domingo, 12 de dezembro de 2010

Determinismo e Liberdade

Um DILEMA clássico acerca da LIBERDADE e da RESPONSABILIDADE. O dilema de HUME, ou dilema do DETERMINISMO, pode ser esquematizado da seguinte forma:

1.ª premissa — Ou o determinismo é verdadeiro, ou é falso;
2.ª premissa — Se for verdadeiro, então não somos livres;
3.ª premissa — Se for falso, as nossas acções são aleatórias e, portanto, também não somos livres.
Conclusão — Em qualquer caso, não somos livres.

http://www.defnarede.com/d.html

Segundo o dilema, a liberdade e o determinismo seriam sempre incompatíveis - incompatibilismo - quer seja pela via do determinismo absoluto, quer pela via do indeterminismo.
Uma das formas de contrariar/refutar um dilema é mostrar que uma das premissas é falsa. Como poderia mostrar-se a falsidade de uma das premissas?

sábado, 4 de dezembro de 2010

O valor da Filosofia

O papel da Filosofia, da Poesia, da literatura e de outras disciplinas na formação dos homens.

http://camaraclara.rtp.pt/#/arquivo/193

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Problema - acção humana

Ipsílon tendo escrito uma carta com a intenção de pedir namoro a Ómega, reflectiu e considerou que isso seria um erro.
Ele amava, sim, a Clio.
Mas a sua Mãe tendo visto o envelope enviou-a sem lhe dar conta. Ómega ficou radiante.
Ipsílon pediu ou não namoro a Ómega? Porquê?

terça-feira, 30 de novembro de 2010

A natureza dos valores

Degas

Onde está o belo que o cada um de nós atribui ao quadro?
Hipótese 1: no sujeito, na sua psique?
Hipótese 2: no quadro, vive na obra material criada?
Hipótese 3: numa realidade ideal independente e depois encarna no quadro?

Desafio: criar outra hipótese.

Juízo de Valor

Um juízo é a atribuição a um conceito (sujeito) um outro conceito (classe predicativa - o predicado. temos juízos de facto, que visam descrever a realidade tal como é. são por isso verificáveis na sua verdade ou falsidade, e são por isso universais.

Um juízo de valor é um enunciado apreciativo sobre algo. é um enunciado que suporta uma opinião ou atribui uma dimensão subjectiva a um determinado objecto. Esta definição de juízo de valor não encerra já uma posição teórica? Naturalista? Psicologista? ontologista? outra?

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Silogismo Hipotético

Existe uma diferença lógica entre as seguintes expressões:

A) "se e só se..., então..."

e

B)"se..., então..."

Na lógica tal como na matemática existe uma diferença entre um enunciado condicional e um enunciado bicondicional. Esta é uma diferença que permite não nos enganarmos na resolução do problema anterior

Problema de Lógica Formal

Ípsilon, que ia passar o período de Ano Novo às Caraíbas, disse o seguinte à sua amiga Ómega:
- se no dia de Natal estiver bom tempo, então visto o meu novo fato.

No dia 26 de Dezembro, Ómega telefonou-lhe e perguntando-lhe:
- vestiste-te o teu fato novo?
Ao que Ípsilon respondeu - sim.
Nesse momento a chamada telefónica foi abaixo.
De um ponto de vista estritamente lógico poderia Ómega concluir alguma coisa mais sobre o que se passou no dia 25 nas Caraíbas?

sábado, 20 de novembro de 2010

o Libertismo

O libertismo advoga a possibilidade de o homem escolher independentemente das condicionantes constitutivas e circunstanciais. A escolha humana não só cria novas cadeias causais, ela é independente de cadeias causais. Desta forma não é uma tese compatibilista.

Quem tem razão: os determinismo, os compatibilismo, os libertismo ou o indeterminismo?

O Determinismo Moderado

O determinismo moderado concilia determinismo com livre-arbítrio.
Poderemos dizer que é o determinismo natural que possibilita o livre-arbítrio?

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

DIA INTERNACIONAL DA FILOSOFIA



Celebrated at UNESCO’s initiative every third Thursday of November since 2002, World Philosophy Day will take place this year on 18 November 2010.

http://www.unesco.org/new/en/social-and-human-sciences/themes/human-rights/philosophy/philosophy-day-at-unesco/philosophy-day-2010/

DIA INTERNACIONAL DA FILOSOFIA


"La philosophie m'a ouvert les yeux"http://www.lemonde.fr/societe/article_interactif/2010/11/18/la-philosophie-m-a-ouvert-les-yeux_1442051_3224.html

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Intervalo

TRADUZIR OU MUDAR
Genial Crónica de MIGUEL ESTEVES CARDOSO
NO PÚBLICO DE 16/11/2011


Tenho lido os “poemas mudados para português”
por Herberto Helder [HH] no livro a que
chamou O Bebedor Nocturno. Logo no “mudados
para português” se vê que está bem
escrito, acima das velhas desculpas e falsas
modéstias das traduções e das traições.
É uma obra maior, que ensina que não se pode aprender
a escrever. Mas ver escrever bem já é bem sufi ciente.
Nos Quinze Haikus Japoneses que mudou para português,
HH escolheu um de Kikaku que Bashô depois corrigiu.
Kikaku escreveu:
“Libélula vermelha./Tira-lhe as asas:/um pimentão.”
Segue-se a “Correcção de Bashô”:
“Pimentão vermelho./Põe-lhe umas asas:/Libélula.”
A correcção é gigante. O original pega numa coisa bonita
(a libélula) e tira-lhe um acessório (as asas) para mostrar
que é parecida com uma coisa feia (um pimentão).
Bashô e HH mostram que é melhor transformar uma
coisa banal (pimentão) numa coisa mágica (libélula),
dando-lhe asas. É melhor acrescentar do que remover,
fazer pensar do que fazer troça.
A libélula não precisa de ser vermelha ou de adjectivo
sequer – é das cores do arco-íris. Já o pimentão tem de
ser vermelho, porque há verdes e amarelos.
Depois, é melhor a indefinição de “umas asas” (quaisquer)
do que “as asas” (daquela única libélula). Como
voa mais a maiúscula da única palavra da terceira linha
(“Libélula.”) do que as minúsculas de “um pimentão”.
A nossa língua renasceu.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O que é o INDETERMINISMO? DESAFIO

O Indeterminismo começa por ter origem da física quântica há mais ou menos 100 anos, que explicam o que se passa no mundo sub-atómico. O indeterminismo basicamente diz-nos que causas conhecidas não permitem conhecer o futuro porque este não obedece a padrões regulares de funcionamento, é somente provável - daí que os físicos tenham abandonado a ideia do electrão a rodar à volta do núcleo atómico e lhe chamem NUVEM.

Se a realidade é indeterminada - causas conhecidas produzem efeitos imprevisíveis, então a realidade não é conhecível.
E se não é conhecível (porque não há regularidade) então o futuro não é previsível.
Ora, se todo o processo de decisão humana exige que se tenha um mínimo de conhecimento do que se está a escolher, para que a decisão tenha um mínimo de razoabilidade (de sentido racional), então toda a escolha será impossível ou absurda.

Conclusão: a liberdade é negada num mundo indeterminado.

DESAFIO: CRIAR 1 Contra-argumento que mostre que a realidade - a um nível de decisão humano - não é INDETERMINADA.

domingo, 31 de outubro de 2010

200 000


A nossa galáxia contém cerca de 200 mil milhões de estrelas, contando com 46 mil milhões de planetas como o nosso


Uma em cada quatro estrelas da nossa galáxia, semelhantes ao Sol, podem ter planetas do mesmo tamanho da Terra. Tal significa que podem existir vários milhões só na Via Láctea, dos quais uma centena com a potencialidade de albergar vida, segundo um estudo da agência espacial norte-americana (NASA).
"Os dados recolhidos dizem- -nos que a nossa galáxia, que contém cerca de 200 mil milhões de estrelas, tem ao menos 46 mil milhões de planetas do mesmo tamanho que a Terra, sem contar aqueles cuja órbita é mais afastada do seu astro mas ainda se encontram na zona habitável", disse o astrónomo Geoff Marcy, da Universidade da Califórnia, um dos principais autores do estudo publicado na revista Science. Considera-se habitável a zona que não é demasiado quente nem fria e onde pode existir água em estado líquido.
Os astrónomos que realizaram este recenseamento planetário utilizaram dois potentes telescópios ópticos e de infravermelhos, no monte Mauna Kea, no Havai. Durante cinco anos, observaram 166 estrelas situadas num raio de 80 anos-luz da Terra. Um ano-luz equivale a 9469 mil milhões de quilómetros.
Os astrónomos observaram planetas de diferentes tamanhos, desde três vezes a massa da Terra até mil vezes. Os resultado revelam que há mais planetas pequenos que grandes, logo a conclusão é que estes são mais frequentes na Via Láctea. "Tais planetas na nossa galáxia são como grãos de areia dispersos numa praia, estão por todo o lado", afirmou Marcy.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O conceito cavalo relincha?

O conhecimento científico e o conhecimento filosófico são dois tipos de conhecimento racional.

A razão é uma faculdade que procura o que há de UNIVERSAL nas coisas, por isso conseguimos criar conceitos, ideias e teorias. Os conceitos ou as leis captam aspectos essenciais de determinada realidade, desprezando (abstraindo) (d)as suas características menos importantes, secundárias, concretas (abstracção é o processo de afastamento do concreto).
Por exemplo, o conceito de cavalo não relincha, ou seja uma coisa é o cavalo particular, concreto que os olhos vêem, outra coisa é o conceito que capta o essencial a todos os cavalos e a todos (UNIVERSAL) pode ser aplicado.

A questão do conhecimento racional não é central e não sai directamente no teste, mas é importante saber o que significa dizer que o conhecimento filosófico é racional.

Isaque Tomé

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Net e privacidade



Samy Kamkar, norte-americano que em 2005 obrigou os administradores do MySpace a desligar o site, garante que ninguém tem os seus dados pessoais devidamente protegidos na Web

http://aeiou.expresso.pt/video-ihackeri-declara-morte-da-privacidade-na-net=f610217

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

DIA INTERNACIONAL DA FILOSOFIA



Celebrado por iniciativa da UNESCO na terceira quinta-feira de Novembro, o Dia Mundial da Filosofia terá lugar este ano em 18 de novembro de 2010.

