sábado, 21 de maio de 2011

O que é um Paradigma?

“Introduzida em epistemologia no início dos anos 60, a noção de paradigma, estreitamente ligada a outras noções tais como ciência normal, ciência extraordinária e revolução, constitui uma das peças-chave da explicação Kuhniana do desenvolvimento científico.
É necessário distinguir pelo menos dois sentidos, ou funções, do termo. (…) À primeira vista, a noção é sociológica, mas sob um dos seus aspectos, que se poderia classificar de metodológico, ela é rica de implicações filosóficas. É esta última dimensão que Kuhn procura hoje isolar.
Em sentido sociológico, o conceito de paradigma procura dar conta do conjunto dos procedimentos, dos valores, das crenças e dos sucessos exemplares que dão coerência a uma comunidade científica. Trata-se, num primeiro momento, de dar conta de duas das características essenciais de uma tal comunidade: a relativa plenitude da comunicação que existente os seus membros e a relativa unanimidade dos seus juízos. (…)
A particularidade da investigação científica resulta de ser regulada pela adesão dos participantes a um ou a um conjunto de paradigmas. Com efeito, um paradigma é o “mito fundador” de uma dada comunidade científica. Consiste geralmente num sucesso científico exemplar, como os Principia de Newton ou a Teoria da combustão de Lavoisier. Após tais descobertas, não se interroga mais a natureza como se fazia até então. (…)
Um paradigma inaugura uma tradição de investigação e uma comunidade científica define-se pela adesão dos seus membros a essa tradição.
Kuhn propõe hoje substituir o termo “paradigma” entendido neste sentido sociológico e geral pelo de “matriz disciplinar”. Uma matriz disciplinar, segundo Kuhn, compreende quatro tipos diferentes de elementos.
Primeiramente, as generalizações simbólicas. (…) As generalizações guiam e ao mesmo tempo permitem a articulação de técnicas lógicas e matemáticas ao puzzle da ciência normal.
O segundo tipo de elementos são os modelos. Este termo é empregue num sentido muito largo. Kuhn propõe reunir sob esta rubrica as crenças metafísicas partilhadas pelos membros da comunidade científica assim como os modelos heurísticos propriamente ditos.
O terceiro tipo de elementos são os valores. Eles são geralmente partilhados pelos membros de várias comunidades científicas e são mais universais do que as generalizações simbólicas e os modelos.
O quarto e último tipo de elementos, e eis-nos regressados ao ponto de partida, são os sucessos exemplares ou os exemplos partilhados. É este aspecto das “matrizes disciplinares” que tinha incitado Kuhn a falar de paradigma. Os sucessos exemplares servem de modelos para a resolução dos puzzles da ciência normal. Neste sentido eles são exemplares para a solução de uma certa classe de problemas, ao mesmo título que os paradigmas de uma conjugação.”
F. Brémondy, “Paradigme”, in Encyclopédie Philosophique Universelle, Notions, Vol.2, Paris, 1990, p. 1845

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