segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Falácias - 1


Portugueses sem dinheiro mas só querem carros caros.



Pode este título de notícia ser falacioso? Se sim que falácia comete?


Ciência, irracionalidade e verdade


 Excerto de A Coisa Mais Preciosa que Temos. Carlos Fiolhais. Gradiva

É fácil encontrar hoje cientistas cujo discurso toca as fronteiras do racional e, por isso, as fronteiras do irracional (fronteiras essas que não são fixas). Parece-nos até, com o avanço vertiginoso da ciência, que o racional e o irracional estão por vezes muito próximos. A ciência que se desejaria racional tem amiúde assomos de irracionalidade. Para só referir exemplos da física, no quadro da teoria da relatividade geral há quem fale de viagens no tempo e no quadro da teoria quântica há quem fale de comunicação instantânea à distância. Não se deve ficar preocupado com isso. Nem se deve, por causa disso, deixar a ciência.

Em primeiro lugar, não é possível fundamentar com a ciência toda a realidade. A ciência pode tratar de muitas coisas, mas não é tudo o que o homem é capaz. A arte e a religião são, por exemplo, duas grandes actividades humanas que pouco ou nada têm de científico apesar de, naturalmente, se cruzarem com as ciências. A ciência é um processo limitado de apreensão do mundo e do homem, e não lhe pedir mais do aquilo que ela pode dar. Por vezes ela tem a tentação de entrar onde não é chamada, procurando responder a anseios humanos.

Depois, há que procurar compreender a deriva para o irracional. No livro “As Derivas da Argumentação Científica” (Instituto Piaget, 2000), a filósofa francesa Dominique Terré efectua uma análise muito interessante daquilo que pode ser visto como a irracionalidade produzida por alguns cientistas. A autora fornece-nos abundantes exemplos, como o matemático René Thom, que aplicou ou deixou aplicar a noção matemática de catástrofe bem fora do seu contexto original, o físico Brian Josephson que depois de ter ganho o prémio Nobel da Física enveredou por caminhos do misticismo, o físico Fritjof Capra, que procurou ver semelhanças entre a mecânica quântica e a filosofia oriental, o químico Ilya Prigogine, que a partir da sua teoria dos fenómenos irreversíveis procurou construir toda uma cosmovisão, o biólogo Henri Atlan, que passou da auto-organização natural para o misticismo judaico, etc. Todos eles apresentam derivas da argumentação científica, todos eles parecem de certa maneira à deriva na sua argumentação.
Em quase todos esses casos trata-se de levar metáforas e analogias demasiado longe. A metáfora e a analogia são parte essencial do discurso científico, são criadoras de racionalidade, mas uma metáfora nunca é uma descrição completa e uma analogia nunca é uma equivalência. Assim, se não houver vigilância, tanto uma como outra podem também ser geradoras de irracionalidade. As metáforas e analogias, frutos da imaginação humana, são tão úteis como perigosas. Pascal, nos seus “Pensamentos”, referiu-se à imaginação como “essa mestra do erro e da falsidade, e tanto mais velhaca que nem sempre o é”.

Olhando o planeta Terra