sábado, 10 de março de 2012

O que são os valores?


A concepção de valor varia em função dos pensadores e das teorias. assim, apresentam-se sumariamente quatro:

1 - naturalismo - o valor existe na natureza, como propriedade natural das coisas/acontecimentos/comportamentos
2 - ontologismo - o valor existe em si mesmo.
3 - psicologismo - o valor existe como estado mental, na medida em que a psique é afetada pelas objectos (realidades)
4 - Sanchez Vazquez - o valor existe na relação entre o homem (enquanto ser social) e os seus critérios valorativos e objetos (realidades).
Segundo Vasquez o valor coincide com o ato de julgar, com o juízo de valor que atribui qualidades ideais às coisas. as coisas para receberem estas qualidades, têm de ter certas qualidades reais. MAS a apreciação destas qualidades - doando-lhe qualidades ideais - faz-se através de critérios valorativos, estes são os ideais do sujeito, são o que ele tem na sua mente fruto da sua aprendizagem e da sua cultura, são os seus referentes.

terça-feira, 6 de março de 2012

O que é a moral?

Isaque Tomé


A Moral

É o conjunto de princípios e normas vigentes numa comunidade humana que permitem distinguir o certo do errado e orientam a conduta dos seus membros.
Assim,
a) pressupõe um conjunto de valores indicativos do certo e do errado;
b) estabelece normas de comportamento – indicam o que se deve fazer ou não fazer;
c) é exterior ao indivíduo, que integra no processo de socialização e endoculturação;
d) a sanção estabelece-se ao nível da consciência moral, é sobretudo uma sanção que cada um se impõe a si próprio, em função da adequação ou não do comportamento à norma moral;
e) pode ser aplicada de forma automática ou autónoma (reflectida e livre)

  • Automática: cumpre a norma por medo das sanções, porque é assim que lhe indica a tradição, porque é assim, que se lhe impõe como obrigação exterior à sua consciência - ex.: as crianças que têm medo do polícia, e por isso não roubam.
  • Reflectida: cumpre a norma porque a sua consciência, após reflexão, deliberou ser o melhor. PONDERANDO se determinado comportamento ou determinada acção, considerada boa pela moral, é correcta ou incorrecta. Então, neste caso estamos a ser seres éticos.
f) numa mesma sociedade podem existir diferentes morais, com fundamentos (religiosos, racionais, físicos) e valores distintos. Pode haver uma moral religiosa (católica, protestante, budista, … uma moral epicurista, uma moral egoísta, uma moral utilitarista, uma moral racional deontológica,...

O que é a Ética?