Os eventos organizados pela UNESCO, ou por seus parceiros, será uma oportunidade para fazer uma reflexão filosófica acessível a todos (professores e estudantes, estudiosos e público em geral, os jovens e os menos jovens), ampliando assim as oportunidades e espaços para a estimulação do pensamento crítico e o debate.

http://www.unesco.org/new/en/social-and-human-sciences/themes/human-rights/philosophy/philosophy-day-at-unesco/philosophy-day-2010/

Objectivos para o teste 1 -10.º Ano

a) definir filosofia – o que é a filosofia?
- a filosofia é um saber? É uma actividade?
- O que significa dizer que a filosofia é um conhecimento racional?
- a filosofia procura essências e o sentido? O sentido depende da essência?
- a filosofia analisa e constrói conceitos?

b) Caracterizar a faculdade da razão humana
- Quais as características de um conhecimento racional? E de um conhecimento empírico?
- A construção de conceitos é um processo racional? O conhecimento racional implica um processo de abstracção? Porquê?

c) Esclarecer as características específicas da filosofia:
- O que é a autonomia? E a radicalidade? E a universalidade? E a historicidade?

d) Caracterizar as questões filosóficas
- Porque são abertas? O que significa dizer que são abertas?
- Porque não se restringem aos factos e às leis?
- Porque permitem várias respostas?
- Porque têm de ser argumentadas?
- O que distingue as questões filosóficas de questões não filosóficas?

e) Esclarecer o que é um objecto de conhecimento;

d) Caracterizar a atitude filosófica;

e) Problematizar e o valor da filosofia;

f) Quais os campos do saber filosófico?
- O que estuda a gnoselogia?
- O que estuda a ética?
- O que estuda a filosofia política?
- O que estuda a lógica?
- O que estuda a metafísica?
- O que estuda a estética

g) O que é um conhecimento subjectivo? E um conhecimento objectivo? Um conhecimento intersubjectivo é sempre subjectivo?

Acção Humana
i) O que é a cultura? Por que precisamos de cultura?
ii) O que significa dizer que o homem tem uma natureza adquirida?
iii) A acção forma e define o homem?

a) distinguir acontecer de fazer;
b) distinguir fazer voluntário de involuntário;
c) distinguir actos humanos de actos do homem;
d) definir acção – o que é a acção humana?
e) distinguir intenção de vontade
f) distinguir intenção de motivo;
g) distinguir intenção de finalidade;
h) distinguir consciência de vontade;
i) o que é um desejo?
j) podemos ter acções gratuitas? Ou todas as acções humanas são motivadas?
h) o motivo é uma quase-causa mas não é uma causa. Porquê?
j) na acção humana o comportamento é controlado - o que nos permite controlar o nosso comportamento?
h) o que é uma acção estratégica? É o mesmo que uma acção fim?
i) o que é uma acção base?

Instrumentos Intelectuais
a) o que é um argumento?
b) o que é uma tese?
c) o que é um contra-argumento?
d) o que é uma objecção?
e) por que é importante a colocação e formalização de problemas?
f) o que distingue um raciocínio dedutivo de um raciocínio indutivo?

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Van Gogh e Banksy





O Humor de Banksy

Problema da semana - 10.º Ano - 1

Considerando a distinção entre o acontecer (que alguém sofre, exterior à intervenção do homem, implicando a passividade deste) e o fazer (que supõe a actividade do homem, a realização, o facto de ser actor) a digestão é um acontecer ou um fazer?
E se for um fazer é involuntário ou involuntário?

E o tropeçar?

E roer as unhas?

E pensar?

E responder a isto?

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Informação, Conhecimento e Sabedoria

Cristiana Filipa - nº4 10ºA


Qual a diferença entre informação e conhecimento?
“O conhecimento é o somatório das informações que adquirimos, é a base daquilo que chamamos de cultura. Podemos adquirir conhecimento sem sequer vivermos uma só experiência fora dos livros e das aulas teóricas.” *
E a diferença de sabedoria?
“A sabedoria, por outro lado, é o reflexo da vivência, na prática, quer pela experimentação, quer pela observação, da utilização dos conhecimentos que adquirimos. Ou seja, uma pessoa culta não é necessariamente sábia, mas uma pessoa sábia é relativamente culta na sua área de sabedoria. Para se ser sábio é preciso viver e experimentar a vida.”*
*Baseado num texto de Alberto Cabral.
Será que todas as informações que recebemos se tornam em conhecimento?
Nem todas as informações que recebemos no nosso dia-a-dia se transformam em conhecimento, pois para que isso aconteça o receptor dessa mesma informação tem de lhe associar mentalmente um significado, caso a pessoa que recebe a informação não a perceba, não a vai interiorizar logo não a vai transformar em conhecimento.
Com o conhecimento que adquirimos teremos sabedoria acerca dele?
Nem sempre temos sabedoria acerca do conhecimento que vamos adquirindo, pois o saber implica experiência, prática vivencia ao longo do dia-a-dia. Uma pessoa culta por vezes não é sabia, mas uma pessoa sábia é culta, pelo menos na sua área de conhecimento e prática.

O valor da Filosofia

Turma A

Maria José Lopes - nº16, 10ºA

A filosofia é bastante importante na vida de uma pessoa, e por isso devemos procurar usá-la de maneira a conseguirmos ultrapassar certos obstáculos que o Mundo nos propõe. É importante estudar filosofia pois esta ajuda-nos a compreender a importância de examinar as questões fundamentais do sentido da nossa existência. Algumas pessoas que estudam filosofia defendem o facto de que não vale a pena viver a vida sem a examinar, por isso, necessitamos da filosofia para estarmos aptos para responder às perguntas que nós nos fazemos no dia-a-dia e para as quais não conseguimos obter uma resposta específica, tendo assim mais certezas que os princípios em que a nossa vida se baseia podem ser sólidos, mas até os examinarmos, não podemos ter essa certeza. O objectivo da filosofia não é ser uma distracção nem uma forma de passar o tempo, o seu objectivo é dar forma e estruturar a alma, ensinar o rumo da vida, orientar os nossos actos. Sem ela ninguém pode viver sem temor, ninguém pode viver em segurança, pois a toda a hora nos vemos em inúmeras situações em que necessitamos da filosofia. Esta não consiste apenas em palavras, mas sim em acções. A filosofia pode-nos dar conselhos quando nos vemos em situações complexas, em que não temos a certeza do que fazer. Viver sem criticar ou questionar as coisas é como ignorar a realidade à nossa volta; e o prazer de ver todas essas coisas que a nossa vista descobre, não é comparável à satisfação que dá o conhecimento que se encontra através da filosofia. Discutindo e criticando as ideias assimila-se mais facilmente o conhecimento do que propriamente decorando-as, pois decorar não é adquirir sabedoria. Se queremos que a boa vontade se transforme em sabedoria temos de persistir e consolidar as nossas ideias. Não devemos agir baseando-nos no senso comum nem em certezas que pensamos ser verdadeiras, devemos sim questionar até o que nos parece mais simples, e assim, evitamos cometer erros desnecessários. Apesar do valor da filosofia ser baseado na incerteza, esta aumenta a nossa capacidade de pensamento, de conhecimento e de racionalização. Por meio da questão e da crítica, esta actividade ajuda-nos a ver as situações de um modo livre e abstracto, dando-nos assim uma liberdade de pensamento e de raciocínio, e de elucidação de problemas. Por outro lado, se não agirmos filosoficamente, automaticamente passamos a ser pessoas passivas e não activas, ou seja, deixamos de ter vontade própria e poder de decisão.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Falsidade e Mentira

Débora Pereira - nº5 10ºA
Diferença entre mentira e falsidade.


Alguém diz que algo não é verdade. Logo aseguir, alguém interrompe e diz: "É mentira!"
Será realmente assim? Será que por não ser verdade, é automaticamente uma mentira? Não necessariamente. Quando algo não é verdadeiro pode ser: sim, uma mentira, mas também pode ser uma falsidade.
Qual é a discreta difrença que existe entre estes dois conceitos?
Quando é considerada uma mentira e quando é considerada uma falsidade?
É considerada uma falsidade, quando a sentença proferida não corresponde aos factos reais de um modo inconsciente ou involuntário. Ou seja: é quando alguém afirma algo que pensa ser verdadeiro na ignorância dos factos reais, e que mais tarde essa afirmação é provada como falsa.
Ao contrário da falsidade, a mentira é algo propositado, com o objectivo de que o receptor da mensagem tome o falso como o verdadeiro e o verdadeiro como o falso.
Uma ilustração que nos ajuda a entender esta difrença é: por exemplo quando alguém me pergunta as horas e eu digo: "São 2h25", quando na realidade, sem eu saber, tenho o relógio atrasado e são 2h30. Neste caso não estou a mentir, mas a minha afirmação não é verdadeira. Agora se eu sei que são 2h30 e quando alguém me pergunta, insisto em dizer que são 2h25, aí eu estou a mentir.
A ilustração tirada do comentário do Fórum: http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20090425213005AAJiA74

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Validade e Verdade

Trabalho de grupo - Acção Humana

Objectivo central do trabalho: Idntificar e articular as características essenciais da acção humana. Desenvolver competências de interpretação e de discursividade.

Tarefas-problema centrais:
A) Responder à seguinte questão: o que é a acção humana? A resposta deve ser dada discursivamente entre 15 a 40 linhas.
B) Em que medida a acção é específica do homem?
C) Criar um mapa conceptual que articule os conceitos centrais e e sirva de apresentação aos colegas.

Tarefas parcelares:
1) Para responder às questões centrais deve responder às seguintes questões específicas:
a. O que distingue o fazer do acontecer?
b. O que distingue o fazer do agir?
i. O que é isso de consciência?
ii. O que é isso de intenção?
iii. O que é isso de vontade? O que distingue a decisão da deliberação?
iv. Como distinguir vontade de desejo?
v. O que é isso de motivo? Como relacionar motivo com projecto ou finalidade?
vi. Como podemos distinguir motivo de causa?
vii. Como podemos articular estes 4 conceitos?
c. O que são condicionantes da acção? As condicionantes são determinantes?

1. A especificidade humana do agir:
1.1. O que nos acontece e o que fazemos
1.2. Acção voluntária: o papel da consciência e da vontade na caracterização dos actos humanos.
1.3. Análise da complexidade agir: a rede conceptual da acção
- Motivo, intenção e finalidade
- Consciência e vontade
2. A crença na liberdade e as condicionantes da acção humana.
3. O agente: liberdade e responsabilidade.

Temporização: a desenvolver em 3 aulas e a apresentar numa 4.ª aula.

