domingo, 15 de janeiro de 2012

Retórica e verdade - Porque é que a época contemporânea precisa da retórica?


Porque é que a época contemporânea precisa da retórica?

Maria Inês Ferreira Leite   - 11º C 

 O conceito de retórica vem do grego ‘rhetor’ que significa orador. Considerada a arte de utilizar a linguagem com o objectivo de influenciar os outros através da persuasão, a retórica terá surgido no século V a.C, em Sicília e foi introduzida em Atenas pelo sofista Górgias. Porém, retórica será um termo ambíguo, uma vez que tanto pode significar arte de eloquência (arte de bem falar), como técnica de discurso dirigido a um auditório no sentido de o levar à adesão de uma tese. Esta pode ser utilizada moral ou imoralmente, devida ou indevidamente: quando ‘mal’ usada, temos a manipulação, em que há predominância do ethos e do pathos sobre o logos; caso contrário, temos a persuasão em que é equilibrado o uso do pathos, do ethos e do logos.
Inicialmente, a retórica visava persuadir uma audiência dos mais diversos assuntos, mas acabou por se tornar arte de ‘bem falar’, oposto Sofistas ao filósofo Sócrates e seus discípulos. Esta oposição surgiu, sobretudo, à existência das diferentes concepções de argumentação, verdade e ser. O termo grego sofista designa todo o homem que possui conhecimentos sábios em qualquer assunto. Pitágoras e Górgias eram defensores da retórica sofística cujos pressupostos eram o relativismo gnoseológico (a verdade não existe ou era inalcançável e intransmissível), e o relativismo moral (a acção humana é relativa). Segundo Sócrates e Platão, os sofistas eram manipuladores da verdade.
Por exemplo: O que nos cura quando estamos doentes? A Medicina que orienta as vontades segundo a verdade, ou o cozinhar que é uma atividade empírica? Visto assim, Platão considerava a retórica uma atividade empírica, desprezível, que manipula e oculta a verdade e o ser. Platão defende a verdade (absoluta) quando o pensamento (pensar) corresponde ao real (ser). Já os sofistas defendem que a verdade não é absoluta, uma vez que a realidade depende do pensamento de cada um - relativismo.
Tendo em conta que podemos encontrar, na história da filosofia, diversas interpretações do ser e da verdade, podemos distinguir duas de muitas concepções:
·        Concepção Tradicional de Verdade, em que a verdade é unívoca, absoluta, universal, necessária e intemporal – Realidade Unidimensional
·        Concepção Contemporânea de Verdade, em que a verdade é pluriunívoca, temporal, relativa, e probabilística – Realidade Pluridimensional
 Disciplinas como a Matemática ou a Ontologia, baseiam-se numa verdade absoluta. Já a Filosofia, Ciências Humanas, Direito, Política, Educação, e Artes são disciplinas que se baseiam numa verdade com vários sentidos. Cada povo tem diferentes valores, expressões, culturas (Realidade Pluridimensional), mas é possível que nesta realidade se encontre uma verdade absoluta à forma de Platão.
 A verdade depende da consciência humana.
Para haver verdade é necessário que haja um sujeito – a verdade é sempre verdade para uma consciência. Já a realidade não necessita de consciência para existir.
 A argumentação visa fornecer argumentos a favor de uma determinada tese, que mostram a validade ou fundamento desta, com a finalidade de provocar a adesão do auditório a essa mesma tese. Na argumentação, a conclusão nunca está completa pois não é logicamente necessária, sendo sujeita a ser refutada. Assim, a argumentação é importante para saber justificar as nossas teorias, ideias e pontos de vista; para distinguir o verdadeiro do falso e chegarmos a conclusões que consideremos corretas, transmitindo-lhos aos outros.
Platão considera que a retórica sempre foi o oposto da filosofia, na medida em que apenas se preocupa com o verosímil (aparência de verdade) e com a adulação do auditório, enquanto a filosofia visa a verdade e nasce da relação do discurso com as coisas. A retórica, ao visar apenas a capacidade de persuasão, torna-se numa ciência inútil e até perigosa, uma vez que poderá ser usada para fins injustos. Assim, no século XX, Perelman dá um novo rumo à retórica, sendo um dos mais importantes teóricos da Retórica no século XX.
 Com a nova retórica nasce um novo modelo da razão e uma nova concepção do conhecimento. A atividade racional não se reduz ao rigor lógico (puro e formal) da demonstração, e os nossos conhecimentos não se resumem a proposições necessárias. A atividade racional tem uma dimensão que permite fundamentar com ‘razoabilidade’ as nossas preferências. Para mostrar estas razoabilidades, é preciso argumentar. É necessário, assim criar uma nova lógica a que Perelman chama Teoria da argumentação – lógica preferível. Esta lógica fundamenta as nossas opções, escolhas e opiniões. Emerge assim, uma nova concepção da racionalidade – racionalidade argumentativa.

Janeiro de 2012

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