Porque é que a época contemporânea precisa da retórica?
Maria Inês Ferreira Leite - 11º C
O conceito de retórica vem do grego ‘rhetor’ que significa orador. Considerada
a arte de utilizar a linguagem com o objectivo de influenciar os outros através
da persuasão, a retórica terá surgido no século V a.C, em Sicília e foi
introduzida em Atenas pelo sofista Górgias. Porém, retórica será um termo ambíguo, uma vez que tanto pode
significar arte de eloquência (arte de bem falar), como técnica de discurso
dirigido a um auditório no sentido de o levar à adesão de uma tese. Esta pode
ser utilizada moral ou imoralmente, devida ou indevidamente: quando ‘mal’
usada, temos a manipulação, em que há predominância do ethos e do pathos sobre
o logos; caso contrário, temos a persuasão em que é equilibrado o uso do pathos,
do ethos e do logos.
Inicialmente, a
retórica visava persuadir uma audiência dos mais diversos assuntos, mas acabou
por se tornar arte de ‘bem falar’, oposto Sofistas ao filósofo Sócrates e seus
discípulos. Esta oposição surgiu, sobretudo, à existência das diferentes
concepções de argumentação, verdade e
ser. O termo grego sofista designa todo o homem que possui conhecimentos
sábios em qualquer assunto. Pitágoras e Górgias eram defensores da retórica
sofística cujos pressupostos eram o relativismo
gnoseológico (a verdade não existe ou era inalcançável e intransmissível),
e o relativismo moral (a acção humana
é relativa). Segundo Sócrates e Platão, os sofistas eram manipuladores da
verdade.
Por exemplo: O
que nos cura quando estamos doentes? A Medicina que orienta as vontades segundo
a verdade, ou o cozinhar que é uma atividade empírica? Visto assim, Platão
considerava a retórica uma atividade empírica, desprezível, que manipula e
oculta a verdade e o ser. Platão defende a verdade (absoluta) quando o pensamento
(pensar) corresponde ao real (ser). Já os sofistas defendem que a verdade não é
absoluta, uma vez que a realidade depende do pensamento de cada um - relativismo.
Tendo em conta
que podemos encontrar, na história da filosofia, diversas interpretações do ser
e da verdade, podemos distinguir duas de muitas concepções:
·
Concepção Tradicional de Verdade, em que a verdade
é unívoca, absoluta, universal, necessária e intemporal – Realidade
Unidimensional
·
Concepção Contemporânea de Verdade, em que a
verdade é pluriunívoca, temporal, relativa, e probabilística – Realidade
Pluridimensional
Disciplinas como a Matemática ou a Ontologia,
baseiam-se numa verdade absoluta. Já a Filosofia, Ciências Humanas, Direito,
Política, Educação, e Artes são disciplinas que se baseiam numa verdade com
vários sentidos. Cada povo tem diferentes valores, expressões, culturas
(Realidade Pluridimensional), mas é possível que nesta realidade se encontre
uma verdade absoluta à forma de Platão.
A verdade depende da consciência
humana.
Para haver
verdade é necessário que haja um sujeito – a verdade é sempre verdade para uma
consciência. Já a realidade não necessita de consciência para existir.
A argumentação visa fornecer argumentos a
favor de uma determinada tese, que mostram a validade ou fundamento desta, com
a finalidade de provocar a adesão do auditório a essa mesma tese. Na
argumentação, a conclusão nunca está completa pois não é logicamente
necessária, sendo sujeita a ser refutada. Assim, a argumentação é importante
para saber justificar as nossas teorias, ideias e pontos de vista; para
distinguir o verdadeiro do falso e chegarmos a conclusões que consideremos
corretas, transmitindo-lhos aos outros.
Platão considera
que a retórica sempre foi o oposto da filosofia, na medida em que apenas se
preocupa com o verosímil (aparência de verdade) e com a adulação do auditório,
enquanto a filosofia visa a verdade e nasce da relação do discurso com as
coisas. A retórica, ao visar apenas a capacidade de persuasão, torna-se numa
ciência inútil e até perigosa, uma vez que poderá ser usada para fins injustos.
Assim, no século XX, Perelman dá um novo rumo à retórica, sendo um dos mais
importantes teóricos da Retórica no século XX.
Com a nova
retórica nasce um novo modelo da razão e uma nova concepção do conhecimento.
A atividade racional não se reduz ao rigor lógico (puro e formal) da
demonstração, e os nossos conhecimentos não se resumem a proposições
necessárias. A atividade racional tem uma dimensão que permite fundamentar com
‘razoabilidade’ as nossas preferências. Para mostrar estas razoabilidades, é
preciso argumentar. É necessário, assim criar uma nova lógica a que Perelman
chama Teoria da argumentação – lógica
preferível. Esta lógica fundamenta as nossas opções, escolhas e opiniões.
Emerge assim, uma nova concepção da racionalidade – racionalidade argumentativa.
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