Grupos de 3 alunos, p.p.
i) Trabalho escrito:
Texto: Times 12, 1,5 espaço. Páginas: discurso: máximo de 4 A4; Mapa conceptual: 1 página.
ii) Trabalho apresentado aos colegas: entre 10 minutos.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Compreender e Explicar


Edgar Morin - Os sete saberes necessários à educação do futuro. Editora Piaget

Há duas formas de compreensão: a compreensão intelectual ou objectiva e a compreensão humana intersubjectiva. Compreender significa intelectualmente apreender em conjunto, comprehendere, abraçar junto (o texto e seu contexto, as partes e o todo, o múltiplo e o uno). A compreensão intelectual passa pela inteligibilidade e pela explicação.
Explicar é considerar o que é preciso conhecer como objecto aplicar-lhe todos os meios objectivos de conhecimento. A explicação é, bem entendido, necessária para a compreensão intelectual ou objectiva.
A compreensão humana vai além da explicação. A explicação é bastante para a compreensão intelectual ou objectiva das coisas anónimas ou materiais. É insuficiente para a compreensão humana.
Esta comporta um conhecimento de sujeito a sujeito. Por conseguinte, se vejo uma criança chorando, vou compreendê-la, não por medir o grau de salinidade de suas lágrimas, mas por buscar em mim minhas aflições infantis, identificando-a comigo e identificando-me com ela. O outro não apenas é percebido objectivamente, é percebido como outro sujeito com o qual nos identificamos e que identificamos connosco, o ego alter que se torna alter ego. Compreender inclui, necessariamente, um processo de empatia, de identificação e de projecção. Sempre intersubjectiva, a compreensão pede abertura, simpatia e generosidade.

O Mundo de Sofia

Romance de Jostein Gaarder

Um bom livro para conhecermos, enquanto nos divertimos, as grande ideias produzidas pelos filósofos e pensadores nos últimos 2500 anos

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Consciência - António Damásio




António Damásio
A história da consciência como nunca a tínhamos ouvido contar
22.09.2010 - Ana Gerschenfeld

Há dez anos, em "O Sentimento de Si", o neurologista português António Damásio explicava pela primeira vez a sua visão de como o cérebro humano constrói a consciência. Agora, em "O Livro da Consciência", volta ao mesmo tema, mas com uma "receita" muito mais apurada e onde mistura ingredientes que até aqui tinham ficado esquecidos nas gavetas das neurociências. Com a vibrante prosa que o caracteriza e o profundo enraizamento das suas ideias na arquitectura e nas aflições cerebrais, conta-nos a emergência da consciência no cérebro humano como nunca a tínhamos ouvido contar.
http://ipsilon.publico.pt/livros/texto.aspx?id=265790

Questões Filosóficas

Como Reconhecer as Questões Filosóficas?

☼ Possuem carácter existencial, pois a resposta que se lhes dá configura e manifesta uma forma de ver o mundo, o homem, a vida, e afecta ou tem implicações na forma como o homem age e vive.

☼ Não têm solução científica ou técnica. A sua resposta não se encontra usando uma metodologia científica, de testagem empírica, por isso podemos dizer que não se reduzem a fenómenos observáveis ou a informações que se possam obter. A sua resposta implica a reflexão filosófica.

☼ Não são questões de facto, onde a resposta é directa e empiricamente constatável. São sim questões que colocam problemas ao nível do dever ser, dos valores.

☼ Ultrapassam o campo da legalidade jurídica e colocam o problema da legitimidade e dos valores morais.

☼ Traduzem-se em interrogações gerais e abstractas que ultrapassam o âmbito individual e particular, e permitem respostas racionais.

- Abstractas porque, apesar de serem efectuadas por indivíduos particulares,
a) não incorporam os interesses pessoais nessas mesmas questões;
b) não dizem respeito a uma situação concreta, afastando-se do circunstancialismo que as pode ter provocado.

- Gerais porque têm a pretensão de ser por todos entendidas e partilháveis. Mesmo sabendo que a resposta é subjectiva podemos dizer que tem a pretensão de ser universal.

☼ São interrogações abertas, pois
a) possibilitam respostas divergentes,
b) não há soluções únicas, nem definitivas.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Definição de Filosofia - 2

O Objecto da Filosofia:
Começamos por fazer uma comparação com o objecto da ciência para melhor compreendermos o objecto da filosofia. Qualquer ciência se define pelo seu objecto (a área de estudo), por exemplo o objecto da biologia é a vida e a base da geradora dos seres vivos, a célula, a química a molécula, a sociologia o comportamento social.
Facilmente podemos perceber que cada ciência tem como objecto fenómenos que correspondem a partes da realidade. Até mesmo se considerarmos o homem como objecto ele pode sê-lo da psicologia, da sociologia, da antropologia, da medicina, etc. Ora a filosofia não tem um objecto no sentido científico do termo, pois o seu objecto não é uma área circunscrita e parcelar do real.
O seu objecto é a totalidade. A totalidade não é a soma de tudo o que existe, mas o sentido que, pela razão, o homem confere à realidade.
Dar um sentido à totalidade é dar um sentido ao real, é fundamentar e procurar a essência última do real.

Que realidade é esta abordada como totalidade?
A totalidade - universo: Qual a essência e o sentido do universo?
A totalidade – homem: Qual a essência, natureza e sentido do homem?
A totalidade – conhecimento: o que é o conhecimento? Qual a sua natureza? Quais as formas de conhecimento? O conhecimento humano produz a verdade?
Retomando o exemplo anterior o homem como objecto da ciência nunca o é como totalidade, mas cada ciência estuda parcelas dessa realidade que é o homem vendo nele diferentes realidade em função da focagem que a própria ciência imprime. Assim, o homem é conhecido cientificamente:
pela biologia como conjunto de células; pela química como moléculas; pela neurologia como dotado de um sistema nervoso – células neuronais; pela sociologia como ser gregário, que estabelece relações sociais; pela psicologia como ser dotado de uma psique com determinadas características e produtora de comportamentos; pela história como produtor de cultura e produto do passado cultural; etc.

Ora, acontece que nenhuma ciência responde às questões: o que é o homem? Qual o sentido da sua existência?
Nem mesmo se juntarmos todos os conhecimentos científicos obtemos essa resposta, pois a ciência explica o funcionamento dos diferentes aspectos do homem mas não nos dá o sentido da vida humana. Mas pela razão, o filósofo relaciona e integra conhecimentos acerca das várias áreas doando um sentido a essa integração e procurando, racionalmente, o sentido do seu objecto de estudo: seja o homem, os seus valores, a linguagem, a ética, o conhecimento, o ser...

Definição de Filosofia - 1

Definição provisória de Filosofia
Actividade racional de problematização e reflexão radical sobre o real com o intuito de conceptualizar a sua essência e o seu sentido.

Nesta definição temos de atender a três aspectos.
Primeiro, o facto de ser uma actividade e ser uma actividade humana racional, que se pratica com uso exclusivo da razão, com autonomia da razão face a outros meios de conhecimento.
Segundo, que essa actividade tem como objecto o real enquanto essência e enquanto fundamento. Assim, não é seu objecto querer saber como as coisas funcionam, mas o porquê do real, seja este o universo, seja este o conhecimento, seja este o homem.
Terceiro, a resposta acerca da essência do real implica uma resposta acerca do sentido e, quer queiramos quer não, a resposta acerca da essência do real, do conhecimento, de Deus, dos valores, afecta sempre o sentido que o homem se atribui.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Net e privacidade




Apagar o passado na web? Só se mudar de nome, diz presidente da Google
por Mariana de Araújo Barbosa, Publicado em 19 de Agosto de 2010 | Actualizado há 4 horas

O presidente da Google, Eric Schmidt, alertou para a necessidade de os jovens terem de mudar de nome no futuro, de maneira a conseguirem apagar o passado da rede e esconderem asneiras da juventude.
Em entrevista ao The Wall Street Journal, Schmidt afirma temer que os mais novos não consigam perceber as consequências de terem uma quantidade elevada de informações sobre si na web.
"Não acho que a sociedade entenda o que acontece quando tudo é disponibilizado, reconhecido e registado por todos o tempo todo. Isto quer dizer que temos realmente de pensar sobre essas coisas como uma sociedade", sublinhou o responsável pelo gigante da internet.

terça-feira, 27 de julho de 2010

A cultura científica

Uma entrevista ao Físico, Professor Carlos Fiolhais

http://dererummundi.blogspot.com/2010/07/sobre-cultura-cientifica.html


P- Que características definem o conceito de cultura científica em Portugal?

R- A ciência é universal e o conceito de “cultura científica” é o mesmo aqui e em qualquer parte do mundo: a expressão refere-se à parte da vasta cultura humana que tem a ver mais de perto com o empreendimento científico, que de uma forma muito resumida pode ser entendido como a aquisição de conhecimento sobre o mundo. Afirmar que a “ciência é parte da cultura” é ultrapassar a famosa questão das “duas culturas”, a literária e a científica, que C.P. Snow colocou em 1959. Não há duas culturas, mas uma só, sendo a ciência parte inalienável dela. A posse de cultura científica é hoje considerada uma condição de cidadania, isto é, de pertença à sociedade. Mas pergunta-me por Portugal. O nosso país caracteriza-se por uma cultura científica ainda pouco generalizada, resultado de um atraso no cultivo da ciência e na disseminação dela aos cidadãos. Precisamos de mais cultura científica de modo a evitar que, entre nós, muita gente pense que a ciência e a cultura estão divorciadas.

P- Quais os principais elementos que diferenciam a cultura cientifica de outras variantes da cultura?

R- Uma das marcas maiores da ciência é o reconhecimento do erro. Ora, se um resultado científico pode estar errado, julgo que nunca se poderá dizer o mesmo de uma obra de arte. Os critérios de validação da ciência – principalmente o uso do raciocínio lógico e a concordância com a observação ou a experiência - são decerto diferentes dos de outras actividades humanas. Apesar disso, outras áreas da cultura, por muito distintas que sejam da ciência, podem e devem cruzar-se com ela, para enriquecimento mútuo. As artes em geral, que a generalidade dos cidadãos associa mais rapidamente à cultura, constituem uma dessas áreas, abrangendo subáreas como a literatura, as artes plásticas, as artes de palco, etc. Cada vez mais se tem assistido à intersecção da cultura artística com a cultura científica: por exemplo, obras de arte buscam inspiração na ciência e a ciência reinvindica o uso de elementos ou critérios estéticos. Julgo que nessa aproximação não há qualquer risco de confusão ou sincretismo. Um cientista precisa de ter imaginação, mas a sua imaginação não pode ser tão livre como a do artista, tem de estar contida na “camisa de forças” que é a realidade.

P- Como qualifica o actual estado da cultura científica em Portugal?

