terça-feira, 22 de maio de 2012

A ciência e as crenças (teorias prévias) dos cientistas


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Em 1980 Alvarez Nunez avançou com a teoria de que um cometa ou asteróide teria dizimado os dinossauros, corolando uma investigação sobre uma estranha camada de 6 milimetros de argila subterrada  nos diverosos pontos do planeta.
Mas havia ainda algo muito mais profundo e mais fundamentalmente difícil de aceitar na teoria do impacto. A crença  de que os processos terrestres eram graduais fora um elemento  fundamental das ciências naturais desde os tempos de Lyell. Nos anos de 1980 o catastrofismo tinha saído de moda há Eugene Shoemaker, para a maioria dos geólogos a ideia de um impacto devastador ia “contra a sua religião científica”.

Bill Bryson, «Breve História de Quase Tudo, Bertrand Ed.

A genialidade adquirida e a arte

terça-feira, 15 de maio de 2012

A ÁGUA no planeta terra

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A possibilidade de uma sociedade Justa - a resposta de Rawls

Livros disponíveis na Biblioteca da Escola
 
Int. à Filosofia Política. J. Wolff - ver p. 85 e p.219.

 
Elementos Básicos de Filosofia,  N. Warburton - ver pp. 106 - 121.

As filosofias da humanidade - ver p.453

quarta-feira, 9 de maio de 2012

A natureza do estado: Aristóteles e a origem naturalista

Aristóteles: o estado existe por natureza

A natureza do homem – que é a inclinação natural para cumprir a sua essência, para realizar o seu próprio fim – é a de procurar a felicidade. E só seremos capazes de desenvolver a nossa natureza na cidade-estado. Esta é a comunidade mais completa, auto-suficiente e é garante das comunidades mais pequenas: famílias e aldeias. E é o corolário da tendência dos homens em viverem agregados. Os homens não vivem separados da comunidade. Aristóteles afirma que o estado é anterior ao indivíduo, pois não há indivíduos auto-suficientes.
O estado não garante apenas a sobrevivência, mas serve igualmente e sobretudo para assegurar a vida boa, a vida que se pretende vivida de acordo com os princípios da felicidade. O estado é, assim, central na vida humana, pois ele garante a ultrapassagem da dimensão animal e a realização da dimensão espiritual do homem.
Assim como a pequena comunidade aldeã ou a família é um espaço de auto-preservação, assegurando a reprodução, a cidade ultrapassa essa função: ela assegura a realização dos indivíduos, pois é um espaço de justiça e de virtude (prudência; auto-control; amizade) possibilitando a realização do que é próprio da natureza do homem: a felicidade.
Aristóteles concebe o estado como um todo, que:
assegura a sobrevivência e a vida social através de processos de regulação social, de aplicação da justiça e da justiça social e
permite que o homem cumpra a sua verdadeira natureza: a felicidade, promovendo as virtudes (condições e meios para a felicidade).

Aristóteles - a finalidade da comunidade política


A comunidade política (estado) como espaço de realização da natureza humana: as virtudes e a felicidade.

Segundo Aristóteles, a virtude não é realizável fora da vida social. A origem da vida social está em que o indivíduo não se basta a si próprio: não só no sentido de que não pode por si só prover às suas necessidades, mas também no sentido de que não pode por si, isto é, fora da disciplina imposta pelas leis e pela educação, alcançar a virtude. Por consequência, o estado é uma comunidade que não tem em vista apenas a existência humana, mas a existência materialmente e espiritualmente feliz; e é este motivo pelo qual nenhuma comunidade política não pode ser constituída por escravos ou por animais, os quais não podem participar da felicidade ou de uma vida livremente escolhida (Pol., 111, 9, 1280 a). E a este propósito Aristóteles sustenta que há indivíduos escravos por natureza enquanto incapazes das virtudes mais elevadas e que a distinção entre escravo e livre é tão natural como a que existe entre macho e fêmea e jovem e velho (lb., L, 13, 1p60 a).

