quinta-feira, 14 de junho de 2012

Análise de Obra de Arte - o Cigarro




“O Cigarro”, de Henri Lebasque



Inês Gonçalves e José Brazielas - Escola Sec. Jaime Magalhães Lima


Fauvismo
     Esta corrente, Fauvismo, constituiu a primeira vaga de assalto da arte moderna propriamente dita. Em 1905, em Paris, no Salon d’Automne, ao entrar na sala onde estavam expostas obras de autores pouco conhecidos, Henri Matisse, Georges Rouault, André Derain, Maurice de Vlaminck, entre outros, o crítico Louis de Vauxcelles julgou-se entre as feras (fauves). As telas que se encontravam na sala eram, de facto, estranhas, selvagens: uma exuberância da cor, aplicada aparentemente de forma arbitrária, tornava as obras chocantes. Caracteriza-se pela importância que é dada à cor pura, sendo a linha apenas um marco diferenciador de cada uma das formas apresentadas. A técnica consiste em fazer desaparecer o desenho sob violentos jactos de cor, de luz, de sol.

Características Fundamentais
- Primado da cor sobre as formas: a cor é vista como um meio de expressão íntimo;
- Desenvolve-se em grandes manchas de cor que delimitam planos, onde a ilusão da terceira dimensão se perde;
- A cor aparece pura, sem sombreados, fazendo salientar os contrastes, com pinceladas directas e emotivas;
- Autonomiza-se do real, pois a arte deve reflectir a verdade inerente, que deve desenvencilhar-se da aparência exterior do objecto;
- A temática não é relevante, não tendo qualquer conotação social, política ou outra.
- Os planos de cor estão divididos, no rosto, por uma risca verde. Do lado esquerdo, a face amarela destaca-se mais do fundo vermelho, enquanto que a outra metade, mais rosada, se planifica e retrai para o nível do fundo em cor verde. Paralelos semelhantes podemos ainda encontrar na relação entre o vestido vermelho e as cores utilizadas no fundo.
- A obra de arte nasce, por isso, autónoma em relação ao objecto que a motivou.           - A linguagem é plana, as cores são alegres, vivas e brilhantes, perfeitamente harmonizadas, não simulando profundidade, em total respeito pela bidimensionalidade da tela.
- A cor é o elemento dominante de todo o rosto. Esta é aplicada de forma violenta, intuitiva, em pinceladas grossas, empastadas e espontâneas, emprestando ao conjunto uma rudeza e agressividade juvenis.
- Estudo dos efeitos de diferentes luminosidades, anulando ou distinguindo efeitos de profundidade.
Dissecação da Obra

     Ao folhearmos um livro sobre História da Arte na biblioteca chamou-nos a atenção uma época de nome estranho no mínimo. O fauvismo foi uma corrente que nasceu em França em finais do século XIX e início do século XX.
     Nesse mesmo capítulo deparámo-nos com uma obra bastante interessante, retratando uma mulher sentada numa cadeira fumando um cigarro bastante descontraída e com um olhar fixo. O seu autor, Henri Lebasque, pintou esta obra de arte, de nome “La Cigarrete” em 1921, numa época em que a mulher começou a sua emancipação e a afirmar-se como um membro da sociedade, não sendo apenas um objecto ou algo negociável como se pensara até àqueles tempos. Um dos grandes marcos dessa afirmação e libertação foi o hábito da mulher começar a fumar. Nesta época fumar tornou-se chique perante a sociedade feminina. Esta obra retrata mesmo esse marco vincadamente, onde uma mulher sentada na sua cadeira relaxada (Lebasque transmite esse sentimento ao pintar a mulher com a mão apoiada na cadeira), desfruta do seu cigarro vestida com boas roupas de cor amarela e azul e usando um relógio, uma pulseira, brincos e um colar, um pequeno chapéu e os lábios pintados de vermelho, levando a crer que pertencesse a uma classe alta da sociedade. Lebasque retrata a típica mulher parisiense. No plano de trás pode-se notar a luminosidade e a cor clara das paredes e das portadas das janelas. Neste plano as tonalidades e diferentes cores distinguem os objectos, não havendo um plano a três dimensões. Ao pegar no cigarro com os dedos leva a crer que era uma mulher irreverente e despreocupada com o que os outros poderiam pensar, uma vez que tal gesto não transmite elegância, por isso se utilizavam as chamadas ponteiras. As linhas pouco delineadas e as pinceladas grossas e carregadas representam as principais características do fauvismo. A característica parece ter sido pintada de uma só pincelada transmitindo a sensação intuitiva, espontânea e violenta que os pintores fauvistas pretendiam retratar nas suas obras. A face rosada e a sua pele clara estão de tal forma interligadas que passam a ideia de quão delicada aquela mulher é, como algo que ao mínimo toque se pode quebrar. Como se aquela não existisse o resto do quadro estivesse vazio e não mais fizesse sentido algum existir. Lebasque transmite não apenas a faceta irreverente da mulher, mas também a sua delicadeza e beleza. Todo o jogo de cores, tonalidades e planos fazem a simbiose perfeita para que esta obra mereça ser reconhecida, mas acima de tudo desfrutada e saboreada por cada pessoa, pretendendo que cada pessoa crie o seu próprio juízo estético e assim possa desenvolver o seu conceito de belo, fundamentando-se no sentimento de agrado ou desagrado e na emoção que esta lhe provoca.
   Actualmente encontra-se no Museu d’Orsay em Paris.

Bibliografia
“História da Arte: As vanguardas do embolismo ao cubismo”, volume16; Edilora Salvab

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