R- Melhorou muito nos últimos anos, com o investimento enorme que houve na ciência e na sua difusão pública no último quarto de século. Mas o ponto de partida era muito baixo. Assim, há inquéritos internacionais recentes de sociologia da ciência que mostram que os portugueses têm na sua relação com a ciência dificuldades maiores do que as de outros povos europeus. Se muito foi feito, muito há ainda a fazer neste domínio.

P- O que acha que pode ser feito para melhorar a aprendizagem das ciências e a divulgação de cultura científica em Portugal?

R- O ensino da ciência deve ser feito em larga medida na escola e aí tem residido a nossa mais importante falha. O ensino formal da ciência, como é revelado por indicadores internos (resultados dos exames de disciplinas científicas) e por comparações internacionais (PISA e TIMMS), não tem revelado progressos satisfatórios. Ora essa situação não pode ser inteiramente colmatada por via do ensino informal da ciência que sempre se efectua quando há divulgação da cultura científica (através dos média, dos museus e centros de ciência, etc.). Arriscaria dizer que, nos últimos anos, progredimos mais no ensino informal do que no ensino formal da ciência, mas o progresso tanto de um modo como doutro não foi suficiente. Importa, por isso, enfrentar em particular o problema da ciência na escola, começando, na minha opinião, o mais cedo possível. O recurso à experimentação no ensino básico (e, antes disso, mesmo no jardim-escola) é uma via que nos falta percorrer de uma forma mais convicta e eficaz. Para isso, é mister formar mais adequadamente professores desse nível de ensino, melhorar currículos e fornecer bons materiais. Claro que, ao fazer isto na escola, tem de se continuar a fazer tudo aquilo o que já se faz fora da escola, como acontece nas actividades do Ciência Viva, e sempre que possível em coligação com a escola.

P- Qual é o papel do governo na divulgação do conhecimento e da cultura científica?

R- A causa da ciência e da cultura científica é uma causa pública. Diz, portanto, respeito ao governo no qual, em democracia, delegamos a organização da escola pública e dos meios públicos de promoção da cultura científica. Sem investimento público não podemos esperar que a ciência cresça e a cultura científica avance. É também para isso que pagamos os nossos impostos e participamos em eleições. Mas essa delegação não nos isenta das nossas responsabilidades. A causa da ciência diz respeito às empresas e outras instituições privadas, assim como, em geral, aos cidadãos, na medida dos seus saberes e possibilidades. Parte substancial do investimento em ciência e cultura científica deve ser não governamental. Nas sociedades mais avançadas as empresas e os cidadãos dispõem de amplo espaço de iniciativa e podem envidar esforços que se somam ao esforço dos governos. Apesar de alguma aproximação no passado mais recente, Portugal não alcançou ainda um estádio de desenvolvimento suficiente para que o investimento privado na ciência exceda largamente o público, como acontece por exemplo nos países do Norte da Europa.

P- Qual foi o impulso dado à cultura científica pelo programa Ciência Viva?

R- A Agência Ciência Viva tem concretizado vários projectos, que confluem todos eles na defesa e alargamento da cultura científica. Sem o Ciência Viva estaríamos muito piores. Foi uma das boas ideias que frutificaram entre nós nos últimos tempos e só espero que continue o bom trabalho que tem realizado. Em Coimbra, temos desde há pouco tempo o Centro Ciência Viva Rómulo de Carvalho a funcionar em pleno, em homenagem ao grande poeta e divulgador de ciência.

P- Qual foi o papel da “Física Divertida” no panorama nacional da divulgação científica?

R- “Física Divertida” é um livro que escrevi em 1991 e que teve uma sequela, há três anos, com “Nova Física Divertida”. Nesses livros apenas pretendi contar algumas histórias da física, clássica primeira e moderna depois, de uma maneira compreensível para um público alargado, na tradição de outros livros de divulgação científica. Se o consegui ou não, não sei. Não posso ser juiz em causa própria.

P- Acha que existe um público alvo para a cultura científica, ou assimilação desta é universal e acessível a todas as faixas etárias e classes sociais?

R- A cultura científica deve ser de todos. Em particular, é para todas as idades, e é tanto para pobres como para ricos. Claro que os mais jovens estão numa fase da vida mais particularmente susceptível à aprendizagem, na fase em que frequentam a escola. E claro que os pobres ficarão ainda mais pobres se, na escola e fora dela, não lhes for proporcionada a cultura científica. Deve haver uma atenção especial tanto para os mais jovens como para os mais pobres.

P- À luz do conhecimento cientifico hoje existente, e considerando que o progresso é imparável, quais são os limites impostos à ciência pela ética?

R- A ciência tem de ser acompanhada por consciência, isto é, não pode desenvolver-se sem a ética. Pode-se fazer muita coisa na investigação científica, mas nem tudo se deverá fazer. Os limites devem ser impostos não apenas pelos próprios cientistas, mas pela sociedade em geral. Esses limites têm de ser continuamente pensados e redefinidos.

P- Se alguém lhe dissesse que é possível alcançar a verdade absoluta que resposta daria?

R- É possível, de facto, alcançar o conhecimento, como mostra toda a história da ciência. Quanto à “verdade absoluta”, não sei o que é isso. A ciência é cumulativa, isto é, cada vez se sabe mais e o que se sabe de novo não prejudica tudo o que se sabe, mas apenas uma pequena parte. Como este processo tem sido contínuo, é difícil defender, em ciência, o conceito de “verdade absoluta”. Mas é perigoso cair na contingência e no relativismo: há conhecimentos que foram adquiridos e que não vão mudar, como, por exemplo, a Terra é o terceiro planeta mais distante do Sol, que o nosso corpo é feito de células, etc.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Uma mente que Brilha - a entrevista


A sua mente só pode ser brilhante - uma beautiful mind, como reza o título original da aclamada biografia que a jornalista Sylvia Nasar publicou em 1998, e que por sua vez inspirou, em 2001, o filme homónimo de Ron Howard, com Russell Crowe no papel principal. Só assim é que se explica a extraordinária história de John Nash.

Nascido em 1928 nos Estados Unidos, Nash doutorou-se em 1950 pela Universidade de Princeton com uma tese de apenas 27 páginas que viria revolucionar a área matemática da Teoria dos Jogos. O "equilíbrio de Nash", que ele definiu nessa altura, faz hoje parte do vocabulário corrente desta disciplina científica.

A partir de finais dos anos 50, Nash desenvolveu esquizofrenia paranóide. A sua vida familiar e a sua carreira como matemático (já era considerado um génio por alguns) foram tragicamente truncadas. Perdeu o emprego, divorciou-se da mulher, Alicia, foi hospitalizado, medicado e tratado à força. Tornou-se um espectro de si próprio. Mesmo assim, durante os raros intervalos livres de delírio, continuou a fazer matemática de grande qualidade.

Nos anos 1970, Alicia voltou a acolhê-lo em sua casa (mais tarde voltariam a casar) e Nash regressou a Princeton. Passava o tempo a gatafunhar misteriosos códigos numéricos nos quadros e tornou-se conhecido como o "fantasma de Fine Hall" (o edifício do departamento de Matemática).

A partir de finais dos anos 1980, depois de 30 anos mergulhado nos delírios da esquizofrenia, começou a melhorar e em 1994 recebeu o Prémio Nobel da Economia.

Nash esteve esta semana em Portugal para participar na 24.ª Conferência Europeia de Investigação Operacional, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Na segunda-feira à tarde, deu uma conferência na Aula Magna e, no sábado anterior, falou ao P2 sobre o seu singular percurso de vida e o seu trabalho científico passado e actual.

Revê-se na personagem interpretada por Russell Crowe no filme Uma Mente Brilhante, de Ron Howard? A história do filme é próxima da verdade ou muito afastada dela?

O filme é uma ficção selectiva, mas não está completamente afastada da realidade. Alicia e eu fomos consultados - isso fazia, aliás, parte do contrato do filme. Portanto, eles tinham licença artística, mas isso não tornou a história completamente fictícia.

Não diria que me revejo nele. O filme não diz absolutamente nada sobre os meus anos de formação, antes da minha chegada à Universidade de Princeton.

O seu contributo para a Teoria dos Jogos foi muito importante. O que é a Teoria dos Jogos?

A expressão "teoria dos jogos" é uma descrição popular. A mesma área científica poderia ter tido outro nome. A Teoria dos Jogos foi desenvolvida com a publicação de um livro [em 1947], por John von Neumann e Oskar Morgenstern, intitulado em inglês Theory of Games and Economic Behavior (Teoria dos jogos e Comportamento Económico), que se tornou muito influente. Mas Von Neumann já tinha publicado na Alemanha em 1928 - o ano em que eu nasci - um artigo intitulado Zur Theorie der Gesellschaftsspiele, que significa "jogos sociais". E antes disso, tinha sido publicado em França um artigo com théorie du jeu no título. Von Neumann também publicou uma nota [em 1928] na Comptes Rendus de l"Académie des Sciences onde falava de théorie des jeux. Foi assim que o nome ficou.

É algo que permite a modelização matemática de comportamentos sociais e económicos?

Sim, mas com a ênfase nas escolhas alternativas e na ideia de estratégia - uma palavra de origem grega que significa a escolha de uma política. Há estratégia no xadrez e noutros jogos. Pode haver uma estratégia no futebol.

Só que, aí, as estratégias têm como objectivo fazer com que o outro perca.

É o que chamamos um jogo de "soma zero". Todos os jogos de entretenimento e desportivos são desse tipo. Também podem ser de "soma constante", com um certo benefício para ambos os lados, como a final de um Mundial de futebol - mas onde o vencedor beneficia mais do que o outro.

E também há jogos onde todos perdem...

Sim, são os jogos de soma negativa. Por exemplo, podemos imaginar uma situação em que uma prisão obriga prisioneiros a entrar num duelo onde apenas um irá sobreviver.

No filme, há uma cena onde a sua personagem está à procura da solução para o problema dos jogos ditos não-cooperativos. Estão num bar, há um grupo de raparigas e o protagonista percebe de repente que...

Deixe-me interromper. A teoria dos jogos no filme não está nada bem apresentada. O argumentista não era um perito em teoria dos jogos.

O seu contributo para a teoria dos jogos é hoje conhecido como "equilíbrio de Nash" e mudou a maneira de fazer teoria dos jogos aplicada à economia. O que é o equilíbrio de Nash?

O equilíbrio de Nash define-se em termos de estratégias, do conceito de estratégia do jogador. Temos dois, três ou mais jogadores. Cada jogador tem um número finito de acções ou estratégias "puras" pelas quais pode optar, fazendo isto ou aquilo. Mas também existem estratégias mistas, que são planos baseados numa mistura de estratégias puras, em que uma certa probabilidade de ser escolhida é atribuída a cada estratégia pura.