Nicola Abbagnano, História da Filosofia, Vol. 1

Aristóteles: a finalidade ética da vida humana


A virtude e a felicidade 

Dado que a virtude como actividade própria do homem é a própria felicidade, a felicidade mais alta consistirá na virtude mais alta e a virtude mais alta é a teorética, que culmina na sabedoria. Com efeito a inteligência é a actividade mais elevada que existe em nós; e o objecto da inteligência é aquele que existe mais alto em nós e fora de nós. O sage basta-se a si mesmo e não tem necessidade, para cultivar e alargar a sua sabedoria, de nada que não tenha em si mesmo. A vida do sábio é feita de serenidade e de paz, pois que não se afadiga por um fim exterior cujo alcance é problemático, mas o fim está na própria actividade da sua inteligência. A vida teorética é portanto uma vida superior à humana: o homem não a vive enquanto é homem, mas enquanto tem em si qualquer coisa de divino. "O homem não deve, como dizem alguns, conhecer enquanto homem as coisas humanas, enquanto mortal as coisas mortais, mas deve tornar-se, na medida do possível, imortal e fazer tudo para viver segundo tudo quanto existe nele de mais elevado: e ainda que isto seja pouco em quantidade, em potência e valor supera todas as outras coisas" (Et. Nic., X, 7, 1177 b).
Nicola Abbagnano, História da Filosofia, Vol. 1

J. Rawls - A Origem Racional da Sociedade Justa.

A posição original 

Da mesma forma que cada pessoa deve decidir, através de uma análise racional, o que é que constitui o seu bem, isto é, o sistema de objectivos que lhe é racional prosseguir, também um conjunto de pessoas deve decidir, de uma vez por todas, o que é para elas considerado justo ou injusto. É a escolha que será feita por sujeitos racionais nesta situação hipotética em que todos beneficiam de igual liberdade - aceitando por agora que o problema colocado por escolha tem solução - que determina os princípios da justiça.
Na teoria da justiça como equidade, a posição da igualdade original corresponde ao estado natural na teoria tradicional do contrato social. Esta posição original não é, evidentemente, concebida como uma situação histórica concreta, muito menos como um estado cultural primitivo. Deve ser vista como uma situação puramente hipotética, caracterizada de forma a conduzir a uma certa concepção da justiça . Entre essas características essenciais está o facto de que ninguém conhece a sua posição na sociedade, a sua situação de classe ou estatuto social, bem como a parte que lhe cabe na distribuição dos atributos e talentos naturais, como a sua inteligência, a sua força e mais qualidades semelhantes. Parto inclusivamente do princípio de que as partes desconhecem as suas concepções do bem ou as suas tendências psicológicas particulares. Os princípios da justiça são escolhidos a coberto de um véu de ignorância. Assim se garante que ninguém é beneficiado ou prejudicado na escolha daqueles princípios pelos resultados do acaso natural ou pela contingência das circunstâncias sociais. Uma vez que todos os participantes estão em situação semelhante e que ninguém está em posição de designar princípios que beneficiem a sua situação particular, os princípios da justiça são o resultado de um acordo ou negociação equitativa. (…) Pode dizer-se que a posição original constitui o statu quo inicial adequado, pelo que os acordos fundamentais estabelecidos em tal situação são equitativos. Isto explica a propriedade da designação «justiça como equidade»: ela transmite a ideia de que o acordo sobre os princípios da justiça é alcançado numa situação inicial que é equitativa. Não decorre daqui que os conceitos de justiça e de equidade sejam idênticos, tal como também não decorre da frase «a poesia como metáfora» que os conceitos de poesia e de metáfora o sejam.

A ciencia como construção

O conhecimento cientifico como reconstrução da experiência e do real.

Quando dizemos que está quente ou frio estamos a realizar uma apreciação qualitativa e subjetiva .
Por quê?
Cada sujeito que avalia a temperatura tem ele mesmo uma temperatura que influência a sua medição do ambiente exterior, assim como a temperatura ambiente influência a medição da temperatura de um outro objecto. Por exemplo, se estiver a nevar e brincarmos com neve e de seguida lavarmos as mãos a água da torneira será quente. E se alternativamente estivéssemos à lareira e fôssemos lavar as mãos como classificaríamos a mesma água da torneira? 
A temperatura da água da torneira varia em função do ambiente em que o sujeito está assim como depende do próprio estado do sujeito. É esta razão que nos leva a dizer que a avaliação é subjetiva pois depende das circunstancias, da posição do sujeito, assim como do próprio estado do sujeito.

