segunda-feira, 6 de julho de 2009

Os media como força orientadora da sociedade e a legitimidade da sua comercialização

Ricardo Costa

Os media representam um elo de ligação entre várias áreas do espaço público. A sua função de transmissores de informação é, na sociedade actual, indispensável ao bom funcionamento de um país ou de uma determinada população; é impossível imaginar uma sociedade no século XXI em que o trânsito de informação com que contamos e do qual dependemos não exista, sem concluir fácil e irremediavelmente que o isolamento que daí adviria a conduziria ao declínio e destruição.
Desta forma é possível compreender a importância dos media na sociedade em que vivemos. No entanto, apesar de imprescindíveis, estes órgãos de comunicação estão muito longe da perfeição e os problemas da sua configuração no mundo começam a tornar-se mais óbvios com a emergência de outras fontes de informação, como a internet, e o aumento da consciência social das populações.
O maior desses problemas, a meu ver, advém exactamente do lugar de destaque que ocupam na percepção que muitos têm da realidade e na modelação da opinião pública geral. A liberdade de expressão e a privatização dos meios de comunicação, tão (justificadamente) aclamadas, trouxeram consigo uma completa remodelação, não só dos jornais e estações de televisão, mas também da forma como estes eram vistos pelo povo. Subitamente, a informação deixou de ser controlada pelo estado, e coube aos jornalistas e editores decidir o que devia e merecia ser transmitido; e enquanto que na sua maioria estas liberdades e mudanças foram aproveitadas de forma benéfica, há casos em que tal não se verifica.
Isto leva-me ao assunto que tenciono aqui discutir: será a função dos media na sociedade actual somente a de portadores e transmissores de informação?
Tomemos em consideração alguns factos: qualquer jornal ou estação televisiva é, com poucas excepções, uma entidade com fins lucrativos; sabemos também que os jornalistas, tal como os editores e quaisquer outros trabalhador de uma tal entidade, não são imparciais, pois tal é impossível dada a natureza humana; é também compreensível que há uma necessidade de filtragem e selecção da informação antes da sua transmissão.
Focando os piores casos, é possível – e até provável – que em determinadas situações o jornalista ou editor de um qualquer órgão de comunicação social, ao realizar a selecção das notícias sobre as quais incidirá a sua atenção, o faça com critérios deturpados, seja pelo ponto de vista do indivíduo em questão ou por motivos puramente económicos. Chega-se assim, e usando os tablóides como referência, à origem de notícias com importância cultural, política e social reduzida e à sua frequente predominância sobre outras, muitas vezes mais importantes, informações. Isto levanta o problema do surgimento deste tipo de notícias e da manutenção do interesse nelas, e enquanto não posso fazer juízos acerca de quem terá culpa do início desse fenómeno, parece-me óbvio o esforço dessa fracção dos media para manter e acentuar o que se me apresenta como uma clara adulteração das prioridades sociais e culturais de um povo. Por outro lado, e de forma mais grave, apresenta-se a possibilidade muito real da manipulação da informação. Seja involuntariamente por um simples lapso ou incorrecção, ou voluntariamente por conveniência, arrogância ou ganância, isto é algo que tem tido grande destaque hoje em dia, especialmente no mundo político, com declarações a serem distorcidas e manipuladas para favorecer os objectivos de alguns em detrimento de outros. Dessa forma torna-se óbvio a capacidade desses órgãos de comunicação de alterar e direccionar a opinião pública de formas negativas.
Apresenta-se-nos a solução parcial da conversão destes em entidades sem fins lucrativos, que possivelmente resolveria o problema da selecção de informação por motivos económicos, mas o problema da parcialidade e manipulação da informação permanece, de momento, insolúvel.