Assim, se um jogador tiver três escolhas possíveis, três acções puras entre as quais optar, poderá optar por uma delas com uma probabilidade de 20 por cento, pela segunda com 50 por cento e pela terceira com 30 por cento, o que dá 100 por cento. E o conjunto das estratégias mistas dos jogadores apresenta um equilíbrio quando nenhum dos jogadores pode mudar de estratégia e aumentar os seus benefícios. O benefício tem de ser calculável a partir da estratégia mista em questão. Calcula-se o benefício previsto para todos os jogadores e cada jogador olha para a sua fatia.

Quando duas empresas competem pelo mesmo mercado, usam a sua teoria para ver se compensa produzir mais ou menos, ou subir ou descer os preços?

Essa é considerada uma óptima área de aplicação da teoria. Existe uma abordagem clássica que é equivalente a uma análise de teoria dos jogos em certos casos especiais. É o chamado equilíbrio de Cournot. É um conceito certamente mais antigo do que o equilíbrio de Nash, mas é um caso particular. Augustin Cournot, economista francês do século XIX, considerou o caso em que duas empresas produziriam algo para o mesmo mercado - dois grandes produtores de leite, por exemplo.

Se uma dada quantidade de leite é produzida, pode ser vendida por um certo preço; se produzirem mais, não vão conseguir vender o leite por um preço tão bom. Por outro lado, se produzirem menos, o preço sobe, mas também há um limite. E se produzirem muito pouco, pode ser preciso importar leite.

Pode então existir um equilíbrio de Cournot em que cada um deles produz uma certa quantidade do produto - e em que nenhum deles pode produzir mais ou menos e obter uma vantagem. Mas, aqui, trata-se de um jogo não-cooperativo com dois jogadores onde o equilíbrio reside numa estratégia pura.
http://jornal.publico.pt/noticia/15-07-2010/a-minha-mente-tem--a-historia--que-tem-19827222.htm

terça-feira, 13 de julho de 2010

Neurociências, Humanidade e Filosofia



"As neurociências reforçam a visão humanista"

Para este conhecido cientista francês, quanto melhor for o nosso conhecimento do cérebro humano através das neurociências, maior será a nossa abertura em relação à espécie humana. Já lá vão os tempos em que afirmar este tipo de coisas era anátema. Por Ana Gerschenfeld (texto) e Nuno Ferreira Santos (fotografia)

Nos anos 1980, Jean-Pierre Changeux, especialista de neurobiologia molecular hoje com 74 anos, escreveu um livro, O Homem Neuronal, que se tornou um best-seller mundial, onde desmontava a noção, em voga na altura, de que o cérebro, com os seus impulsos químicos e eléctricos, era uma simples máquina - um computador. Para ele, perguntas como "O que é ser humano? O que é a consciência? O que é o pensamento? A verdade? A beleza? exigiam respostas menos mecanicistas, mais "humanas", mais multidisciplinares - exigiam a construção de uma ponte entre o puramente neuronal e o nosso universo cognitivo, mental.

O livro gerou controvérsia - o que, volvidas várias décadas e muitos avanços das neurociências e das ciências cognitivas em geral, parece quase incompreensível. Hoje, sabemos quão importantes são as emoções - que os computadores claramente não possuem - para um normal funcionamento da mente humana.

Changeux também se interessou sempre pelas questões éticas ligadas às neurociências. Afirma que é possível construir "uma neurociência da pessoa humana", para retomar uma parte do título da conferência que proferiu em Lisboa, há umas semanas, no âmbito de um colóquio franco-português sobre ética e neurociências, promovido pela Embaixada de França e o Instituto Gulbenkian de Ciência. E espera que um dia os seres humanos consigam viver em maior harmonia entre si - uma visão que, como confessou ao P2, pode pecar por optimismo...

No passado, temas como o sentido moral ou a espiritualidade não eram objecto de estudo das neurociências. O que é que levou a uma mudança tão radical?

A mudança foi fruto de uma longa evolução. Nos anos 1970, os progressos da biologia molecular permitiram uma primeira revolução ao federar áreas de estudo tão diversas como a psicologia, a sociologia, a anatomia cerebral, a fisiologia cerebral, a farmacologia, a genética, etc. Verificou-se uma espécie de enraizamento da fisiologia nervosa na biologia molecular e, ao mesmo tempo, foi possível relacionar comportamentos com estados fisiológicos de conjuntos de neurónios. Começou-se pelo estudo de sistemas simples, como a aplísia [uma lesma] ou o caracol e, progressivamente, passou-se para o ratinho e para sistemas mais complexos e para o ser humano. Isso aconteceu graças aos avanços das ciências cognitivas - com estudos de psicologia da percepção, da linguagem, do acesso à consciência - e graças à sequenciação do genoma humano, que permitiu relacionar a variabilidade genética com a predisposição para doenças neurológicas e psiquiátricas.

Paralelamente, as tecnologias de visualização permitiram estabelecer relações entre a actividade de conjuntos de neurónios no nosso cérebro e estados psicológicos - e perceber a importância de certos traços do cérebro humano que são geneticamente determinados. Houve assim aspectos da psicologia, da antropologia, da cultura, que passaram a ter a ver com as neurociências.

Começam a existir modelos e dados sobre a internalização da cultura e a sua produção - isto é, sobre a forma como os circuitos cerebrais se modificam ao longo do desenvolvimento, da aprendizagem da oralidade e da escrita, do estabelecimento de regras de conduta moral, da criação artística.

Estão a surgir novas sínteses e penso que, no que respeita às relações das neurociências com a ética, a estética, a epistemologia, vislumbram-se programas de investigação que irão desenvolver-se nos próximos anos. Já não se trata de filosofia - sem querer criticar a filosofia, que acho que continua a ser necessária. Já não estamos no domínio do discurso, mas no domínio da experimentação e da pesquisa de dados objectivos.

Há uns anos, tê-lo-iam acusado de reducionismo. Hoje, já não. Porquê?

Fui durante muito tempo alvo de críticas dessa natureza. A palavra reducionismo tinha uma conotação muito pejorativa. Havia quem pensasse que eu estava a incluir neste campo de pesquisa tudo o que era do domínio cultural. Através de vários livros, tentei mostrar que não era nada disso. O Homem Neuronal, que escrevi em 1983 e que foi traduzido para inglês em 1985 [e publicado em Portugal pela Dom Quixote no mesmo ano], provocou um choque porque era, a meu ver, a primeira síntese das disciplinas que vieram integrar as neurociências. Foi uma primeira tomada de consciência de que uma nova ciência estava a emergir. Acho que o meu livro foi difícil de aceitar porque, pelo menos nas nossas sociedades ocidentais, existe uma visão dualista do corpo e da mente. Mas sempre houve filosofias monistas, desde os atomistas da Antiguidade até Spinoza, Diderot e muitos outros.

Tem havido sem dúvida uma evolução da reflexão, talvez a começar pelos filósofos e os media, e uma maior aproximação do público ao mundo das neurociências.

Os media?

Sim, os media tiveram um papel importante. Vimos aparecer as palavras "neurónio" e "sinapse" em jornais de grande tiragem. Mas, pelo menos em França, o reflexo dualista continua presente. Não me parece que o público, na sua totalidade, tenha ficado convencido com o nosso ponto de vista.

Somos o produto dos nossos genes e, ao mesmo tempo, a nossa personalidade depende da arquitectura dos nossos circuitos neuronais, moldados pela nossa história pessoal.

É o velho debate do inato e do adquirido que ressurge aqui?

Os genes conferem aos seres humanos traços comuns que assinalam a nossa humanidade. Mas os genomas do ratinho, do chimpanzé e do homem são muito semelhantes e, por enquanto, não sabemos realmente quais são as diferenças fundamentais que fazem com que o nosso cérebro tenha evoluído para uma maior complexidade do que os cérebros dessas outras espécies.

Para mim, de longe o factor mais importante desta evolução não linear é que o cérebro humano continua [ao contrário do que se pensava no passado] a desenvolver-se até aos 15 ou 20 anos de idade e é ao longo desse desenvolvimento que a conectividade entre as células nervosas se estabelece - para além de que pode também haver produção de novos neurónios. Assim, à base genética vem juntar-se uma profusão epigenética que participa no estabelecimento da conectividade neuronal.

No fundo, isto faz com que a problemática do que é inato e do que é adquirido esteja ultrapassada. Há, praticamente desde o início, na maneira como os genes se vão expressar para compor a arquitectura do nosso cérebro, fenómenos epigenéticos. E a consequência disso é que cada indivíduo é diferente dos outros, tanto no plano genético como, sobretudo, no plano epigenético. A vida de cada um difere da dos outros e gera-se assim uma singularidade da pessoa humana.

Mas isso deixa espaço para o livre arbítrio?

A questão do livre arbítrio é uma questão filosófica e não me sinto habilitado a falar dela. Certos filósofos, como Spinoza, negam a existência do livre arbítrio. Para Spinoza os homens pensam que são livres na medida em que ignoram as causas que os determinam.

O que penso que possuímos é o que eu chamaria um "espaço de trabalho neuronal consciente" - arquitecturas neuronais que permitem a existência da consciência, onde se produz uma espécie de globalização da visão do mundo, no qual somos capazes de simular acções sobre o mundo. Quando sou entrevistado, posso responder de várias maneiras a uma pergunta e procuro a mais adequada através de mecanismos de selecção. Quando faço isso - e não sei se para mim isso constitui uma definição da liberdade -, essas escolhas são, para dar razão a Spinoza, determinadas pela minha experiência passada, mas tenho, apesar de tudo, a possibilidade de escolha.

Acho que esta visão da consciência e da produção de estados mentais não está em contradição com os filósofos que consideram que existe uma certa liberdade nos nossos comportamentos. Mas, pessoalmente, inclino-me muito mais para a visão de Spinoza. Penso que temos a possibilidade de escolher, mas as nossas escolhas são, em última análise, determinadas pelas nossas predisposições e pela nossa vivência.

A aceitação desse ponto de vista pode traduzir-se numa maior tolerância para com os outros?

Quanto melhor for o nosso conhecimento do cérebro humano, maior será a nossa abertura em relação à espécie humana e à sua diversidade e melhor conseguiremos compreender o que torna os indivíduos diferentes, as diferenças entre as reacções dos indivíduos numa dada situação e o que cria antagonismos entre indivíduos nos grupos humanos e entre grupos humanos.