A esta avaliação subjetiva e qualitativa da temperatura a ciência contrapõe uma avaliação objectiva ( que não dependa da posição nem do estado do sujeito ) e quantitativa ( que seja mensurável, que se traduza por números e possa ser assim confirmada e idêntica para todos os sujeitos.

Interessa perceber que a realidade CONHECIDA é criada pelo próprio cientista. Vejamos como. 
o cientista para medir a temperatura teve que:
1º criar uma unidade de medida, tal como o metro o é para medir comprimentos - essa unidade de medida fixou que seriam 0 graus no ponto de congelação da água e que seriam 100 graus na sua evaporação.
2º sabendo que o mercúrio dilata x por calor y, isto é que dilata com uma determinada proporção em função da temperatura, criou o termómetro a mercúrio como instrumento de medida.

O instrumento termómetro dá-nos a temperatura quantitativamente e objectivamente e por isso a medição realizada por um sujeito particular será  idêntica a qualquer outra que outro sujeito fizesse no mesmo lugar e circunstâncias e ao mesmo objecto ( universalidade e intersubjectividade ).

Em conclusão:
1º - A realidade para a ciência é construída porque os fenómenos, os factos científicos só existem a partir de uma teoria e de instrumentos que estão ao seu serviço e que nos dão a conhecer tal facto – que antes não eram conhecidos.
2º - Os factos científicos são construídos também porque são objectivos, pois são concebidos, teorizados matematicamente e conhecidos quantitativamente, de forma a transmitirem características universalmente conhecidas e aceites.
3º - A ciência ao construir os factos dá-nos uma nova visão dos fenómenos e da realidade que não existiria sem a ciência.

Fazendo um confronto com o conhecimento do senso comum:
1º - Este não usa teorias nem instrumentos, o que existe é o que os sentidos captam de forma imediata.
2º - O senso comum conhece subjectivamente, isto é o conhecimento depende sempre da posição do sujeito, da sua cultura, características pessoais e da sua percepção sensorial, daí que o conhecimento seja qualitativo.
3º  - A realidade para o senso comum é aquela que a sua cultura e olhar lhe fornecem – e que jamais põe em causa – como poderia por em causa aquilo que os seus olhos vêm?

O Verificacionismo e o Falsificacionismo

O que distingue o verificacionismo do falsificacionismo?

O VERIFICACIONISMO afirma que é POSSÍVEL DEMONSTRAR A VERDADE de uma hipótese.

O FALSIFICACIONISMO afirma que SÓ é possível demoisntrar a FALSIDADE de uma hipótese.

Esta é a distinção fundamental que nos permite perceber porque na indução os cientistas ficam contentes com uma observação que confirma a teoria e perceber porque os falsificacionistas consideram isto ridículo (falácia lógica da afirmação do consequente).

Para estes a observação só tem utilidade se visar a destruição (refutação) da teoria. Assim, para estes a verdade pode ser atingida. mas se algum dia  soubermos a verdade não temos forma de o saber que isso é verdade. Só podemos pensar que a teoria é verdadeira porque não há meio de ser refutada. mas esta incapacidade pode ser sempre uma limitação dos homens.

Assim, para os falsificacionistas a ciencia evolui por tentativa e erro e por aproxima~ções sucessivas à verdade - por verosimilhança ou verosimilitude.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Método das Conjecturas e Refutações


Método Indutivo


O método Indutivo


A Indução como método científico.

