A retórica é
uma invenção grega. Não caiu do céu, mas nasceu e desenvolveu-se num contexto
muito preciso, o das instituições políticas e, particularmente, judiciárias, de
certas cidades gregas. Estas instituições caracterizam-se pelo papel que dão à
palavra, na medida em que traduzem em debates contraditórios os conflitos que
podem opor os membros de uma mesma sociedade. O direito de todos os cidadãos à
palavra pública e eficácia desta palavra levaram a tomar a linguagem como
objecto de estudo e não apenas a servir-se dela como instrumento espontâneo de
trocas comunicacionais. (…) a persuasão pela palavra opõe-se, assim, não só ao
constrangimento físico, mas também à autoridade indiscutível e não pode
exercer-se senão dentro de certas condições: igualdade daquele que fala e
daquele ou daqueles que escutam, liberdade de tomar a palavra e liberdade de
dar ou de recusar assentimento ao que é dito.
A arte de
persuadir pela palavra nasceu numa situação assim. A retórica está, com efeito,
originalmente ligada ao regime democrático que entrou em vigor em certas
cidades gregas no fim do século VI a.C. (…) em democracia, as instituições que
regulamentam a vida do corpo social não funcionam, em princípio, senão com o
assentimento da maioria das pessoas envolvidas. (…) Donde a necessidade do
discurso, o único meio de acção que deixa o auditório livre de aprovar ou não.
F. Desbordes, La
rhétorique antique, Paris, Hachette, 1996, pp.9-11
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