A noção de epigénese é aqui fundamental, porque há obviamente um aspecto circunstancial no facto de uma pessoa nascer numa família lusófona católica ou numa família chinesa confucionista. E o ambiente familiar, escolar e social vão fazer surgir, na nossa organização neuronal, o que eu chamo "circuitos culturais". O exemplo mais típico são os circuitos envolvidos na leitura e na escrita - que foram, aliás, bem estudados em Portugal por Alexandre Castro-Caldas, que mostrou que existiam diferenças notáveis no cérebro de pessoas iletradas em relação ao de pessoas que sabem ler e escrever.

Essas marcas culturais cerebrais, que são reais, são muito pouco reversíveis. Aprendemos uma língua em criança e, se mudarmos de ambiente linguístico, podemos aprender uma segunda língua. Mas subsiste um sotaque, que não é senão o vestígio, muito profundo, dos primeiros circuitos culturais que se formaram no nosso cérebro aquando da nossa primeira aprendizagem da língua oral.

As bases neuronais das diferenças culturais apenas são reversíveis na geração seguinte, através da educação. E é por isso que é muito importante que a educação seja laica, permitindo a cada um ter os seus sistemas linguísticos, de crenças, etc., mas, ao mesmo tempo, fazendo com que o outro apenas seja diferente de nós ao nível de uma espécie de tradição familiar ou da sua experiência pessoal. Isso torna-nos muito mais compreensivos e tolerantes, uma vez que o outro não é responsável por diferenças que foram criadas pelas circunstâncias da sua vida. Neste aspecto, acho que as neurociências reforçam a visão humanista.

A utilização de substâncias que permitem melhorar o desempenho mental, do tipo modafinil, ritalina, etc., tem-se generalizado. Acha que se trata de doping?

Quando eu era presidente do comité de ética francês, debateu-se muito a questão do doping no desporto, e não apenas no plano do desempenho muscular, mas também ao nível da motivação, das funções cerebrais. E era curioso ouvir os médicos da medicina do desporto dizer que, quando um atleta tem dificuldade em continuar o treino, ou em manter a sua performance, é legítimo fazer o necessário para que recupere o seu nível de desempenho. Isso justifica de certa maneira o doping. O comité de ética adoptou uma posição muito firme, vincando que o primeiro acto terapêutico nesses casos é fazer com que o atleta pare de tentar ir para além das suas forças. No caso da performance cerebral, é um pouco a mesma coisa. A minha posição nesta matéria é clara: ou a pessoa sofre de dificuldades reais - por exemplo, no caso de uma doença de Alzheimer ainda no início - e temos o dever de a ajudar a ultrapassar e controlar os seus problemas; ou a pessoa funciona normalmente - e o medicamento é uma droga, é doping.

Há quem pretenda utilizar as neurociências para fazer neuromarketing, influenciando as escolhas das pessoas. O que pensa disso?

É uma corrupção do conhecimento. Não é o objectivo das neurociências. É uma situação que se pode verificar e que exige uma vigilância ética, para que os avanços do conhecimento não sejam desviados do seu objectivo. O objectivo da ciência é ajudar os seres humanos a ter uma vida mais harmoniosa, mais agradável, de maior qualidade. Infelizmente, a ciência pode por vezes ser utilizada para discriminar, para controlar artificialmente os comportamentos. Nós, cientistas, temos o dever de o evitar.

Vai ser possível um dia ler o pensamento? Vamos conseguir conhecer as decisões das pessoas antes de elas as tomarem?

Sim. Já é possível identificar as intenções motoras de alguém antes de essa intenção se traduzir num gesto motor. Da mesma maneira, podemos tentar identificar "assinaturas" neuronais de conceitos particulares. É uma possibilidade que está a ser testada. Não me parece impossível identificar o tipo de representação que cada um de nós tem na sua subjectividade, por assim dizer. Também a este nível é preciso desenvolver uma reflexão ética em torno do respeito da vida privada de outrem. Só podemos fazer este tipo de experiências com o consentimento da pessoa e o problema é o de saber se será um dia possível fazer este tipo de "leitura" sem consultar a pessoa visada. Isso colocaria um grave problema ético.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

O Conhecimento Científico em Mudança


O resultado, anunciado amanhã na “Nature”, surpreendeu os seus autores (entre os quais oito portugueses)
O protão é mais pequeno do que se pensava e por enquanto ninguém sabe porquê
07.07.2010 - 18:49 Por Ana Gerschenfeld
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“Das três uma: ou a teoria está incompleta e há qualquer coisa que ela não consegue prever; ou os cálculos estão errados; ou o valor de uma das constantes mais bem conhecidas da física está errado”, diz-nos pelo telefone Joaquim Santos, da Universidade de Coimbra. A teoria de que fala é a Electrodinâmica Quântica, ou QED, um dos pilares da física, que descreve as interacções entre a luz e a matéria e é uma das mais bem sucedidas na previsão das propriedades dos átomos. Os cálculos de que fala são aqueles que, a partir dessa teoria, permitem calcular o tamanho (o raio) do protão, um dos constituintes de base dos átomos. A constante de que fala é uma constante física fundamental, chamada constante de Rydberg e cujo valor também está ligado ao tamanho do protão.

A teoria e a experiência não batem certo (CREMA collaboration/PSI)

Por que é que uma destas três coisas poderá ter um problema? Porque uma equipa internacional de cientistas, entre os quais a de Joaquim Santos (onde se incluem também investigadores da Universidade de Aveiro) publica hoje na revista “Nature” um resultado que mostra que o protão poderá ser mais pequeno do que se pensava.

Hoje em dia, o raio do protão é conhecido com uma precisão de apenas um por cento, principalmente através da espectroscopia feita ao átomo de hidrogénio (que não é senão um protão com um electrão à volta). E o que os 32 investigadores da equipa – do Instituto Max Planck, na Alemanha; do Instituto Paul Scherrer e do ETH Zurique, ambos na Suíça; do Laboratório Kastler Brossel em Paris; dos EUA e de Taiwan; e de Coimbra e Aveiro – pretendiam era aumentar essa precisão de um por cento para um por mil, acrescentando mais uma casa decimal ao valor oficial em vigor, que é de 0,8768 femtometros (milésimos de bilionésimo de metro). “Precisávamos de melhorar a precisão porque [as previsões] da teoria QED estão limitadas pela precisão do raio do protão”, explica Joaquim Santos. Só que, quando o mediram, o valor que obtiveram estava vários pontos percentuais abaixo do previsto. O novo valor, obtido através de um dispositivo experimental novo e muito sofisticado, é de 0,84184 femtometros – ou seja, cerca de quatro por cento mais pequeno.



O resultado foi obtido há um ano – a 5 de Julho de 2009 – mas demorou este tempo todo a confirmar. O sucesso da experiência, na mira dos especialistas desde os anos 1970, deveu-se a vários factores. Passou pela capacidade de produzir uma forma “exótica” de hidrogénio – um hidrogénio onde o electrão é substituído por um muão (uma partícula muito instável de igual carga mas 200 vezes mais pesada que o electrão, que torna as medições mais precisas). Hoje, tornou-se possível produzir hidrogénio muónico com um tempo de vida de quase um microssegundo, um período de tempo suficiente para o bombardear com impulsos laser de alta potência. O sucesso passou aliás também pelo desenvolvimento de lasers ultra-rápidos e pela melhoria dos detectores de raios-X emitidos pelos muões – da responsabilidade da equipa portuguesa. A experiência foi realizada no Instituto Paul Scherrer, “que tem o feixe de muões mais potente do mundo”, diz ainda Joaquim Santos. E os sistemas de lasers foram desenvolvidos pelas equipas francesa e alemã.

Mas apesar disso, o dispositivo não funcionou à primeira. “Em 2003, 2005 e 2007, não conseguimos”, prossegue o investigador. Pensaram que o problema vinha dos lasers, mas estavam enganados: “Estávamos a olhar para o sítio errado.” Por outras palavras, estavam a sintonizar os lasers nas frequências erradas – como um operador de rádio que não ouve nada porque se enganou na frequência de transmissão. Por isso, em 2009, varreram várias frequências – e ai sim, detectaram o sinal que procuravam há dez anos.

Próximas etapas: fazer o mesmo com deutério muónico (o deutério é uma forma de hidrogénio cujo núcleo inclui um neutrão) e com hélio muónico (dois protões e dois electrões, para além de neutrões).

O que acontecerá se os cálculos, que os teóricos vão agora ter de rever, estiverem certos? Se for o caso de a teoria estar incompleta, isso poderá dar lugar “a uma nova física, a novos conhecimentos”, responde Joaquim Santos. “Se a teoria estiver incompleta, significará que pensávamos que sabíamos tudo e chegámos à conclusão de que há qualquer coisa que ainda não sabemos.”

domingo, 4 de julho de 2010

A justiça enquanto aplicação política do pensamento ético - os direitos de 1.ª, 2.ª e 3.ª geração

Os direitos de 1.ª, 2.ª e 3.ª geração numa sociedade e sistema democrático.

A política traduz no direito positivo valores que a nossa civilização/sociedade considera como essencias. O que é considerado essencial nem sempre é objecto de acordo e não é hoje o mesmo que há duzentos anos. Assim, a evolução do direito como manifestação política do pensamento humano sobre valores e sistemas de organização política traduz a evolução do pensamento filosófico, ético e político, suportando-se igualmente nos desenvolvimentos científicos, técnicos, económicos das sociedades.

Apesar de haver variação política e filosófica podemos encontrar uma preocupação política comum nas sociedades com sistemas democráticos: como legislar e governar de forma a garantir o bem estar de cada homem, hoje e no futuro?


Os direitos de 1.ª geração, direitos civis e políticos, consubstancializam-se no direito à livre expressão, à associação, à propriedade, ao exercício político, etc. Os valores subjacentes a todos eles são o da cidadania e liberdade individual, bem como a igualdade de todos a esses direitos e valores. Estes direitos e valores são garantidos pelo que designa como estado liberal ou democracia liberal .

Mas este estado evolui para o que se designa como estado social (séc. XX, sobretudo no pós-2.ª guerra mundial) na medida em que se constatou politicamente que para garantir a igualdade de oportunidades, o direito ao exercício pleno da cidadania e o direito à dignidade humana, não bastava a garantia formal de direitos, mas era necessário estabelecer direitos sociais, económicos e culturais (direitos de 2.ª geração), que promovessem junto dos mais desfavorecidos em riqueza e capacidades o desenvolvimento de condições para o harmonioso desenvolvimento de cada um. Desta forma estariam, por exemplo, garantidos os direitos à saúde, à educação, ao subsídio de desemprego, aos bens culturais como teatros, cinemas, bibliotecas.
Os direitos de 2.ª geração visam estabelecer, também, uma sociedade justa, desenvolvendo a justiça social. Este conceito tem variações no interior do sistema democrático, consoante as ideologias e princípios políticos de cada partido político. Também têm variações as formas como se concretiza o estado social, se deve ser mais providente ou menos, se os seus serviços devem ou não ser fornecidos pelo estado ou pela sociedade civil.