O método indutivo, como o próprio nome indica, parte de observações particulares (o conhecido) para se aplicar ao geral (abrangendo o desconhecido). O raciocínio que vai do particular ao geral tem a mediá-lo uma hipótese, mesmo que possa, por vezes, ter pouca importância.
Assim, o método indutivo pode esquematizar-se da seguinte forma: partindo da observação de casos particulares, formula-se uma hipótese, que é confirmada por novos casos particulares – pode acontecer que os casos anteriores sejam suficientes para a confirmar. no final temos uma generalização ou lei.
Mas toda a indução, não sendo uma indução de tipo aristotélico, terá uma base de incerteza, mesmo que mínima. É o que acontece com as sondagens e com toda a generalização de uma qualquer amostra (por muito representativa que seja) para a população.

O verificacionismo - problematização


Abandonando-se a indução, como é que se podem distinguir as teorias das ciências empíricas das especulações pseudo-científicas, não científicas ou metafísicas?
Este é o problema da demarcação. Ele resolve-se, sugiro eu, aceitando a testabilidade, a refutabilidade ou a falsificabilidade como sendo a característica distintiva das teorias científicas. (…)
O método de procurar verificações parecia-me pouco válido – parecia-me, na verdade, ser o método típico de uma pseudociência. Apercebi-me da necessidade de se distinguir, tão claramente quanto possível, este método de um outro método – o método de testar uma teoria tão severamente quanto se for capaz – isto é, o método da crítica, o método de procurar casos que constituam falsificação.
O método de procurar verificações não era apenas acrítico: promovia também uma atitude acrítica quer em quem a expunha quer em quem lia. Ameaçava, assim, destruir a atitude de racionalidade, da argumentação crítica.
Freud era, de longe, o mais lúcido e o mais persuasivo dos expositores a que me estou a referir. Mas qual era o seu método de argumentar? Freud dava exemplos: analisava-os e mostrava que eles se encaixavam na sua teoria ou que a sua teoria podia ser descrita como sendo uma generalização dos casos analisados. Por vezes apelava aos seus leitores para que suspendessem as suas críticas e indicava que iria responder a todas as críticas sensatas em ocasiões posteriores. Mas quando eu olhei um pouco mais de perto para uns quantos casos importantes, descobri que as respostas nunca tinham chegado. De forma assaz curiosa, porém, muitos leitores estavam satisfeitos.”
                 K. Popper, O realismo e o Objectivo da Ciência, Lisboa, Publ. D. Quixote, 1997, pp. 177 e 18

Ciência, Indução e verificabilidade - problematização


 “O critério de demarcação inerente à lógica indutiva – isto é, o dogma positivista do significado ou do sentido – equivalente a exigir que todos os enunciados da ciência empírica (ou todos os enunciados com sentido) sejam susceptíveis de uma decisão definitiva com respeito à sua verdade e á sua falsidade: podemos dizer que têm de ser “ decisíveis de modo concludente”. Isto quer dizer que hão-de ter uma forma tal que seja logicamente possível tanto verificá-los como falsifica-los. (…)
Ora, em minha opinião, não existe nada que possa chamar-se indução. Portanto, será logicamente inadmissível a inferência de teorias a partir de enunciados singulares que estejam “verificados pela experiência”. Assim, pois, as teorias não são nunca verificáveis empiricamente. Se queremos evitar o erro positivista de que o nosso critério de demarcação elimine os sistemas teóricos da ciência natural, devemos eleger um critério que nos permita admitir no domínio da ciência empírica inclusive enunciados que podem verificar-se.
Mas certamente, só admitirei um sistema entre os científicos ou empíricos se é susceptível de ser contrastado pela experiência. Estas considerações sugerem que o critério de demarcação que temos de adoptar não é o da verificabilidade, mas o da falsificabilidade dos sistemas. Dito de outro modo: não exigirei que um sistema cientifico possa ser seleccionado, de uma vez para sempre, num sentido positivo; mas sim que seja susceptível de selecção num sentido negativo por meio de contrastes ou provas empíricas: “Há-de ser possível refutar pela experiência num sistema científico empírico”.
K. Popper, La lógica de la Investigacion científica, Madrid, Tecnos, 1973, pp. 39-40