Isaque Tomé

Contributos para uma definição de Ética
            Etimologicamente, ética provém de dois termos gregos: éthos e êthos e pode ser entendida num duplo significado (Enciclopédia LOGOS, 1990): costume, uso ou modo visível de proceder e morada habitual, relacionando-se, assim, com o espaço íntimo de cada indivíduo. Mais especificamente, o primeiro sentido apontado relaciona-se principalmente com modos habituais de proceder na relação com os outros. Já o segundo aponta para uma perspetiva mais individual que considera o que é específico de cada um, nomeadamente, o seu modo de ser ou caráter, entendido num plano de reflexão sobre o modo de agir em função do bem e para o bem. Inserida dentro desta segunda definição, ethos tem como objecto os valores e princípios norteadores da boa conduta humana. 
              A ética remete para uma reflexão sobre os princípios que orientam a acção humana e para os fundamentos que regem a constituição de normas morais, propondo fins e ideais a realizar tendo em vista o aperfeiçoamento do ser humano.
            É precisamente a sua duplo sentido que leva alguns autores a considerarem sinónimos os conceitos de ética e moral. Porém, tal consideração é feita comparando ethos, de origem grega, e mores, proveniente do latim, traduzindo, assim, um mesmo significado ligado ao costume e modo de proceder. O conceito de ética tem sofrido alterações ao longo da história. Assim, se na antiguidade os filósofos a consideravam como o estudo dos meios para se alcançar a felicidade (Aristóteles, por exemplo defendia que a felicidade se conseguiria alcançar através da prática duma vida virtuosa, e Platão considerava que o homem só alcançaria a libertação do drama da condição humana através do conhecimento), já na Idade Média a ética confundiu-se com a moral, privilegiando princípios religiosos. No século XVIII, Kant defende que a lei moral (dever) orienta toda a ação do ser racional. Mais tarde os filósofos retomaram a ideia anteriormente defendida na antiguidade, abandonando os conceitos ligados à religião, mas tendo como princípio o pensamento humano.
            Enquanto tem um objeto de estudo autónomo face a outros saberes, a ética é ainda considerada como um ramo da Filosofia que aborda questões de moralidade, isto é, conceitos como o bem e o mal ou o certo e errado, o correto ou o incorreto. Está ligada a aspetos do comportamento humano, ao modo como conduzimos a nossa vida, como seres racionais, sendo que o seu referencial é o Bem, o Certo, o Correto.
            Atualmente, a distinção entre ética e moral costuma ser apresentada do seguinte modo: A) moral designa o âmbito da formação de normas obrigatórias e da sua hierarquização e aplicação a casos concretos, a moral, traduzindo-se na prática comportamental, é circunstancial e mutável, e está dependente dos contextos, das épocas, das sociedades, das religiões. B) ética existe como uma referência para os seres humanos em sociedade e, por isso, nos remete para uma reflexão acerca dos princípios que devem orientar a ação humana, para a fundamentação das normas que orientam a ação, para a definição dos fins e ideais que orientam ou devem orientar a existência, tendo em vista o aperfeiçoamento do ser humano.
            Importa ainda convocar Arêdes (2005:5), pela definição que propõe à margem da categorização tradicional, “enquanto a moral, porque judicativa, tem uma vocação casuística, a ética, porque propiciadora de princípios, tem de ser capaz de apresentar modelos de transformação (do agente), manifestando uma vocação ontológica, propondo o que se deve ser como condição do que se deve e pode fazer. Dito de outro modo: enquanto a moral indica o que se deve fazer, a ética indica o que se deve ser. “
            Assim, o dever que sentimos (na consciência moral) quando é exterior à nossa vontade é do domínio da Moral. O dever que nós nos impomos a nós mesmos (ao nível de uma vontade racional) por considerarmos que é o mais correto, e tem origem na nossa consciência, é do domínio da Ética.
            Confrontada com uma série de práticas morais já em vigor e, partindo delas, a ética procura determinar a essência da moral, a sua origem, as condições objetivas e subjetivas do ato moral, as fontes da avaliação moral, a natureza e a função dos juízos morais, os critérios de justificação destes juízos e o princípio que rege a mudança e a sucessão de diferentes sistemas morais.
            A ética como reflexão filosófica pode apresentar três dimensões:
1ª - disciplina descritiva do fenómeno moral;
2ª - teorização  prescritiva do que deve ser a moral;
3ª - reflexão pessoal que enquadra a  decisão concreta.
            A ética, em sentido lato, resulta da interação do homem com o seu ambiente e o seu semelhante na medida em que se consubstancia na interpelação permanente.
            A filosofia atual, numa tentativa de enquadramento sistemático e abrangente, subdivide a ética em três componentes relevantes: metaética, ética normativa e ética aplicada. Em filosofia, metaética é o ramo da ética que procura entender a natureza das propriedades éticas, enunciados, atitudes e juízos. Enquanto as éticas normativas formulam respostas para as questões como "o que alguém deve fazer?", endossando assim algumas avaliações éticas de valor e rejeitando outras, a metaética formula questões como "O que é o bem?" e "Como podemos dizer o que é bom e o que é mal?", procurando entender a natureza das propriedades e avaliações dos enunciados éticos. A ética aplicada é um estudo de ordem ética que atua num meio social, o seu comportamento e a sua aplicação nesse meio.
            