O estado liberal ou estado social é antes de mais um estado de direito. Isto significa que o estado além de garantir a igualdade de todos perante a lei e o direito à participação cívica e politica dos cidadãos, é um estado que se submete ao direito. Esta é uma característica, juntamente com a separação de poderes (legislativo, executivo e judicial), dos sistemas políticos democráticos.

Os direitos de 3.ª geração emergem em função da globalização das preocupações - e procuram dar resposta aos problemas mundiais como é o caso actual do aquecimento global.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Será que tudo pode ser vivido em público?

Rita Novo
11.º A

Em linhas gerais, pensa-se que a vida pública é a vida de cada pessoa com as que a rodeiam e a privada é a de cada indivíduo consigo mesmo. Ora, estas definições não são as mais correctas. Em ambas as formas de vida existe uma relação consigo próprio e com os outros, porque não podemos prescindir da sociedade. Não é por estarmos sozinhos dentro da nossa casa que escapamos à vida na sociedade.
Então, uma vez que não se pode distinguir estas duas formas de vida pela relação com os outros, deve-se articular a resposta a esta pergunta a vários outros níveis.
Num plano mais geral, depende do modo como se apresenta a relação com os outros.
Na vida pública o que está em causa é a pessoa enquanto membro de uma colectividade independente e soberana - o Estado. Cada membro da sociedade é cidadão e, como tal, tem também uma vida política porque intervém não só na altura das eleições mas também porque faz conhecer as suas opiniões noutras circunstâncias; mas, além disso, entre o Estado e o cidadão existe um número importante de entidades políticas que têm uma autonomia parcial, precisamente a autonomia que lhes confere o Estado: em Portugal trata-se de municípios, conselhos, distritos, entre outros.
É precisamente a este nível que se desenrola a vida pública dos cidadãos e, do mesmo modo, a organização do Estado faz com que este tenha instituído instâncias públicas como tribunais, escolas e hospitais pelas quais se responsabiliza.
Assim, a vida pública centra-se mais na qualidade de cidadão, contrariamente à privada que diz respeito à vida individual da pessoa assim como às relações sociais que ela tem com os seus próximos e com os grupos aos quais se associa. No privado, o Estado não se intromete respeitando a autonomia de cada um.
Contudo, geralmente, não se fala da vida pública mas sim daquilo que se faz em público ou em privado. Os termos de público e de privado adoptam um significado diferente conforme o contexto no qual aparecem, mas o sentido primordial provém da diferença entre a vida do ser humano enquanto cidadão membro de uma colectividade autónoma e a sua vida enquanto pessoa individual tendo relações com outras pessoas particulares.
Assim, a minha questão inicial pode ter vários sentidos porque a expressão “em público” tanto pode significar o exercício político da vida como cidadão, como significar um conjunto de actividades no meio de pessoas desconhecidas, como por exemplo, na rua. Deste modo, pode tratar-se de actividades em ambientes destinados ao exercício de uma função pública, como na praia, ou ainda em ambientes privados nos quais uma multiplicidade de pessoas convive, como no balneário de uma piscina.
Concluindo, cada actividade tem um lugar próprio para se realizar; isto é, tem não só um contexto espacial e temporal específico mas também um enquadramento social particular que pode ser público ou privado.

Como potenciar a participação dos cidadãos na vida pública


Sara Judite Ferreira Felizardo

11ºB - 21

Que princípios devem orientar a organização da sociedade de forma a potenciar a participação dos cidadãos na vida pública, ou seja, a pratica do exercício da cidadania?
Ao longo da História e da evolução da humanidade confirma-se que os homens procuram um ideal, tal como na busca pelo ideal de beleza feminino, também desejamos ter uma sociedade definida por cidadãos activos, responsáveis e com capacidade argumentativa capazes de assumir uma posição e assim, dar existência a um espaço público ideal. E, como hoje nada é garantido, temos de fazer sempre algo para estimular o exercício da cidadania para atingirmos um regime político equilibrado que é a democracia.
As realidades do passado, como a ditadura vivida em Portugal em que maior parte das pessoas são chamadas de súbditos não havendo eleições democráticas, nem mais de um partido político, nem a liberdade de expressão produziram hoje possibilidades aos cidadãos de se manifestarem e questionarem o espaço de decisão com debates de matérias de interesse público com instrução e princípios éticos como: a solidariedade, verdade e tolerância.
Perante isto, a cidadania destina-se a um ideal normativo (a que as sociedades devem obedecer) de pertencer e participar numa comunidade política e ser cidadão será ser reconhecido como um membro igual da sociedade e claramente com o direito de participar no processo político, o que corrobora de um ideal distintamente democrático. Estas noções instauradas no séc.XIX surgem após a valorização do espaço público. Eu, por exemplo ainda não sou designada por tal nome, pois não tenho direito de participar no processo político como o direito de votar. Será que todos nós poderemos abordar todos os temas que possam ser argumentáveis? Será que os que pertencem às minorias étnicas, religiosas e culturais serão ouvidos com a devida atenção?
“Sendo seres dotados de razão, somos capazes de pensar por nós próprios e elaborar ideias que podem ser dialogadas no seio da nossa sociedade.”
De acordo com a questão proposta, a construção ou reconstrução da cidadania e, consequentemente da solidez dos regimes democráticos depende fortemente das atitudes e qualidades dos seus cidadãos: a sua forma de encarar potencias rivais de identidades, o desejo de participar no processo político com vista a promover o bem público e mostrar autodomínio e pessoalmente responsáveis economicamente; e como virtude entende-se como boa qualidade de carácter que determina como as pessoas agem e tornam a vida em sociedade melhor como virtudes gerais, sociais, económicas e políticas que são necessárias em qualquer regime político mas na democracia exige-se aos seus cidadãos a capacidade de avaliar a actuação dos seus governantes que implica questionar a sua autoridade e não aceitar as suas decisões passivamente e a boa vontade para se entregar à discussão pública que inclui que num debate ganhem as ideias e propostas mais razoáveis como um ponto de partida para uma política de persuasão racional senão, em contrapartida os governantes manipulam facilmente os cidadãos e as decisões serão tomadas por quem tem mais poder.
“É graças à liberdade de expressão que existem ideias diferentes que geram debates acesos, cuja única arma possível de ser utilizada é a argumentação.” (…)”E são essas ideias que são necessárias para a construção de uma sociedade melhor, já que quando pensamos numa esfera pública pensamos (em princípio), no que é melhor para todos.”
Na minha opinião, a cidadania é mais do que indispensável da democracia, são logicamente necessárias e por isso, devemos potenciar da melhor maneira a participação dos cidadãos. É como se a cidadania tivesse uma solução para a relação entre Estado e cidadão e o que defende um regime político democrático, se nos encontrássemos num domínio científico diria que a cidadania é o paradigma da democracia que contém o seu poder no povo, nos cidadãos que podem assumir de forma activa a prática desta que passa pelas convicções ou valores que cede à democracia, pela liberdade de opinião e no respeito pela dignidade das pessoas referente à tolerância e ao dialogo e a igualdade de direito de discutir as decisões que favorecem a participação e argumentação de todos nas deliberações e na posterior escolha determinada pelo homem que têm de ser necessariamente tomadas. Não apenas na esfera estritamente política, o direito e o dever de votar!
“Já que somos animais políticos não seríamos indivíduos realizados sem o espaço público.”
A época da Pós-Modernidade, a existência de várias culturas e, por sua vez, múltiplas verdades chegando a cada pessoa possuir uma verdade em que tudo é argumentável poderá ter desagregado os homens enquanto sociedade e comunidade política havendo hoje pontos de ligação, ou seja, relações entre culturas evidenciado maioritariamente pelo desporto.
Porém, ainda teremos que responder ao problema da questão inicial e finalmente, vou apresentar algumas teorias com perspectivas muito diferentes.
Teoria do Republicanismo Aristotélico – Teoria em que é defendida que o cidadão deve participar na vida pública, pois acredita que só aí se sentirá realizado enquanto ser humano. Estas ideias inspiradas na cidadania por Aristóteles, também chamada de “humanismo cívico” em que o exercício da cidadania é a condição de possibilidade da sua própria realização total, segundo as quais a vida pública tinha valor intrínseco (valor por si: algo que é bom em si), ao contrário da vida privada que era totalmente destituída de valor. A principal crítica é que esta teoria se encontra desajustada face à actualidade, esta mudança história inclui a ascensão do amor romântico, da maior prosperidade, do trabalho e “uma antipatia cada vez maior à guerra (que os gregos admiravam)”, e hoje em dia a vida pública tem um valor meramente instrumental (é um meio adequado para algo que tem valor em si), porque é necessário promover outros valores como a solidez da democracia. Uma outra crítica será que não conhecemos nada sobre a vida das pessoas comuns da antiga Grécia e pode acontecer que os filósofos não se dedicavam tanto pela vida privada como a sua vida à filosofia e exigiam das pessoas comuns a valorização da vida pública que eles partilhavam o que poderia ser inaceitável para maior parte das pessoas como hoje em que a teoria parece-me ser inaplicável.
Teoria dos direitos – Esta teoria é baseada em ‘oferecer’ direitos aos cidadãos e, segundo esta bastar dar aos cidadãos toda esta gama de direitos que será a melhor maneira de estimular os cidadãos a participarem activamente na vida política da sua sociedade, em particular direitos sociais como a educação, cuidados médicos, reforma e fundo de desemprego com o fim de dar a todos os cidadãos uma vida condigna, independentemente do poder económico. Mas em consequência de tudo isto, as pessoas tem hoje conforto, tempo e o dinheiro e dão cada vez mais importância à sua vida privada e desprezam a vida pública o que constitui uma cidadania passiva a que a gama de direitos deu lugar. E como lhes são concedidos direitos sem exigir nada em troca, ou seja, o cidadão não se sente no dever de praticar a cidadania que respondam aos direitos que lhe foram concedidos deixa isso entregue aos governantes.
Teoria conservadora – Por sua vez, os conservadores exigem deveres sociais básicos que correspondam aos seus direitos como nesta caso, a sua independência económica, a capacidade autónoma e responsável para ganhar a vida e não depender do fundo de desemprego. Assim, o cidadão tem de compreender como funcionam os mercados e saber orientar-se por si o que implica a sua participação sobre a vida pública. Esta teoria defende que são os mercados, com as suas regras que estimulam o exercício da cidadania.
Contudo, uma coisa não implica a outra, a autonomia económica não implica a cidadania, tal como a palavra autonomia diz, o cidadão tende a preocupar-se exclusivamente do seu bem-estar económico, mais uma vez da vida privada. Mas uma crítica que oferecerá mais ‘resistência’ será o facto de se dar extrema importância à vida económica que promove comportamentos no seres humanos incompatíveis com as virtudes cívicas atendendo unicamente aos seus próprios interesses económicos e quando há conflitos de interesses quem terá mais poder acabará por obter melhores resultados ao contrário do que seria racionalmente justo e melhor para a sociedade. Por fim, este tipo de comportamentos só lesam a sociedade, não ajudam na prática da virtude da imparcialidade e da argumentação honesta mas sim o aproveitamento de vantagens para seu próprio benefício.
Teoria da sociedade civil – Esta teoria defende como meio para estimular a cidadania as organizações voluntárias da sociedade civil, como as igrejas, as associações étnicas, os grupos ecologistas, as organizações de caridade, etc.
Cada associação civil corresponde a um modelo da sociedade em que os cidadãos aprendem a cultivar as virtudes fundamentais e necessárias ao exercício da cidadania: teremos de saber trabalhar em conjunto com outros, discutir ideias, determinar cursos de acção e fazer escolhas alternativas sendo por isso chamada de «escola cívica». Porém, por vezes as diferentes associações cultivam diferentes atitudes que nem sempre são compatíveis com as virtudes necessárias à cidadania como por exemplo o princípio NIMBY que consiste numa expressão inglesa ‘not in my back yard’: «No meu quintal não.», em que determinada estrutura tem de ser construída para bem da comunidade como por exemplo uma prisão e o tipo de atitude das associações será unicamente de recusa e impossibilitar uma discussão que inclui a capacidade para avaliar uma situação com imparcialidade que é uma virtude fundamental da cidadania, pensando no bem geral e não apenas no seu próprio bem-estar. Tratando-se apenas de não as querer perto da ‘nossa casa’ e não de argumentar que não será necessária mas será evidente quem têm de ficar perto da ‘casa’ de alguém.
Teoria da virtude liberal – Esta última teoria defende que a escola é o lugar para cultivar as virtudes fundamentais da cidadania, nomeadamente a atitude crítica perante as autoridades/ governantes e a imparcialidade racional que permitem as discussões racionais de ideias.
No entanto, o sistema de ensino nem sempre promove a atitude crítica perante as autoridades, neste caso, o professor e o manual que não são colocados em causa e os estudantes habituam-se unicamente a compreender ou a decorar o que lhes é ensinado. Por isso, acho que a disciplina de filosofia é tão importante visto que, desenvolve a nossa capacidade crítica e adquirimos instrução. Todavia, este sentido crítico poderá por em causa o respeito absoluto das tradições religiosas, sociais e culturais. Como por exemplo, se um estudante cristão entra numa escola liberal onde todas as ideias são criticadas abertamente, é muito provável que se comece a questionar (o que pessoalmente eu não acho errado, pois só assim fará a melhor opção para si) e entre em conflito com a comunidade religiosa e assim, aplicar o sentido crítico adquirido na escola a outros aspectos da sua vida. E, como nós todos temos diferentes interesses, não se segue que os estudantes tenham qualquer interesse em intervir na vida pública e assim, não aplicam à vida pública a discussão crítica cultivada na escola.
O que na minha vida e na minha forma de pensar não faz nenhum sentido pois, se estou a cultivar a minha atitude crítica aprendendo a discutir ideias e novas perspectivas e a aprender a importância da imparcialidade, faz todo o sentido aplicar à minha futura vida pública. Na minha perspectiva, é como desperdiçar água potável enquanto em outros locais do mundo à falta dela.
Perante todas estas teorias verificamos que é mais fácil criticar do que construir uma sociedade com determinados princípios que potenciem o exercício da cidadania mas, por outro lado será assim que nos vamos aproximar da verdade e da construção de um regime democrático sólido. Nenhuma destas teorias apresenta condições necessárias e suficientes para a prática do exercício da cidadania à excepção da teoria da virtude liberal que para além de estimular os cidadãos à prática da cidadania, cultiva as virtudes fundamentais desta que permite discussões racionais apesar de serem rejeitadas por muitas comunidades. Embora sejam apresentadas críticas à Teoria da sociedade civil como os cidadãos não serem auto-suficientes (têm de ser membros de algo para adquirem competência política), eu considero que seja a mais plausível e nos últimos tempos tem vindo a ganhar força e abrange grupos em harmonia ou em conflito e pressiona em direcção a determinadas opções políticas produzindo estruturas como as organizações que favorecem a cidadania em que cidadãos previamente passivos como se transfiguram em cidadãos activos e interventivos. “Para um governo democrático, é muito perigoso que um estado ocupe todo o espaço disponível e não haja associações alternativas, espaço social protegido no qual as pessoas possam encontrar alívio da política, sarar feridas, confortar-se e ganhar forças para novos embates.”
O que seria de nós sem uma Sociedade Civil forte ‘que incluem também uma imensa diversidade de grupos que defendem posições fortes relativamente a uma questão específica sobre o aborto, a venda de armas, a prática de preces nas escolas, a pena de morte, etc.’?
Para mim, a cidadania é a formula que ainda responde melhor ao desafio de “vivermos juntos”.