domingo, 6 de maio de 2012

Ética Kantiana - 10


O Imperativo Categórico e o Imperativo Hipotético

Um imperativo categórico é um mandamento absoluto da razão, representa uma acção como objectivamente necessária por si mesma. A acção é boa em si mesma e por si mesma, independente de qualquer finalidade. O imperativo categórico é a forma que assume a lei moral, é uma imposição que o sujeito, enquanto ser racional, faz a si mesmo, à sua dimensão sensível.
O imperativo categórico, enquanto lei moral obrigante e incondicional, assume diversas fórmulas, entre as quais, “Age apenas segundo um princípio (máxima) tal que possas, ao mesmo tempo, querer que ele se torne lei universal”. A lei da razão impõe, pois, que a máxima da acção seja universalizável, isto é, seja aplicável a toda a gente.
O imperativo categórico assume também a seguinte fórmula: “Age de tal forma que uses a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca simplesmente como meio”. Quer isto dizer que não devemos tratar as outras pessoas como meros meios para alcançar os nossos intentos, mas tratá-las sempre como fins em si mesmas.
O imperativo categórico distingue-se do imperativo hipotético. Este último representa uma acção possível como meio para alcançar qualquer outra coisa que se deseja; a acção é tida como boa consoante a sua finalidade. Este tipo de imperativo emerge de uma vontade heterónoma, isto é, de uma vontade que obedece às inclinações sensíveis, a objectos que lhe são exteriores. Seguindo o imperativo hipotético, o homem, porque determinado por impulsos, desejos, inclinações, enfim, por tudo o que é exterior à sua vontade racional e autónoma, não é livre. A liberdade exige a independência da vontade às pressões da sensibilidade.
O imperativo categórico pode resumir-se da seguinte forma: Faz somente aquilo que possa ser universalizável; Considera o outro como pessoa, porque ele é um fim em si mesmo e nunca um simples meio de que te possas servir; Só seguindo o imperativo categórico alcançamos a liberdade autêntica (como autodeterminação da razão).
A ética kantiana é uma ética deontológica, pois está direccionada não para as consequências da acção, mas sim para a intenção, para o dever. Já a ética utilitarista é uma ética teleológica, pois tem sempre em vista a maior felicidade geral.
O valor moral de uma acção resulta do cumprimento do dever, ou seja, a acção é sempre uma acção por dever, daí que só as acções por dever são moralmente boas. As acções por dever impõem-se-nos pelo imperativo categórico (“Age apenas segundo um princípio tal que possas ao mesmo tempo querer que ele se torne lei universal”). Para S. Mill a moral é vista como promoção do prazer e da felicidade geral ou seja, o valor da moral reside na consequência da acção.
Para Kant a recompensa em termos de felicidade do homem não é/deve ser um bem, procurado mas resulta de o homem decidir cumprir e submeter-se à sua lei moral. Ou seja, não deve ser ela o fim da acção moral. Para a ética kantiana a vontade é autónoma pois obedece unicamente à razão, ao dever, à lei moral. Em Mill a acção é heterónoma, pois está focalizada na promoção do maior bem para o maior número – exterior à razão.

Ética Kantiana - 6 - A VONTADE


A Vontade Autónoma e a Vontade Heterónoma


A vontade é a faculdade de agir segundo princípios, representação de leis. As leis são princípios da razão, objectivos e válidos para a determinação de todos os seres racionais em geral. As máximas são as regras ou os princípios subjectivos de determinação da vontade válidos para um sujeito particular.
Uma vontade perfeita determinar-se-ia necessariamente sempre e unicamente pela razão. Todo o ser dotado de razão é capaz de ter boa vontade, que está ao alcance de todas as pessoas que ajam de acordo com uma máxima que se possa universalizar.