Referências
Arêdes, J (2005).Ética e Consciência. Philosophica, nº25, p 7.29.Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia - Logos (1990). Editora Verbo

segunda-feira, 5 de março de 2012

Informação, conhecimento e realidade

 
Opinião

Editorial de José Gil: O vazio das não-notícias

05.03.2012 - 07:48 Por José Gil
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José GilJosé Gil (Foto: Daniel Rocha)
 Vivemos num país desconhecido. Por baixo da informação tangível, dos números e das estatísticas, correm fluxos de acontecimentos inquantificáveis e que, no entanto, condicionam decisivamente a nossa vida. Quantas doenças psíquicas foram desencadeadas pela crise? Quanta energia vital se desperdiça na fabricação da imagem de um rosto jovem necessário exigido por tal profissão? São "dados" incognoscíveis ou imateriais, não susceptíveis de se tornarem informação. São não-notícias.
O Público deu-nos a possibilidade, neste número, de fazer aparecer esse avesso do estado da nação, levantando uma ponta do véu que o recobre e o esconde. Não se tratou, pois, de informar ou de desinformar, mas de fazer pensar diferentemente no país que temos e na informação que dele dispomos.

Ordenámos a não-informação em três categorias: o que é impossível conhecer (por exemplo, aquele factor decisivo, singular, único do "talento", que não entra numa grelha de avaliação de competências de um aluno), mas é condição essencial para que se ordene de modo inteligente, ético e eficaz a informação que se conhece; o que não se conhece mas que se poderia e deveria conhecer (o número de mortes estimado por atraso na lista de espera de uma operação) para o fazer entrar numa decisão política ou outra; o que seria possível conhecer mas que se torna impossível saber porque o seu conhecimento poria radicalmente em questão o regime das nossas sociedades pós-democráticas (por exemplo, o número de políticos corruptos). As inúmeras perguntas que fizemos aos organismos competentes receberam não-respostas, confirmando a ideia de um vazio obrigatório de informação: na secção "Pobreza" os dados recolhidos não permitem um plano de combate exaustivo e eficaz à pobreza; na secção "Política" a ausência de números oficiais sobre os políticos que detêm depósitos em offshores indica que a transparência nesse domínio subverteria o nosso regime político; e assim por diante.

O nosso país está demasiado "cheio" (de informações, imagens, bugigangas de toda a espécie) e quanto mais se enche mais se enterra o vazio essencial a que não se dá a importância que tem. Acreditamos que a informação que, por definição, vive da positividade do dado, do pleno, que nos enche os olhos e o cérebro criando a ilusão de pensamento, pode ser tratada de outra forma. A massa de informação a que hoje temos acesso contribui para uma espécie de visão global que faz da realidade um conjunto de coisas e factos objectivos - de que decorre ao mesmo tempo a despoetização do mundo e um crescente caos afectivo. Contra isso, acreditemos nas virtudes do vazio.

O que fizemos - em trabalho extraordinário de equipa - sugere a possibilidade e a necessidade de traçar um mapa de Portugal que mostre os trajectos duplos, de um pleno que constantemente atropela e exclui o vazio; e dos movimentos do vazio que abrem linhas de fuga, incita a pensar diferentemente, desencadeia poderosas forças de criação. Não estamos condenados ao que julgamos que nos condenaram. Só assim poderemos conceber reformas radicais que libertem as energias e mudem o país.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Objecção (3) ao Conhecimento como CVJ

Se houvesse uma total sobreposição entre conhecimento e verdade teríamos, como consequência, que o conhecimento substituído no processo histórico da ciência seria considerado não conhecimento. Logo todas as teorias ultrapassadas por novas conjecturas,  mais simples, abrangentes e resistentes, estariam no domínio do falso.
Isto parece absurdo uma vez que as novas teorias, muitas vezes surgem como desenvolvimento das anteriores ou como contraposição às anteriores, logo as anteriores (ainda que com erros ou falhas) têm um papel na construção do conhecimento.