Espaço Publico e Espaço Privado: Limites e vantagens dos Media

Sara Gamelas
11.º A

O ser Humano é um ser social em que essa sociabilidade está presente desde o momento que se nasce até que morre. A sociedade que acolhe o Homem tem uma cultura própria que nos transmite um modo específico de pensar, sentir e agir. Assim como na família existem pontos de vista diferentes e regras impostas pela autoridade dos pais, também na sociedade nos deparamos com regras e normas com intuito de garantir o bem de todos. Para tal, são definidos não apenas os direitos de cada um, como também os deveres, ou seja, o que podemos receber e o que temos que dar à sociedade. Só com regras, normas e leis é que se torna possível formar uma sociedade organizada e estável que promova o bem colectivo.
O Homem integrado na sociedade é por natureza como citava Aristóteles, um “animal político”. Isto significa, a forma como devemos reflectir acerca da nossa situação social, como nos organizamos dentro de um espaço comum na qual devemos ser práticos ao longo da vida enquanto cidadãos. Ser cidadão significa aquele que habita na cidade em que usufrui de direitos civis e políticos incutidos nela. Na democracia ateniense antiga, o cidadão era considerado um homem livre com capacidade de se auto governar, de participar nas decisões públicas da sociedade com o objectivo de determinar as suas obrigações naturais ligadas á sua subsistência e á da sua família. Deste modo os filósofos identificaram a existência de duas esferas na vida do Homem, privada e pública.
Espaço público e privado são dois conceitos utilizados de forma distinta de que os antigos usavam. Enquanto ser livre e dotado de consciência moral, com a capacidade de decidir e de liberar responsavelmente a sua individualidade, isto é, espaço privado. No entanto, cada vez que o indivíduo age de forma a interferir no seio da colectividade remete-nos para o espaço público. Assim, no espaço privado o individualismo procura o melhor para si, visto este ser onde efectuamos a nossa introspecção pessoal sem o intuito de o publicitar pois somente se reflecte acerca das ideias de forma a alimentar o espaço publico, enquanto que neste o Homem procura o bem para todos pois potencia a reflexão privada publicitando-a e tornando-a comum. Neste contexto predomina a liberdade de expressão de forma a deliberar, discutir, dando-lhe sentido tornando possível o nascimento do político. Assim o espaço público sobrepõe-se ao privado pelo facto de permitir ao Homem a realização da sua natureza política.
Estes dois conceitos de espaço permitiram ao Homem reflectir no sentido ético-politico. O conceito de ética não é de todo inseparável da política visto a ética se designar pela arte de escolher o que mais convém ao Homem com o objectivo de viver o melhor possível. Por sua vez, a política organiza a convivência social de forma a que cada individuo escolha o que mais beneficie. Contudo há diferenças importantes de salientar pois a ética ocupa-se do que a própria pessoa faz com a sua liberdade e a politica tenta determinar a forma mais conveniente de pôr em prática a liberdade.
A liberdade Humana pode ser influenciada por os media. Estes caracterizam-se por toda a comunicação jornalística sendo a informação que entra diariamente em nossas casas. As suas principais virtudes são a argumentação e a persuasão pois o domínio da comunicação visa persuadir o auditório de modo a utilizar uma linguagem o mais simples possível para ser entendido por qualquer indivíduo, ou seja, permite a adequação da informação ao público mais singular. No entanto, há também limites, manipulam e seduzem de forma a convencer o auditório de que a informação transmitida é a mais correcta e a mais benéfica (Exemplo: Relógio usado por uma figura pública transmite ao auditório que este é o melhor a ser utilizado). Porém, a informação que nos é transmitida não permite qualquer tipo de reciprocidade, ou seja, é – nos difícil aceder ou confrontar os media com a veracidade da informação disponível. Devido a essa dificuldade o auditório interpreta a informação como sendo verdadeira, isto significa que o auditório vive na ilusão, pois como sabemos nem toda a informação que nos é dada é justificada.
Este facto verifica-se, por exemplo, na teoria de K. Popper, o falsificacionismo que nos transmite que a partir da análise de fenómenos lógicos do processo indutivo concluímos que por maior que seja o número de observações particulares não há justificação racional para a sua generalização a todos os casos. Deste modo o grande objectivo deste modelo é de refutar as teorias e eliminar progressivamente os erros. Consequentemente as teorias que resistirem às tentativas da falsificação são consideradas teorias corroboradas e aceites provisoriamente.
Em suma, os media são portadores de privatização, obedecem a leis de mercado de oferta, ou seja, toda a informação reverte-se para a necessidade dos indivíduos e não do espaço público, pois temos como consequência o privilégio de satisfazer os interesses particulares de cada um, ou até mesmo do próprio jornal. Isto significa que os media visam satisfazer e enriquecer o intelecto de cada um. Contudo estes interferem na reflexão pessoal e possivelmente na decisão individual.
No meu ponto de vista os media têm um papel imprescindível no espaço público no sentido da transmissão da informação que possibilita o aumento do nosso conhecimento. No entanto, a maneira que nos transmitem a informação nem sempre é o mais correcto pois preocupam-se com a linguagem utilizada simplesmente com o intuito de despertar interesse, desejo ou emoção ao leitor