Como o homem é um ser dual, simultaneamente racional e sensível, a vontade não é perfeita e nunca se liberta totalmente das inclinações sensíveis (vontade heterónoma enquanto é afectada pelas inclinações sensíveis e tem a fundamentação da sua decisão/acção exterior a si) mas, torna-se uma vontade independente e autónoma enquanto racional, criadora da própria lei moral.
Só a vontade autónoma torna o homem um ser livre levando-o a actuar de acordo com a lei moral, colocando, deste modo, o dever acima de todas as inclinações sensíveis.
Para Kant, um acto só tem valor moral quando é determinado pela forma da lei moral, excluindo qualquer inclinação natural. A vontade humana tanto se pode determinar pela lei universal (vontade autónoma) como se pode deixar determinar pela inclinação sensível particular (vontade heterónoma). Assim, e lei moral deve apresentar-se como um mandamento (princípio objectivo e obrigante). Esta fórmula de mandamento chama-se imperativo, que assume uma forma categórica.
Escola Secundária Dr. Jaime Magalhães Lima
FILOSOFIA - Isaque Tomé – ESJML – Abril de 2009 

Ética Kantiana - 5 - Os 3 tipo de acção -


OS TRÊS TIPOS DE ACÇÃO
Um comerciante pode praticar um preço injusto, incorrecto, ou praticar um preço justo, correcto. No primeiro caso é evidente que a sua acção é imoral, é injusta é uma acção má – sem valor moral.
Mas praticando o preço justo, correcto, a sua acção é necessariamente BOA, tem valor moral? Dito de outra forma: basta a sua acção ser correcta ou justa para ser BOA ou ter valor moral?
NÃO. Porquê?
Considerando o exemplo do comerciante que pratica o mesmo preço para todos os clientes, podemos perguntar porque se recusa a ser desonesto?
Temos duas Hipótese:
A) Será por cálculo e interesse que procede assim?
B) Ou será por respeito pela lei moral que prescreve a honestidade?
De acordo com a Hipótese A) age correctamente para manter a reputação de honesto, ou para evitar a reputação de injusto, ganancioso, ou, ainda, para não perder a sua clientela, então age em conformidade com o dever, mas não por dever.
De acordo com a Hipótese B) age por respeito pelo dever.
Assim, temos 3 tipos de acção:
1) Quanto à acção contra o dever é o que acontece quando o comerciante explora os clientes, praticando preços abusivos. São acções que estão em contradição com o dever são, neste sentido, destituídas de valor moral.
2) No que se refere às acções conforme o dever, é o caso do comerciante que não vende os produtos mais caros para não sofrer as consequências, podia ser prejudicado posteriormente. Esta acção também não tem valor moral porque ela não passa de um meio para o comerciante obter um determinado fim, que é exterior à acção. Neste caso o comerciante não agiu unicamente em obediência ao dever, apenas agiu de acordo ou em conformidade com a lei permanecendo no plano da legalidade. Agiu por interesse pessoal.
3) A moralidade exige que se actue unicamente por respeito à lei moral, por dever. É o caso do comerciante que não vende caro porque sabe que esse é o seu dever.
Para Kant estas são as verdadeiras acções morais, pois o valor reside na intenção que anima a acção. Sendo praticadas por respeito ao dever, a acção constitui um fim em si mesmo e não um meio para obter uma recompensa (exterior e consequência posterior).Isto significa que o homem só age bem se actuar por dever. E agir por dever é agir por respeito à lei moral e não por submissão às consequências ou ao fim a atingir.

sábado, 5 de maio de 2012

Ética Kantiana - 7 - mapa Conceptual


ÉTICA KANTIANA - 8

A) um filantropo ajuda quem precisa motivado pela piedade ou pela compaixão.Um filantropo pode ajudar quem precisa por sentimento (compaixão, alegria) e isso ser algo louvável, mas isso não faz a sua acção ser moralmente correcta. É de acordo com a LEI MORAL (legalidade) mas não foi realizada sem inclinação (o interesse pessoal e o sentimento) subjectivo, dependente de cada homem enquanto ser corporal, social etc. A sensibillidade às necessidade das outras pessoas é uma razão para agir, mas não é a razão correcta do p.v. do  imperativo da razão.

B) Porque razão afirma Kant que “só o homem tem uma vontade”?Só o homem tem capacidade de decisão. A LEI MORAL está presente na mente do homem. O homem pode não a escolher, mas o homem sabe que a sua vontade é boa se escolher a lei, se por ela decidir. O homem SENTE a lei moral, SENTE o DEVER, mas tem outros motivos, outros interesses e por isso o homem pode subjectivsmente não a escolher.

