescenta que é provável que a bactéria seja exímia em captar, mesmo em condições extremas, o escasso fosfato disponível no ambiente, “o que ajudaria a explicar por que é que ela consegue crescer mesmo na presença de arsénio dentro das suas células”.

Conclusão: a bactéria “não viola as regras da vida, estabelecidas de longa data, ao contrário da interpretação que Wolf-Simon dera aos resultados da sua equipa”.

Os editores da Science salientam por último que “o processo científico é por natureza um processo que se vai auto-corrigindo, onde os cientistas tentam replicar os resultados publicados” e congratulam-se pela publicação, agora, “de informação adicional sobre a GFAJ-1, um organismo extraordinariamente resistente cujo estudo mais aprofundado merece interesse, em particular no que respeita aos mecanismos de tolerância ao arsénio”.

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