quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Compreender e Explicar


Edgar Morin - Os sete saberes necessários à educação do futuro. Editora Piaget

Há duas formas de compreensão: a compreensão intelectual ou objectiva e a compreensão humana intersubjectiva. Compreender significa intelectualmente apreender em conjunto, comprehendere, abraçar junto (o texto e seu contexto, as partes e o todo, o múltiplo e o uno). A compreensão intelectual passa pela inteligibilidade e pela explicação.
Explicar é considerar o que é preciso conhecer como objecto aplicar-lhe todos os meios objectivos de conhecimento. A explicação é, bem entendido, necessária para a compreensão intelectual ou objectiva.
A compreensão humana vai além da explicação. A explicação é bastante para a compreensão intelectual ou objectiva das coisas anónimas ou materiais. É insuficiente para a compreensão humana.
Esta comporta um conhecimento de sujeito a sujeito. Por conseguinte, se vejo uma criança chorando, vou compreendê-la, não por medir o grau de salinidade de suas lágrimas, mas por buscar em mim minhas aflições infantis, identificando-a comigo e identificando-me com ela. O outro não apenas é percebido objectivamente, é percebido como outro sujeito com o qual nos identificamos e que identificamos connosco, o ego alter que se torna alter ego. Compreender inclui, necessariamente, um processo de empatia, de identificação e de projecção. Sempre intersubjectiva, a compreensão pede abertura, simpatia e generosidade.

O Mundo de Sofia

Romance de Jostein Gaarder

Um bom livro para conhecermos, enquanto nos divertimos, as grande ideias produzidas pelos filósofos e pensadores nos últimos 2500 anos

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Consciência - António Damásio




António Damásio
A história da consciência como nunca a tínhamos ouvido contar
22.09.2010 - Ana Gerschenfeld

Há dez anos, em "O Sentimento de Si", o neurologista português António Damásio explicava pela primeira vez a sua visão de como o cérebro humano constrói a consciência. Agora, em "O Livro da Consciência", volta ao mesmo tema, mas com uma "receita" muito mais apurada e onde mistura ingredientes que até aqui tinham ficado esquecidos nas gavetas das neurociências. Com a vibrante prosa que o caracteriza e o profundo enraizamento das suas ideias na arquitectura e nas aflições cerebrais, conta-nos a emergência da consciência no cérebro humano como nunca a tínhamos ouvido contar.
http://ipsilon.publico.pt/livros/texto.aspx?id=265790

Questões Filosóficas

Como Reconhecer as Questões Filosóficas?

☼ Possuem carácter existencial, pois a resposta que se lhes dá configura e manifesta uma forma de ver o mundo, o homem, a vida, e afecta ou tem implicações na forma como o homem age e vive.

☼ Não têm solução científica ou técnica. A sua resposta não se encontra usando uma metodologia científica, de testagem empírica, por isso podemos dizer que não se reduzem a fenómenos observáveis ou a informações que se possam obter. A sua resposta implica a reflexão filosófica.

☼ Não são questões de facto, onde a resposta é directa e empiricamente constatável. São sim questões que colocam problemas ao nível do dever ser, dos valores.

☼ Ultrapassam o campo da legalidade jurídica e colocam o problema da legitimidade e dos valores morais.

☼ Traduzem-se em interrogações gerais e abstractas que ultrapassam o âmbito individual e particular, e permitem respostas racionais.

- Abstractas porque, apesar de serem efectuadas por indivíduos particulares,
a) não incorporam os interesses pessoais nessas mesmas questões;
b) não dizem respeito a uma situação concreta, afastando-se do circunstancialismo que as pode ter provocado.

- Gerais porque têm a pretensão de ser por todos entendidas e partilháveis. Mesmo sabendo que a resposta é subjectiva podemos dizer que tem a pretensão de ser universal.

☼ São interrogações abertas, pois
a) possibilitam respostas divergentes,
b) não há soluções únicas, nem definitivas.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Definição de Filosofia - 2

O Objecto da Filosofia:
Começamos por fazer uma comparação com o objecto da ciência para melhor compreendermos o objecto da filosofia. Qualquer ciência se define pelo seu objecto (a área de estudo), por exemplo o objecto da biologia é a vida e a base da geradora dos seres vivos, a célula, a química a molécula, a sociologia o comportamento social.
Facilmente podemos perceber que cada ciência tem como objecto fenómenos que correspondem a partes da realidade. Até mesmo se considerarmos o homem como objecto ele pode sê-lo da psicologia, da sociologia, da antropologia, da medicina, etc. Ora a filosofia não tem um objecto no sentido científico do termo, pois o seu objecto não é uma área circunscrita e parcelar do real.
O seu objecto é a totalidade. A totalidade não é a soma de tudo o que existe, mas o sentido que, pela razão, o homem confere à realidade.
Dar um sentido à totalidade é dar um sentido ao real, é fundamentar e procurar a essência última do real.

Que realidade é esta abordada como totalidade?
A totalidade - universo: Qual a essência e o sentido do universo?
A totalidade – homem: Qual a essência, natureza e sentido do homem?
A totalidade – conhecimento: o que é o conhecimento? Qual a sua natureza? Quais as formas de conhecimento? O conhecimento humano produz a verdade?
Retomando o exemplo anterior o homem como objecto da ciência nunca o é como totalidade, mas cada ciência estuda parcelas dessa realidade que é o homem vendo nele diferentes realidade em função da focagem que a própria ciência imprime. Assim, o homem é conhecido cientificamente:
pela biologia como conjunto de células; pela química como moléculas; pela neurologia como dotado de um sistema nervoso – células neuronais; pela sociologia como ser gregário, que estabelece relações sociais; pela psicologia como ser dotado de uma psique com determinadas características e produtora de comportamentos; pela história como produtor de cultura e produto do passado cultural; etc.

Ora, acontece que nenhuma ciência responde às questões: o que é o homem? Qual o sentido da sua existência?
Nem mesmo se juntarmos todos os conhecimentos científicos obtemos essa resposta, pois a ciência explica o funcionamento dos diferentes aspectos do homem mas não nos dá o sentido da vida humana. Mas pela razão, o filósofo relaciona e integra conhecimentos acerca das várias áreas doando um sentido a essa integração e procurando, racionalmente, o sentido do seu objecto de estudo: seja o homem, os seus valores, a linguagem, a ética, o conhecimento, o ser...

Definição de Filosofia - 1

Definição provisória de Filosofia
Actividade racional de problematização e reflexão radical sobre o real com o intuito de conceptualizar a sua essência e o seu sentido.

Nesta definição temos de atender a três aspectos.
Primeiro, o facto de ser uma actividade e ser uma actividade humana racional, que se pratica com uso exclusivo da razão, com autonomia da razão face a outros meios de conhecimento.
Segundo, que essa actividade tem como objecto o real enquanto essência e enquanto fundamento. Assim, não é seu objecto querer saber como as coisas funcionam, mas o porquê do real, seja este o universo, seja este o conhecimento, seja este o homem.
Terceiro, a resposta acerca da essência do real implica uma resposta acerca do sentido e, quer queiramos quer não, a resposta acerca da essência do real, do conhecimento, de Deus, dos valores, afecta sempre o sentido que o homem se atribui.