C) O que entende Kant por vontade?É a faculdade racional de decisão. Só o homem tem vontade. A galinha ali no quintal pode escolher este ou aquele milho, mas não sabe que tem de decidir e não sabe porque tem de decidir e não sabe os motivos da decisão. O homem sabe que tem de decidir e conhece a LEI MORAL que se impõe como necessária e imperativo. Mas pode não a escolher. Assim, a escolha é o livre-arbítrio. A decisão de acordo com a lei moral que a razão criou para si mesma é a vontade AUTÓNOMA ou a auto-determinação humama.
Por isso é que livre-arbítro não é o mesmo que vontade autónoma.
D) A vontade humana é sempre uma vontade livre? Justifica.R:É uma vontade livre se seguir a sua própria lei (Imperativo categórico) é uma vontade “escrava”, heterónoma se seguir os interesses exteriores à sua lei moral – interesses variados e com origem na diemsnão corporal e social do homem, ..
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ÉTICA KANTIANA - 9


A Lei Moral é particular?
O termo particular opõe-se a universal. Quem concebe a LEI moral é cada homem, cada homem enquanto dotado de razão CRIA  a Lei Moral. Assim, é particular na sua concepção. 
MAS ela é comum a todos os homens pois todos nós somos dotados da MESMA razão (racionalidade) e por isso é universal. também é universal o seu IMPERATIVO, pois cada homem sente o dever de agir de acordo com o que todos os outros deveriam fazer na sua situação.


A ética Kantiana é formal?

O que é ser formal? é o oposto de material. Vejamos, na disciplina de português, analisar a forma é diferente de analisar o conteúdo de um texto. A forma relaciona-se com a sintaxe, com os estilos, com os ritmos, etc. O conteúdo relaciona-se com o que o autor quer dizer, com as ideias.

Então estamos em condições de perceber porque é a ética kantiana formal: ela não diz às pessoas qual é o bem (prazer/felicidade/glorificar Deus/ viver para os outros/ ser virtuoso/ ....) e também não diz às pessoas o que devem fazer (não roubes/ não cometas excessos/ partilha o que tens/ realiza a humanidade em ti enquanto realizas as tuas virtudes, etc.). 
Se o dissesse seria uma moral material, uma moral que apresenta um conteúdo específico para o bem. Nada disso se passa com a ética kantiana. Somente diz: age de forma que a máxima da tua acção se transforme em lei universal. Ou seja o que serve para nós deve servir para todos na nossa situação. O quê (que conteúdo)? seja o que for.

Se a ética apresenta um conteúdo, um bem pelo qual o homem deve agir, será sempre um IMPERATIVO HIPOTéTICO. O BEM - ex.: ser virtuoso. ser justo não por dever, mas ser justo PARA ser virtuosos. ser justo é uma condição para ser virtuoso. 

Isaque Tomé
Consequencialismo utilitarista e deontologia kantiana

A) O que define a moralidade de um comportamento, a intenção (agir por respeito ao dever, cumprindo o imperativo categórico) ou a consequência (o maior bem - felicidade- para o maior número e o menor mal - infelicidade - para o menor número)?

B) Será que do p.v. utilitarista podemos avaliar moralmente o comportamento de um cão que salva o seu dono? e do ponto de vista da ética kantiana?

paradigma científico e resistência à novidade


Em 1980 Luíz Nunez avançou com a teoria de que um cometa ou asteróide teria dizimado os dinossauros, corolando uma investigação sobre uma estranha camada de 6 milimetros de argila subterrada nos diversos pontos do planeta.
«Mas havia ainda algo muito mais profundo e mais fundamentalmente difícil de aceitar na teoria do impacto. A crença de que os processos terrestres eram graduais fora um elemento fundamental das ciencias naturais desde os tempos de Lyell. Nos anos de 1980 o castrotfismo tinha saído de moda há tanto tempo que se transformara numa teoria impensável. Como disse Eugene Shoemaker, para a maioria dos geólogos a ideia de um impacto devastador ia “contra a sua religião científica”».
 Bill Bryson, «Breve História de quase Tudo, Bertrand Ed.